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Silêncio, escutemos o teatro

Escrito por
Miguel Branco
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As Vozes do Bairro devolvem a tradição do teatro radiofónico à cena. Ciclo dirigido por Teresa Sobral, que conhece o seu primeiro capítulo este sábado, no Teatro da Trindade, com José Raposo como Sr. Valéry 

Duas mesas de madeira, frente a frente, suportam todo o género de bugiganga. De um metalofone a uma chaleira retro (que não fosse isto ser um ensaio de imprensa e talvez considerássemos levar para casa). À frente, uma caixa de gravilha e outra de calçada portuguesa, rodeada de sapatos de diferentes formas. No fundo, estamos perante uma oficina, só que os mecânicos de serviço (Miguel Sobral Curado e Teresa Sobral) não estão aqui para mudar o óleo a coisa nenhuma. 

Se tudo o que existe tem um som – e nós estamos quase certos que isto é facto – cá estão eles para o tornar o mais parecido possível com o original. Estamos no campo do teatro radiofónico, mais precisamente em As Vozes do Bairro, projecto dirigido por Teresa Sobral que recupera essa tradição quase perdida. 

A partir de O Bairro (de Gonçalo M. Tavares), e com sonoplastia de Miguel Sobral Curado, dá-se este sábado o primeiro capítulo de As Vozes do Bairro, com José Raposo na pele de Sr. Valéry, às 16.00 e às 18.00. Seguem-se Filipe Duarte como Sr. Henri a 13 de Abril, Miguel Loureiro enquanto Sr. Brecht a 10 de Junho, Álvaro Correia faz de Sr. Calvino a 15 de Julho, Bruno Nogueira de Sr. Breton a 30 de Setembro e André Gago de Sr. Eliot a 21 de Outubro. Tudo no Teatro da Trindade INATEL. 

José Raposo é a voz que dá o ritmo aos mecânicos de serviço. Destacado da tal oficina, com um banco alto e um microfone antigo, com tamanho suficiente para ferir um elefante de médio porte, a destreza do actor a ler a obra de M. Tavares é caruma para os seus companheiros de palco, é melhor correrem, para não chegarem tarde ao objecto que dá som àquela parte específica do texto. “É muito mais complicado do que pensas quando começas a executar, ou seja, muitas vezes os sons reais não funcionam, tens que mascarar. Por exemplo, há uma altura em que o Sr. Valéry fala da capa de plástico do livro, não podes pegar em nenhuma dessas porque isso soa a papel, não soa a capa. Mas também não podia utilizar um saco de plástico, porque soa a chuva. Acabas por meter as mãos em tudo”, esclarece Teresa Sobral.

As Vozes do Bairro é como ler um livro com banda sonora própria e sem forçar tanto os olhos. E se isto para nós é diversão de meia-noite (ainda que o horário seja outro) imaginemos para os actores. “O José Raposo parece uma criança, está sempre a dizer a toda a gente que se está a divertir lindamente. Há, de facto, um lado de desenho animado, infantil, que me agrada muito. E todo o ser humano gosta de brincar, não podemos permitir que este mundo veloz nos retire a capacidade de brincar”, conclui Teresa Sobral.

Teatro da Trindade INATEL, Rua Nova da Trindade, 9. 8 Abr 16.00 / 18.00. 10€.

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