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Museum of Illusion em Zabreg
©Cortesia Museum of IllusionMuseum of Illusion em Zabreg

73 coisas que fazem falta em Lisboa

Encontrámos lá fora coisas que queremos cá dentro para tornar Lisboa numa cidade ainda mais divertida

Escrito por
Luís Leal Miranda
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Não morremos de inveja das outras cidades do mundo – até há coisas que só é possível fazer em Lisboa. Mas sabemos que a capital, que é tão bonita e instagramável, pode ser ainda melhor.

Nesta lista encontra 73 dos nossos maiores desejos para a cidade – coisas que outras cidades têm e que nós também queremos (um bar inspirado na série Black Mirror? Um festival num rooftop? A sério?). Empreendedores alfacinhas ansiosos por agitar o mercado que nos lêem: eis 73 ideias que bem vos podiam servir de inspiração.

Recomendado: 20 coisas que os turistas fazem e todos os lisboetas devem experimentar 

73 coisas que fazem falta em Lisboa

Uma cidade sem sacos de plástico
©DR

1. Uma cidade sem sacos de plástico

Como Nova Iorque, que diz adeus ao plástico já no dia 1 de Março

Chegará o dia em que o saco de plástico que usamos para guardar os sacos de plástico será o nosso único saco de plástico. Até lá, é preciso reduzir. Urgentemente. Em Março é Nova Iorque a acrescentar o seu nome à lista das cidades que proibiram esta matéria ultrapoluente. A medida coloca a Big Apple junto de outras grandes urbes americanas, como Washington, Seattle, Boston e a pioneiríssima São Francisco, que disse adeus às sacas em 2007. No estado da Califórnia, praticamente todas as cidades proibiram sacos feitos a partir deste material. E em países como a Nova Zelândia ou a Arménia estes objectos estão definitivamente banidos.

A vida está difícil para o plástico, o que significa que poderá começar a ficar mais fácil para o planeta. A medida que está prestes a ser implementada em Nova Iorque prevê uma alternativa mais ecológica: sacos de papel à venda por cinco cêntimos ou sacos reutilizáveis, de maior durabilidade, disponíveis a vários preços. Em Lisboa aplica-se a lei de Fevereiro de 2015, que se estende ao resto do país e que acabou com os sacos gratuitos. Em 2023 serão proibidos os sacos de plástico para venda de pão, frutas e legumes. É melhor que nada, mas ainda é muito, muito pouco.

Um museu onde nada é o que parece
©Cortesia Museum of Illusion

2. Um museu onde nada é o que parece

Como o intrigante e espectacular Museum of Illusions.

“Ver para crer”, disse há muito tempo São Tomé. Mas este apóstolo estava a confiar demasiado na relação entre os seus olhos e o seu cérebro. Em sítios como o Museum of Illusions, o “ver” e o “crer” andam à bulha dentro da nossa cabeça. Falamos de um museu pop-up, que aparece e desaparece (mais um truque de magia?), e já passou por mais de 20 cidades pelo mundo fora. Lá dentro há todo o tipo de artimanhas para fazer a nossa massa cinzenta empalidecer mais um pouco: ilusões ópticas, salas de espelhos que nos trocam as voltas, experiências interactivas, jogos e puzzles de fazer a cabeça andar à roda. É, até ver, o mais próximo que conseguimos de cair na toca do Coelho Branco como em Alice no País das Maravilhas. Ou a experiência mais tripante que uma pessoa sóbria pode ter, por um valor mais em conta – cada entrada anda à volta dos 20€. O primeiro Museum of Illusions abriu em Zagreb há cinco anos. Desde então, o projecto tem viajado pelo resto do planeta à boleia da curiosidade de todos nós. Em Lisboa gostávamos de ter um igual e até sugerimos uma ilusão: a ilusão de que é possível alugar um T1 por menos de 900€ por mês. Só a magia pode criar uma coisa destas.

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Uma jukebox com a banda sonora da cidade
©DR

3. Uma jukebox com a banda sonora da cidade

Como aquela que a artista Susan Hiller criou para Londres.

Lisboa é “Menina e moça”, mas não só. É “A Lisboa Que Amanhece”, de Sérgio Godinho, a “Lisboa Mulata” dos Dead Combo e, é claro, a cidade protagonista do grande fado olfativo, “Cheira Bem, Cheira a Lisboa”, popularizado por Amália Rodrigues.

Todos estes temas podiam caber numa jukebox temática como a que está agora em exposição no London Mithraeum, um antigo templo romano transformado em espaço cultural na capital britânica. Trata-se de uma instalação da artista Susan Hiller, que decidiu criar uma espécie de passeio musical por Londres: são 70 faixas sobre bairros, ruas, monumentos ou momentos da cidade. Está lá a “Waterloo Sunset”, dos Kinks, e a “London Calling”, dos Clash, bem como canções mais obscuras e antigas. O objectivo de Hiller foi criar um mapa musical que mistura a cultura pop com a geografia da cidade. Os visitantes do London Mithraeum podem escolher uma faixa qualquer e ouvi-la de forma gratuita.

Numa versão lisboeta desta jukebox gostaríamos que houvesse também sons típicos da cidade, como o da gaita do amola-tesouras ou a pitoresca frase: “Este comboio não pára em Arroios”.

Um bar com minigolfe
©Eugene Hyland

4. Um bar com minigolfe

Para darmos umas tacadas um pouco tocados – como se faz no Holey Moley, em Melbourne.

Temos cada vez menos bares com mesas de snooker, máquinas de pinball e matraquilhos. Será que os empresários da noite acham que as pessoas vão aos bares só para estar umas com as outras? Imaginem a quantidade de conversas aborrecidas que se evitavam se houvesse alguma forma de entretenimento fatela, meio datada e muito divertida. Estamos a falar de minigolfe, a versão anã de um dos desportos mais elitistas do mundo. Em Melbourne, existe um bar famoso tanto pelos seus cocktails como pelos buracos que inventa, o Holey Moley. Todas as pistas contêm referências à cultura popular – e até a alguma cultura erudita – e um nível de dificuldade adaptado às circunstâncias. Isto é, uma pessoa pode continuar a jogar mesmo depois de experimentar vários cocktails. A combinação de nostalgia (o minigolfe, em Portugal, era um passatempo das zonas balneares dos anos 80 para onde acorriam as famílias quando o tempo estava mau para a praia), néons, música pop e álcool provou ser extremamente bem sucedida naquela cidade australiana. Desde a sua inauguração, em Março de 2017, já se jogaram 600.000 partidas do desporto que está para o golfe como o pónei está para os cavalos.

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Uma rave para crianças
©DR

5. Uma rave para crianças

Como as festas Big Fish Little Fish, em Londres.

As crianças são o melhor do mundo. Mas não são a coisa mais prática do mundo. Existem algumas limitações quanto à sua portabilidade e um elevadíssimo grau de exigência no que respeita à sua manutenção. Por isso, muitos pais, depois de procriarem, acabam por deixar completamente para trás o seu passado festeiro, moinante e ramboieiro. Mas graças a festas como as Big Fish Little Fish, em Londres, os pais não estão condenados a uma vida de fraldários e concertos lotados do Panda e os Caricas. São raves para crianças organizadas à tarde (depois da sesta, não esquecer a sesta!), matinés dançantes com música de dança – acid house, drum and bass, techno – e uma série de actividades para entreter os garotos que, como se sabe, não conseguem interessar-se por uma actividade mais do que 10 minutos seguidos. Há DJs a sério, com nomes de DJ a sério (exemplo: DJ Savage Animal) e uma pista de dança enfeitada com luzes, balões e confetti. Os mais novos podem ficar-se pela zona lounge, com piscinas de bolas e uma área para brincar e fazer desenhos. A entrada está limitada a crianças dos zero aos oito anos e não adianta conhecer o porteiro ou falsificar o BI. Os pequenotes devem ser sempre acompanhados pelos pais – que devem ser efectivamente adultos e não duas crianças empoleiradas uma em cima da outra com uma gabardine vestida e uns óculos escuros.

Uma cidade comestível
©DR

6. Uma cidade comestível

Como a Gingerbread City do Museu de Arquitectura, em Londres.

Imaginem poder trincar a Torre de Belém, mordiscar o Elevador de Santa Justa ou dar umas dentadas no Cristo Rei (quantos pecados mortais serão?). Tudo isso sem partir os dentes, rasgar as gengivas ou ter de suportar os olhares reprovadores de turistas e lisboetas. Tal proeza é possível na Gingerbread City, uma réplica do centro de Londres feita a partir de bolachas de gengibre. A minicidade foi erguida por mais de 100 arquitectos a pedido do Museu de Arquitectura recorrendo apenas a pedaços de contraplacado-bolacha e pasta de açúcar. Marshmallows, smarties, bombons e canas de açúcar são outros materiais utilizados para fazer edifícios icónicos como a estação de Battersea ou uma versão de Oxford Circus interdita a diabéticos. A exposição é temporária e a entrada custa aproximadamente 10 euros. Para nossa grande tristeza, não é permitido mastigar nenhum dos elementos arquitectónicos do centro de Londres. Come-se apenas com os olhos. Cá em Lisboa gostávamos de ver a Baixa toda feita na massa do bolo-rei, uma floresta de Monsanto construída a partir de filhoses e as Amoreiras criadas com coscorões.

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Um hotel-livraria
©DR

7. Um hotel-livraria

Quem é que não gosta de adormecer com um livro? No Tsutaya Book Apartment, no Japão, pode adormecer a ler, acordar a ler e ir por aí fora, sempre de livro na mão.

Existem história de adormecer. Mas não existem, infelizmente, histórias de acordar, histórias de tomar o pequeno-almoço ou histórias para tomar duche – existem, sim, livros para ler na banheira, mas mesmo essa literatura parece estar reservada ao segmento infantil. Uma pena. Os verdadeiros amantes de livros – as pessoas que já tiveram este raciocínio ou algo parecido – precisam de saber que existem sítios como o Tsutaya Book Apartment, no Japão. É uma livraria de três andares, no centro de Tóquio, que também serve de lugar de pernoita. Explicamos: no último piso existem sítios onde dormir. Não são quartos, são “sleeping booths”, uma espécie de versão imóvel das carruagens-cama dos comboios. Tudo isto faz sentido dentro do estilo de vida acelerado da capital japonesa, mas podemos adoptar a ideia e inventar umas cabines-sesta para leitores mais dados ao sono depois de almoço. A livraria inclui ainda um bar de saké, um espaço de cowork e, é claro, várias paredes e prateleiras forradas a livros. Em Lisboa não temos nenhuma infra-estrutura do género – ok, é possível dormir uma soneca clandestina numa biblioteca – mas aqui perto, em Óbidos, existe um hotel literário chamado The Literary Man. Como já diziam os nossos avós: fica mais em conta apanhar a A8 do que um avião para o Japão.

Um parque flutuante
©Cortesia Little Island

8. Um parque flutuante

Como a Little Island que vai ser erguida no meio do rio Hudson, em Nova Iorque.

O Tejo TEM as suas ilhas, os seus bancos de areia, os seus navios encalhados. Existe ainda o encantador farol do Bugio, mas nenhuma destas estruturas está à disposição dos lisboetas. Ok, há barcos, que são efectivamente ilhas que andam, mas nada mais. Inspiremo-nos pois na Little Island, em Nova Iorque: uma ilha artificial, empoleirada em 132 colunas de betão, que vai inaugurar em 2021 como parque – é um espaço verde em cima de um rio cinzento, com mais de 100 espécies de árvores diferentes. Como isto é na América, o jardim flutuante de 8000 metros quadrados é obra de um milionário generoso que a oferece à cidade: Barry Diller desembolsou 250 milhões de dólares para criar este jardim público. E não pede nada em troca, dizem. A entrada será sempre gratuita e todos os eventos que vão decorrer no anfiteatro, que será construído na Little Island, também serão grátis ou a preços muito reduzidos. Agora vamos todos pegar no que aprendemos aqui e perguntar se nenhum dos nossos milionários com dívidas à banca quer dar um jeitinho e arborizar o Bugio.

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Almoçar no Parlamento
©UK PARLIAMENT

9. Almoçar no Parlamento

Durante os próximos dois meses é possível almoçar nas Houses of Parliament, em Londres.

Vamos lá ver: em Lisboa também é possível almoçar na Assembleia da República. Para isso basta ter mais de 18 anos e reunir o número de assinaturas suficientes para uma candidatura. A seguir é preciso esperar que os portugueses votem em nós e nos concedam um lugar no Parlamento. Depois disso, e só depois disso, é que nos podemos dirigir à cantina ou a uma das duas cafetarias da casa da democracia para almoçar. Os cidadãos londrinos, por sua vez, não têm de se dar a tanto trabalho. O restaurante do Parlamento vai estar aberto a pessoas sem assento na Assembleia durante os próximos dois meses, aproveitando que as sessões estão suspensas até à eleição de Dezembro. O menu é natalício, de três pratos, feito à base de produtos da época criados e cultivados um pouco por todo o Reino Unido. O festim custa aproximadamente 50€ por pessoa ao almoço e 60€ ao jantar, um valor alto, sim, mas consideravelmente mais barato do que a média de dinheiro gasto a montar uma campanha eleitoral. Durante o resto do ano o restaurante é exclusivo para membros do Parlamento e os seus convidados. Se o serviço for demorado podem sempre fazer uma piada do tipo: “Eu pedi um bife bem passado e parece que estão lá na cozinha a preparar o Brexit”. É o chamado humor britânico.

Dormir na casa de Harry Potter
©DR

10. Dormir na casa de Harry Potter

Pode ser que assim chegue finalmente a carta de Hogwarts de que estamos à espera.

Vemos a notícia e pensamos: “As coisas devem estar muito más no mundo da magia para um feiticeiro famoso como Harry Potter ter de pôr a sua casa para alugar no Airbnb”. Mas depois respiramos fundo e lembramo-nos que ele é uma personagem de ficção e que as únicas varinhas mágicas que existem são electrodomésticos que servem para fazer sopa. O que está listado na plataforma de alojamento temporário Airbnb é a De Vere House, na vila de Lavenham, em Inglaterra. Casa que serviu de cenário no filme Harry Potter e Os Talismãs da Morte como o sítio onde Potter nasceu. Apesar de ficar numa localidade histórica e cheia de charme, a casa tem a pairar sobre si uma nuvem negra: foi ali que Voldemort matou os pais do famoso feiticeiro, dando origem a toda uma saga de vassouras voadoras e artes mágicas. No Airbnb estão dois quartos disponíveis para alugar, mas nenhum deles contém adereços do filme – são duas divisões com mobília antiga, sem quadros falantes ou psichés enfeitiçados. Se calhar não há nenhum psiché, não podemos afirmar com certeza porque, tal como 99% da população humana, não sabemos o que é um psiché. A vila medieval de Lavenham é uma das localidades históricas mais bem preservadas do Reino Unido, por isso a visita justifica-se mesmo para as pessoas que acham que o Gandalf é um Harry Potter mais velho e coisas assim. Já agora, um psiché é uma cómoda com um espelho por cima.

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Uma piscina aberta à noite
©DR

11. Uma piscina aberta à noite

Falamos de uma piscina aquecida, claro. Como a Hampton Pool, em Londres.

Nesta altura do ano é impossível apanhar banhos de luar e nadar debaixo das estrelas. Ou pelo menos fazê-lo em segurança – é verdade, o Tejo está mesmo à mão, mas um mergulho naquele lodaçal é tão desaconselhável que até a ilusão de que isso é possível devia dar multa. Em Londres a Hampton Pool está aberta – e aquecida – durante o Inverno e durante as horas de escuridão. Os eventos chamam-se Moonlight Dips (Mergulhos ao Luar) e acolhem todos os humanos arraçados de anfíbio que querem banhar-se entre as dez e a meia-noite, faça chuva ou faça neve. Há iluminações natalícias, bóias que brilham no escuro, música ambiente e aquele que é provavelmente o único nadador-salvador a arranjar trabalho numa noite de Outono. Esta excentricidade aquática funciona em Novembro e Dezembro, mas para dar um mergulho é preciso marcar lugar com bastante antecedência e pagar uma entrada de 10€. Aqui em Lisboa gostávamos de ver uma iniciativa igual, mas vamos mais longe: queremos a Fonte Luminosa aquecida e um spa ao ar livre ali na Alameda.

Arte aos quadradinhos
©DR

12. Arte aos quadradinhos

Não, não é banda desenhada. São grandes clássicos da pintura feitos com LEGO.

O mundo da arte é maravilhoso, mas tudo 
o que vemos nas galerias e museus está em
 alta definição. Se queremos saber como é que são as grandes obras-primas do Renascimento pixelizadas, temos de tirar uma fotografia com uma máquina reles e ampliar muito até as imagens se transformarem num emaranhado de quadradinhos. Uma trabalheira. Em alternativa, podemos ir a uma exposição que mostra vários clássicos da pintura recriados com peças LEGO. É o que se pode ver na exposição “The Art of
The Brick” que está agora no New York Hall of Science, em Nova Iorque. A versões de O Grito de Edvard Munch ou a interpretação quadrangular da Noite Estrelada de Vincent van Gogh são apenas algumas das várias criações de um outro artista, Nathan Sawaya. Ao todo, Sawaya, um advogado que decidiu rentabilizar a sua paixão por LEGO, já fez mais de 100 obras de arte 3D criadas a partir de pinturas e esculturas dos grandes mestres. A estas reinterpretações juntam-se outras criações originais, como um Tyrannosaurus rex gigante feito a partir de 80.000 tijolinhos de plástico. O artista reclama para si o título de maior artista LEGO do mundo, uma distinção só ao alcance de quem adora ver o mundo aos quadradinhos.

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Uma festa num palácio
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13. Uma festa num palácio

Sem ter de comprar um palácio e limpar os despojos no dia seguinte.

Em Lisboa há muito que desapareceram
os reis e princesas. Todos os palácios estão a) abandonados; b) transformados em hotéis; ou c) abandonados e prestes a serem transformados em hotéis. Por isso, ter uma festa num palácio é praticamente impossível – a não ser que seja um daqueles lisboetas com 12 apelidos, sangue azul e um tio estranho que o incluiu no testamento. Adiante. A Darling House, em Londres, recria
a experiência de uma festa excêntrica numa casa apalaçada. Uma oportunidade única
para pessoas sem títulos nobiliárquicos se comportarem como, enfim, todas as pessoas com títulos nobiliárquicos. Este bar em Waterloo está decorado como uma casa muito chique de pessoas que nunca tiveram de trabalhar e serve cocktails sofisticados. Pode-se encher a cara com muita classe numa cama de dossel num quarto elaboradamente decorado, ou sorver champanhe numa banheira de ferro fundido de uma casa de banho toda armada ao pingarelho. A Darling House está aberta ao povo – hoje em dia conhecido como “o público em geral” – mas é possível reservar divisões inteiras para festas privadas. Os preços são elevados ou, como se diz hoje em dia “pouco baratos”.


Pôr as pessoas a conversar
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14. Pôr as pessoas a conversar

Um cidadão londrino criou uns crachás que ajudam a identificar os utentes mais tagarelas dos transportes públicos.

O metropolitano, os autocarros 
e os eléctricos estão cheios de gente sorumbática, de olhos pespegados nos telemóveis ou fitando o infinito. Cada carruagem é uma massa indistinta de seres humanos silenciosos, alheados 
uns dos outros. É claro que há sempre os casais que conversam ou os amigos que se juntam a dizer mal de uma pessoa que ambos detestam. Mas todas as pessoas que se apresentam em número ímpar inferior a três (isto é, sozinhas) ficam viagens inteiras apenas na companhia de si próprias. Para combater esta solidão acompanhada, o inglês Chris Zair
criou uns crachás com a frase “happy
 to talk” – em português: “Contente 
por conversar”. Estas circunferências assinalam a abertura de um viajante para uma conversa espontânea. A ideia surgiu a Chris depois de vários diálogos surpreendentemente edificantes com desconhecidos no metropolitano. Se ele conseguiu ter boas conversas, quantas mais pessoas estariam dispostas a partilhar a sua vida com desconhecidos? Os crachás podem ser encomendados pela internet e usam-se na lapela. Os faladores bem identificados podem então cruzar-se uns com os outros e começar a trocar palavras, sem receio de estar a interromper alguém.

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Um museu do heavy metal
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15. Um museu do heavy metal

Em Birmingham celebra-se este género musical com exposições de peso.

O Heavy Metal é um dos subgéneros da música rock mais populares de sempre. Pelos liceus de todo o mundo é sempre possível encontrar pelo menos um metaleiro. E tem sido assim ao longo das últimas quatro décadas. As modas passam, mas o metal fica. É um material resistente. Por isso faz sentido que haja uma exposição que celebre o legado da música para sempre associada a homens de cabelo comprido em casacos de ganga. Em Birmingham, cidade inglesa que deu ao mundo os Black Sabbath, Judas Priest e Napalm Death, há um conjunto de eventos e exposições dedicados à música mais pesada de todas. Numa galeria no centro da cidade, artistas como David Shrigley, Sarah Lucas e Mark Titchner recriaram ao pormenor quartos de fãs deste tipo de música – as paredes forradas a posters de bandas, o negrume encenado, os cortinados pretos. E o centro de artes local expõe uma série de mantas feitas a partir de velhas t-shirts de bandas. Aconchegante, não é? O ponto alto é a exposição dedicada aos Black Sabbath, pioneiros do género. Mas durante as próximas semanas haverá conferências, debates e, é claro, música ao vivo. Ao contrário do que todos estávamos à espera não está programada nenhuma mesa redonda subordinada ao tema “Amaciadores e os Seus Efeitos no Couro Cabeludo Masculino 1968-2019”. É pena.

Um portal para outra dimensão
©DR

16. Um portal para outra dimensão

Adoramos o planeta Terra mas
 às vezes gostávamos de poder conhecer as alternativas. A instalação ZeroSpace, em Nova Iorque, deixa-nos espreitar outros mundos.

É uma coisa que está na moda nas grandes cidades europeias e americanas: exposições imersivas, que exploram
a nossa necessidade de sair de casa
e os nossos espíritos sedentos de novidades. Algumas não contêm arte ou uma colecção de objectos de interesse público. São apenas instalações para espicaçar alguns dos nossos cinco sentidos. É fogo de artifício fixo, são carrosséis sensoriais ou, usando uma palavra feia que toda a gente usa indiscriminadamente, “experiências”. O ZeroSpace, em Nova Iorque, enquadra- se neste tipo muito particular de exposição. Não há arte ou artista, mas sim salas atrás de salas de cenografia: projecções, lasers, videomapping e outras artimanhas visuais que nos transportam para outra dimensão. A organização chama-lhe “um Alice no País das Maravilhas com lasers” e em vez de seguirmos um Coelho Branco, seguimos agentes especiais de uma agência supersecreta à procura de extraterrestres. No final, vai tudo para os copos num bar futurista. A viagem dura pouco mais de uma hora e custa perto de 50 euros. Pois é, a realidade pode ser chata mas pelo menos fica mais em conta.

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Uma praia na cidade
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17. Uma praia na cidade

Estivemos a espreitar o projecto da futura praia de Manhattan e ficámos cheios de inveja.

As tentativas de criar praias urbanas em Lisboa têm sido amorosas, mas extremamente ineficazes. Prometem as mesmas emoções
de uma praia verdadeira, mas na verdade são pequenos simulacros da vida à beira-mar, versões miniaturizadas e empobrecidas da experiência verdadeira. Mas o recém-apresentado projecto da praia de Manhattan, nas margens do rio Hudson, mostrou-nos que uma boa praia urbana é possível – para
os nova-iorquinos, será possível no Verão de 2022. A praia vai ocupar o espaço de um antigo parque de estacionamento e ocupará uma área superior a 20 quilómetros quadrados. Inclui jardins, uma zona de piqueniques, vários equipamentos desportivos e uma zona com areia que imita uma verdadeira praia fluvial. Existe um pequeno senão: é impossível ir a banhos naquelas águas porque o Hudson está extremamente poluído, mas todas as outras actividades náuticas são possíveis: passeios
de caiaque, por exemplo. Esta é uma forma
de aproximar os nova-iorquinos do seu rio e fazer com aquele lençol de água faça parte da vida dos cidadãos – e não seja apenas parte da paisagem. Em Lisboa gostávamos de ver uma coisa parecida e lembramos que há pouco mais de cinco décadas havia provas de natação no Tejo.

Um churrasco flutuante
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18. Um churrasco flutuante

Até quando é que vamos deixar que os londrinos sejam os únicos a poder usufruir de churrasqueiras aquáticas?

O sol é uma excelente fonte de vitamina D, mas infelizmente não contém nenhumas proteínas, gorduras ou sais minerais. Se queremos ter uma dieta de Verão mais completa devemos complementar os banhos de sol com outras actividades mais nutritivas, como o churrasco. Felizmente, hoje é possível fazer tudo isto enquanto 
se disfruta da brisa fresca de um rio. 
É que no rio Tamisa, em Londres, navegam por estes dias umas curiosas embarcações: são churrasqueiras que flutuam (ou barcos que churrascam, tanto faz). A empresa de turismo Skuna, famosa por ter inventado o barco-sauna, é a responsável pela BBQ Boat Experience. O aluguer do barco custa 150 libras e lá dentro cabem
até 10 pessoas sentadas à volta de
um grelhador. Por mais uma libra por pessoa a organização trata dos pratos, talheres e copos, mas cabe a cada grupo trazer as suas comidas e bebidas – e cozinhar, já agora. A embarcação pode circular à vontade nas docas de West India Quay, mas está proibida de se aventurar para o leito principal do rio e ir parar ao Oceano. Nós achamos a ideia brilhante e propomos uma ligeira adaptação: um churrascobarco dedicado à pesca e confecção da tainha do Tejo, esse peixe encantador.

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Aprender a fumar
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19. Aprender a fumar

Ou melhor, aprender a fazer carnes fumadas. Em Londres há uma escola só para isso, a Smoke School.

“Senhor professor, podemos ir lá fora fumar?” Ora aqui está uma frase que muito provavelmente não se vai ouvir na Smoke School. Por dois motivos. Primeiro porque estamos em 2019 e as pessoas já não fazem este tipo de perguntas. E depois porque na Smoke School todos os fumados são no interior. Porque é da arte de cura no fumeiro que esta escola trata. Fundada em 2015 pelo entusiasta de carnes Ross Mitchell, a Smoke School ensina a cozinheiros profissionais e amadores todas as técnicas necessárias para dominar o fumeiro. Ali aprende-se a transformar porco em bacon, a fazer salame picante e a cozinhar com estes ingredientes. É para quem gosta de arregaçar as mangas e utilizar os dentes caninos de omnívoro para a função que lhes foi destinada: comer carne. Cada workshop dura aproximadamente três horas e custa qualquer coisa como 105€. Caro, sim, mas depois de aprender a fazer o próprio bacon imagine o dinheiro que vai poupar em toucinho embalado?

Um bar fresquinho
©DR

20. Um bar fresquinho

Ou literalmente gelado. Como o Icebar, em Londres.

O gelo é uma substância perfeita para todas as pessoas que querem beber
um copo de água mas não se importam
de esperar um bocado. Mas também é um material extremamente maleável, fácil de trabalhar e polivalente. De tal maneira que tanto serve para dividir em cubos e refrescar bebidas, como faz de objecto flutuante capaz de afundar navios gigantes de passageiros. Pode, também, transformar-se num bar. O Icebar, em Londres, é ideal para todos aqueles que precisam de “fazer gelo” por causa de uma maleita física, mas não querem que isso os impeça de sair à noite. É, como o nome indica, uma escultura de gelo gigante em forma de bar – neste aspecto, as esculturas de gelo ganham às construcções na areia: não há nenhum sand bar. No Icebar a temperatura é controlada (sempre a -5 ºC) e o tempo está contado: cada visitante não pode permanecer ali durante mais de 40 minutos, por razões de saúde. As visitas têm de ser marcadas com antecedência, por razões de agenda. Este bar-esquimó é de tal maneira empenhado em fazer jus ao nome que até os copos são feitos a partir de água congelada, tal como a decoração, o mobiliário e, sim, os cubos de gelo.

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Fazer o nosso próprio vinho
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21. Fazer o nosso próprio vinho

Sem ter de cultivar as nossas próprias uvas. Por outras palavras, inventar um vinho como se faz nas Les Caves du Louvre, em Paris.

Consta que em tempos houve um indivíduo muito bem-intencionado que conseguiu transformar água em vinho. Mas o fenómeno nunca se repetiu e todas as outras pessoas fazem esse precioso néctar plantando vinhas, apanhando uvas e calcando-as até extrair sumo suficiente, para fermentar, guardar em pipas e esperar uns meses até estar pronto para beber. O processo é trabalhoso, mas não há milagres. Quem quer fazer o seu próprio vinho vai ter de arregaçar as mangas. Mas talvez não tenha de suar muito. Apresentamos-lhe
as Les Caves du Louvre que, como o nome indica, são um lugar em Paris que se dedica à arte de fazer vinho. Explicamos: um enólogo guia os visitantes pelas várias castas, dá a provar uma série de amostras e explica as várias combinações possíveis. Depois de pôr o paladar à prova, os clientes escolhem a mistura que mais lhes agrada et voilá, está “inventado” o seu próprio vinho. A experiência não termina sem um rótulo desenhado à medida e até é possível colocar lá uma daquelas descrições palavrosas do tipo, “tem um intenso aroma a carro novo
e um final com sabor a pneu”.

Um centro de adopção de plantas
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22. Um centro de adopção de plantas

Como aquele que surge todos os anos em Hampton Court, Londres.

Alguma vez pensaram para onde vai toda a comida dos programas de culinária? As filmagens terminam 
e aqueles pratos perfeitos ficam para quem? Aceitam voluntários para acabar essas refeições? Oferecem comida? Não sabemos. Mas a exposição de botânica mais importante de Londres, o Hampton Court Flower Show, tem um destino bem definido para todas as incríveis plantas que ali são exibidas. No final do evento, organizado pela Royal Agricultural Society, os visitantes podem adoptar uma planta. São milhares de novos amigos verdes que encontram assim um novo lar. A exposição tem entrada a pagar e dá acesso a mais de 34 hectares que exibem o melhor da jardinagem britânica. Mas assim que esta exibição termina basta escolher um dos milhares de plantas e assinar um formulário de adopção, prometendo regar regularmente e botar ao sol este pequeno e portátil produtor de oxigénio. Para além deste esquema de adopções, há centenas de plantas que são doadas a jardins públicos, escolas, hospitais e outras instituições. Se não há um programa de Adopte Uma Sobremesa De Um Final de Um Programa de Culinária, nós podemos criar.

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Viver debaixo do mar
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23. Viver debaixo do mar

É o que propõe a Ocean Cube, uma instalação imersiva sobre um futuro em que os humanos vivem debaixo de água.

Ah, a EXPO 98. Lembram-se? As filas, os vulcões de água, o Aquamatrix, as filas, os olharapos, o Oceanário, a Praça Sony, as filas. Foi um evento que mudou para sempre a paisagem da cidade e
teve como tema principal os Oceanos. Essa temática era desenvolvida de várias maneiras diferentes, mas a melhor de todas eram os pequenos altifalantes 
com som de água a correr em todas as ruas e vielas. Fascinante. Mas em 98 as nossas preocupações com os oceanos eram outras. Éramos mais optimistas, ou ingénuos, ou as duas coisas. Em 2019 o mundo é um lugar muito diferente – um lugar onde é urgente discutir o futuro dos mares. E esse futuro é representado na exposição Ocean Cube, patente em Londres: ao longo de várias salas, imagina-se o mundo em 2119, uma altura em que os seres humanos construíram cidades debaixo de água. Existem túneis de coral, alforrecas gigantes e uma ilha de garrafas de plástico, um comentário óbvio sobre o uso excessivo de embalagens flutuantes.

Um escorrega arco-íris
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24. Um escorrega arco-íris

Como aquele que instalaram em Nova Iorque durante as celebrações do Pride.

Parece um divertimento de feira, uma brincadeira inócua. Mas o escorrega montado no Madison Square Park, em 
Nova Iorque, é muito mais do que uma peça de parque infantil agigantada. Vamos por partes. O escorrega está a 30 pés de altura, (aproximadamente 9 metros) um pé por cada um dos 30 estados que ainda não têm qualquer lei que proteja a comunidade LGBTQ+ de descriminação. Depois de descer numa das seis pistas coloridas à escolha, os escorregadores são convidados a enviar uma mensagem aos governadores desses estados e a vários legisladores a pedir que apoiem o Equality Act e defendam os direitos das pessoas queer. No final da viagem também é pedido que façam um donativo para a Human Rights Campaign. Este escorrega amigo dos direitos LGBTQ+ é uma ideia luminosa (e colorida) do Tinder, a aplicação de encontros mais famosa do mundo. Em Lisboa já temos uma rua cor-de-rosa, mas ainda faltam algumas cores. Sugerimos um mega-escorrega no Parque Eduardo VII com entrada paga e fundos a reverter para as associações lisboetas de defesa dos direitos dos homossexuais.

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Um campeonato de dança das cadeiras
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25. Um campeonato de dança das cadeiras

Como o que acontece todos os anos em Bryant Park, Nova Iorque.

Os Nova-Iorquinos conseguiram transformar um passatempo inocente numa competição feroz. A dança 
das cadeiras, outrora um simples entretenimento de festas de paróquia, 
é agora uma actividade séria em Bryant Park. Todos os anos, centenas de pessoas lutam pelo título de campeão desta dança sem coreografia. O evento, que foi criado para celebrar o aniversário do parque, começa com 20 círculos de cadeiras com 30 pessoas por cada círculo. Os bailarinos vão sendo eliminados e os vencedores de cada ronda passam para um círculo mais fechado até à derradeira batalha. Por aquilo que vimos numa reportagem da Time Out Nova Iorque, os concorrentes são agressivos e destemidos, não hesitando em atirar-se em força para a cadeira mais próxima assim que a música termina. O entusiasmo tem justificação: o primeiro classificado recebe uma viagem, leva uma cadeira para casa e fica com o nome escrito numa placa no parque. Por outras palavras, alcança a imortalidade. Em Lisboa já temos uma actividade parecida, mas sem música. Uma dança das cadeiras muda que consiste em conseguir um lugar sentado num dos vários transportes públicos lotados.

Sacos de pancada públicos
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26. Sacos de pancada públicos

A frustração é um problema de higiene pública? Há quem ache que sim. Os “public punching bags” de Nova Iorque podem ser a solução para este flagelo.

Os lisboetas estão habituados a esmurrar as buzinas dos seus carros como forma de verter a sua frustração. Mas há outras superfícies, menos ruidosas, que podem aguentar com a raiva que se vai acumulando no dia-a-dia. Os sacos de pancada são perfeitos para descarregar o nosso mau-viver, mas nem toda a gente tem acesso a equipamento de treino para lutadores de boxe. Felizmente, há gente interessada em colocar ao alcance de todos estas ferramentas, como fez o colectivo de design Don’t Take This The Wrong Way. Pela cidade de Nova Iorque espalharam sacos de pancada amarelos na esperança de que os peões daquela cidade aproveitassem para soltar a sua raiva. O projecto é metade instalação artística, metade proposta séria de novo mobiliário urbano. A Don’t Take This The Wrong Way quer começar uma discussão sobre a forma como mostramos as nossas emoções no espaço público.
E munir as cidades de ferramentas que permitam a todos os seres humanos uma expressão plena dos seus sentimentos. Os sacos de pancada amarelos, com a frase “use at your own risk” (use por sua conta e risco), estiveram na rua apenas durante alguns dias e foram um grande sucesso.

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Uma visita guiada aos melhores rabos
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27. Uma visita guiada aos melhores rabos

Calma! Aos melhores rabos em exibição nos museus mais respeitados, como a tour que a Time Out nova-iorquina fez ao Metropolitan Museum of Art.

É uma iniciativa da nossa revista-irmã,
 a Time Out Nova Iorque, que quis dar uma nova perspectiva sobre um dos museus 
mais visitados da cidade. Faz sentido. As pessoas fixam-se em coisas estranhas nos museus. Há visitantes que ignoram os quadros e deliciam-se com a iluminação das salas, turistas que guardarão para sempre
na memória a qualidade das cadeiras nas salas de exposição e os curiosos que não vão esquecer o cheiro desta ou daquela mostra. Para pessoas que se fixam em elementos ultra-específicos de exposições gigantes e complexas, uma visita guiada hiperparticular é o ideal. A Time Out debruçou-se sobre os melhores rabos do Metropolitan Museum of Art, mas podia ter-se focado nos penteados, nos narizes ou nas expressões de felicidade das figuras decapitadas na arte sacra. Enfim, há um mundo por explorar. A lista da Time Out, feita pelo editor e crítico de arte Howard Halle, é ecléctica e celebra todo o tipo de traseiros: das esculturas mais convencionais, à pintura impressionista, questionando os padrões de beleza e diâmetro dos glúteos ao longo de épocas. Não temos a certeza se Lisboa está preparada para isto, mas pelos corredores desta redacção especula-se sobre a possibilidade de elencar Os Melhores Rabos do Museu Nacional de Arte Antiga. Vamos a isso?

Ver ‘O Tubarão’ dentro de água
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28. Ver ‘O Tubarão’ dentro de água

Uma experiência cinematográfica imersiva, como a que acontece todos anos na Alamo Drafthouse, no Texas.

Não temos dúvidas, esta é a melhor maneira de ver a obra-prima de terror e suspense de Steven Spielberg: dentro de
água. Ok, não é um oceano como no filme, mas sim um lago em Austin, no Texas. Mas
a diferença de cenário é apenas um mero pormenor técnico. O importante aqui é replicar a sensação de vulnerabilidade de uma pessoa perdida no meio do mar onde vagueia um tubarão faminto. A Alamo Drafthouse organiza este “dive-in” há vários anos, sempre durante o Verão, e garante uma experiência de quatro dimensões – garante, também, a total ausência de tubarões naquelas águas. Mas avisa: pode ou não haver mergulhadores aqui e ali para cutucar as pernas dos nadadores desprevenidos, só para tornar a experiência mais realista. O bilhete para esta experiência custa mais de 50 dólares, mas inclui outras atracções desta espécie de parque temático e um grande final com fogo de artifício. Inclui, também, uma bóia especial com base para copos, isto porque à boa maneira americana o filme é acompanhado de comes e bebes – os tubarões não são a única coisa com apetite naquelas
águas. O cinema português e a oferta de infraestruturas de Lisboa não nos permite fazer nada parecido, mas aqui vai uma ideia: projectar a Aldeia da Roupa Branca num lavadouro municipal enquanto os espectadores tratam de lençóis e fronhas. O sabão azul e branco estaria incluído no bilhete.

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Uma chocolataria artesanal
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29. Uma chocolataria artesanal

Como a Mork, em Melbourne, um sítio que está para o cacau como as cervejarias artesanais estão para a cevada.

Lisboa recebeu de braços abertos a cerveja artesanal e anda a flirtar fortemente com o café de especialidade. Sinal de que estamos preparados para uma vaga de chocolatarias modernas que transformam um simples punhado de grãos de cacau numa obra de arte – como a Mork Chocolate Brew House, em Melbourne. Neste local de culto para gulosos, o cacau é tratado como um ingrediente complexo
e fascinante. Existem colheitas especiais, como nos vinhos, tipos de torras e moagens diferentes, como no café, e bebidas de
autor, como num bar de cocktails. Há ainda um vasto leque de invenções originais,
como água com sabor a chocolate e um refrigerante artesanal desse mesmo
sabor. Uma das particularidades deste
bar de chocolate são as torneiras, em tudo parecidas com as de uma cervejaria, mas que em vez de imperial sacam umas robustas canecas de cacau quente. Tremoços? Não têm. Mas há bolos, bolachas, bombons e outras criações mais convencionais, todas feitas a partir do fruto do cacaueiro. A estrela do menu do Mork é o “campfire chocolate”, um chocolate quente fumado com sal e um marshmallow tostado. Mas também há uma bebida de cacau 100%, muito amarga, que dizem ter o mesmo efeito retemperador de um café. Em Lisboa ainda vamos ter
de esperar até poder consumir chocolate líquido em tanta variedade e qualidade. Até lá, contentamo-nos em pedir o nosso leite Ucal aquecido

Um bar-lavandaria
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30. Um bar-lavandaria

Como o LaBar (vejam bem este trocadilho!) em Barcelona.

As lavandarias automáticas surgiram em força nos últimos anos. Não há bairro que não tenha a sua sala forrada a máquinas de lavar, com luzes brancas fortíssimas e gente sorumbática a sorver o wi-fi gratuito. Até podem ser muito práticas, mas são sempre lugares inóspitos. O LaBar, em Barcelona, transforma esta penosa tarefa doméstica num prazer. Como? Ao servir comida e bebidas a quem vai para lá lavar a roupa suja. Numa altura em que temos em Lisboa bares que também são livrarias, galerias ou lojas de cactos, por que não fundir um sítio onde se bebe copos com um sítio onde se tiram nódoas? No LaBar há café de especialidade a menos de 2€ e imperiais a 1€. Para além disso,
o bar tem uma atmosfera acolhedora e moderninha, que em nada se compara às nossas lavandarias com as suas plantas de plástico e as suas cópias manuseadas de catálogos de supermercado. A ideia partiu do casal Marta Pérez e Gerard Navas, que sempre viu um elevado potencial de sociabilização na tarefa chata de dobrar as meias, por isso criou um sítio onde as pessoas se sentissem mais à vontade. Em Lisboa
o mesmo negócio pode funcionar perfeitamente, mas o trocadilho do LaBar perde-se. No Porto ou outras cidades onde se trocam os “v” pelos “b”, o nome funciona às mil maravilhas.

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Uma Legolândia
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31. Uma Legolândia

A calçada portuguesa já é uma forma primitiva de Lego. Então, por que não trazer para a cidade um parque temático às pecinhas?

Sim, é possível alegar que o IKEA é a Legolândia dos adultos. Mas o que queremos é um parque temático da Lego a sério e não um parque traumático onde casais discutem sobre as vantagens de um colchão viscoelástico. A cidade de Nova Iorque vai ter em breve o a sua Legoland – abre na Primavera de 2020
 – mas já estão à venda os primeiros bilhetes: pela módica quantia de 95 dólares é possível ser o primeiro a entrar no parque, mesmo antes da abertura oficial. E há um bónus – o bilhete dos pioneiros tem uma duração de 12 meses. Esta utopia de tijolinhos coloridos tem tudo o que a pequenada aprecia: carrosséis feitos com peças de Lego gigantes, barcos
de piratas em tamanho real e uma escola de condução com paralelepípedos andantes. Existe, em todas estas atracções da conhecida marca de brinquedos, a Miniland, a réplica
de uma cidade feita com pecinhas de Lego.
 Aí é possível sentir o mesmo que Godzilla sentiu quando chegou a Tóquio. Mas o melhor é controlarmos o nosso ímpeto destruidor, porque pisar uma peça de Lego é uma das coisas mais dolorosas que pode acontecer à planta do nosso pé.

Um supermercado sem plástico
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32. Um supermercado sem plástico

O Ekoplaza, em Amesterdão,
 tem um corredor onde todos os produtos são livres de plástico. Não é um supermercado inteiro, mas é um bom começo.

Isto de salvar o planeta é uma 
tarefa que não deve tomada de ânimo leve. O aquecimento global, a subida
dos oceanos, as catástrofes ambientais recorrentes e eminentes devem ser motivo suficiente para nos levar à
 acção. Se mesmo assim não estiver convencido, pense que Marte, o planeta mais próximo, fica a 300 dias de viagem
e tem uma atmosfera irrespirável. Face 
a este cenário, se calhar não custa assim tanto transformar pequenos gestos em grandes rotinas – reciclar, reutilizar e evitar plásticos. Sobretudo os plásticos de uso único, como as palhinhas e embalagens. É a pensar nas pessoas empenhadas em preservar a Terra – ou cépticas em relação à habitabilidade de Vénus e Marte – que os supermercados da cadeia Ekoplaza tomaram uma atitude de combate ao plástico. Em todos eles existe um corredor inteiro de produtos sem esse material ultrapoluente: há muitos artigos vendidos a granel e outros em embalagens muito parecidas com plástico, mas que na verdade são feitas de outro material – um polímero especial feito a partir de plantas que leva apenas três meses até desaparecer completamente. Um material biodegradável, portanto, para tornar a nossa vida um pouco mais bio-agradável.

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Um jogo de bebida a sério
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33. Um jogo de bebida a sério

Não é um “mão direita é penálti!”. O The Case of the Poisoned Chalice é um enigma onde a bebida desempenha um papel muito importante.

“Foi o mordomo, na biblioteca com o candelabro”. O jogo de tabuleiro Cluedo é muito divertido, mas imaginem se este tipo de intriga policial fosse acompanhado por bebidas destiladas de altíssima qualidade? O The Case of the Poisoned Chalice propõe-nos precisamente isso – é um cruzamento entre um escape game e uma aula de cocktails, organizado pela empresa de eventos inglesa The Mind Palace. Os clientes entram num bar do estilo speakeasy, os estabelecimentos discretos onde se vendia bebida ilegal durante os tempos da Lei Seca, e pedem uma bebida. Segue-se uma série de puzzles e charadas que, depois de resolvidos, valem um novo ingrediente para fazer o cocktail perfeito. O relógio está a contar e é preciso rapidez de raciocínio para chegar ao fundo do copo. O final deste enigma celebra-se, claro está, com um brinde. Quem quiser beber sem exercitar os neurónios pode fazê-lo da forma menos complexa: chegar ao bar do The Mind Palace e pedir à la carte, como qualquer pessoa aborrecida faria. Em Lisboa gostávamos de ter um puzzle bar parecido, mas em que os convivas são obrigados a instalar um barril de imperial como deve ser e, depois, tirar uma cerveja que não sabe a água de lavar o tremoço. Uma experiência física e intelectualmente muito desafiante.

Uma luta de almofadas
©DR

34. Uma luta de almofadas

As armas usadas para lutar são as mesmas que usamos para dormir a sesta. Sono e violência, que combinação

Este ano já não dá, mas em 2020 não podemos falhar. Marquem nas agendas: dia 
6 de Abril é o International Pillow Fight Day, 
o dia internacional da luta de almofadas. O evento celebra a mais antiga das formas de combate, a única arte marcial que usa a mesma arma que uma sesta – e onde dois tipos de fronhas podem sair danificados. A semana passada, em Nova Iorque e em mais 14 cidades espalhadas pelo mundo, milhares de pessoas juntaram-se num parque para arremessar travesseiros. É um combate em que não há vencedores – o que significa que somos todos vencedores – mas onde é preciso respeitar
um conjunto de regras básicas, impostas pelo bom senso (o bom senso é o melhor árbitro
do mundo): evitar golpes demasiado fortes, não atacar máquinas de filmar e fotografar e deixar em casa as almofadas de penas – essas fazem uma grande sujeira. Nas cidades mais organizadas, como Nova Iorque, existem pontos de venda de almofadas cujos lucros revertem para associações de caridade. Quem acha que um evento destes é uma seca pode deitar-se na relva e dormir um bocado.

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Livros subterrâneos
©Andy Parsons

35. Livros subterrâneos

Uma iniciativa de leitura no metro como a Books Underground do metro de Londres

Já ninguém lê no metro. Desde que há rede no subsolo que as pessoas passam a vida agarradas aos telefones, a trocar mensagens, a botar likes ou a massacrar
 os polegares com jogos de rebentar 
cristais (cristais, bolhas, tijolos, enfim, rebentar coisas). É raro ver pessoas com um pesado tomo nas mãos, nariz enfiado n’O Conde de Monte Cristo ou a deliciar-se com as descrições de papel de parede do Ramalhete, em Os Maias. Para combater
 a dependência do telemóvel e promover hábitos de leitura, o metro de Londres lançou o Books Underground. O projecto funciona um pouco como o velhinho sistema de bookcrossing (lembram-se?): os livros são deixados ao acaso pelas estações e carruagem de metro, com um autocolante que os identifica como fazendo parte desta iniciativa. Os passageiros podem pegar neles, ler à vontade e deixar onde
os encontraram – ou em qualquer outro lugar dentro da vasta rede do underground londrino. Os pontos de entrega são anunciados nas redes sociais e a oferta 
vai sendo actualizada com o passar do tempo. Quem tem muitos livros em casa
e quer participar, pode solicitar um rol de autocolantes e adicionar as suas próprias obras, aumentando a oferta e esvaziando as prateleiras lá de casa. Em Lisboa a rede de metro é mais curta, pelo que sugerimos o mesmo sistema mas com livros de contos ou obras breves cuja leitura integral se possa fazer numa viagem Reboleira – Santa Apolónia.

Um restaurante debaixo de água
©DR

36. Um restaurante debaixo de água

Mas com oxigénio suficiente para conseguirmos mastigar. É assim no Under, na Noruega

Sabem aquelas marisqueiras cheias de tanques de marisco?
Se ficarmos numa mesa mesmo ao lado
 de um desses super-aquários podemos 
ter a sensação de estar debaixo de água. Ok, é precisa alguma imaginação, mas vamos ser práticos, jantar debaixo de água só é realmente possível em sítios como 
o Under. Este restaurante/maravilha arquitectónica em Lindesnes, no Sul da Noruega, está uns metros abaixo do nível do mar. A janela panorâmica coloca-nos na primeira fila para o espectáculo da vida marinha, mas há outra performance a vir da cozinha. Os pratos do chef Nicolai Ellitsgaard são sofisticadíssimos, por isso se acha que ir comer uma sandes mista de chourição em frente ao tanque grande do Oceanário é a mesma coisa, tire o cavalo-marinho da chuva. O edifício, desenhado pelo atelier Snøhetta, é um tubo de cimento ultra-resistente que se enfia na água tipo periscópio. Com o aquecimento global e a inevitável subida dos níveis da água do mar, ficamos com a sensação de que, em breve, o Under vai deixar de ser o único restaurante submerso da Europa.

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Uma Lisboa Dog Week
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37. Uma Lisboa Dog Week

Uma semana inteiramente dedicada ao melhor amigo do homem

Existem semanas da lampreia e Festivais do Ouriço-do-Mar, então porque razão não há uma Semana do Cão? Porque nós não comemos cães, dirão os leitores mais literais e macambúzios (e para quando um Festival do Macambúzio?). Mas de certeza que muitos lisboetas vêem com bons olhos uma semana dedicada aos seus amigos de quatro patas. Imaginem uma Lisboa Fashion Week, mas onde em vez de moda há centenas de criaturas adoráveis e estilosas a vaguear pela cidade. É assim na London Dog Week, em Londres, um evento que eleva o nosso apreço pelos cães a níveis record – um exagero, dirão, mais uma vez, os macambúzios. Há um mercado de street food para cães (e não, não podem ir cheirar caixotes do lixo), fotógrafos profissionais para tirar bons retratos à bicharada, uma passarela com desfiles de moda canina e o nosso evento preferido: um almoço de celebração dos cães salsichas, os Dachshund, raça alemã que não está nada interessada em ouvir
os vossos trocadilhos sobre cachorros quentes. Este evento de oito dias tem ainda uma praia para cães, um boot camp e uma festa de encerramento que tem como convidado especial um dos grandes influencers caninos do nosso tempo: Lilliput, o maltês branco. E sim, você acabou de ler a frase “um dos grandes influencers caninos”. Este festival pode parecer um show de futilidade, mas tem bom fundo. Os lucros revertem para duas associações de solidariedade canina: a Street Vet, que trata animais de sem- -abrigo, e a Plush Bears Shelter, que ajuda a salvar cães do negócio da carne.

Uma esfera para os fim-de-semana
©DR

38. Uma esfera para os fim-de-semana

Quer passar um tempo suspenso no ar, no meio de uma floresta? O Lost Meadow Treepod serve exactamente para isso\

De acordo com várias interpretações da Teoria da Relatividade Geral de Einstein, quanto mais alto uma pessoa está, mais depressa o tempo passa. Isso quer dizer que, se quisermos que as nossas férias durem mais tempo, o melhor é marcar um fim-de-semana num Airbnb dentro de uma gruta, vários metros abaixo do solo. Mas, infelizmente, a oferta turística mais próxima do núcleo da terra é, no mínimo, desinspirada. Talvez seja melhor arriscar que os ponteiros do relógio se movam mais depressa e procurar refúgio num sítio bonito. Por exemplo, num globo pendurado numa árvore, no meio de uma floresta. O Lost Meadow Treepod, em Cornwall, no Reino Unido, é isso mesmo. Um enfeite de Natal gigantesco onde podemos passar férias. A esfera, coberta a madeira de cedro, está segura por uns delicados fios que, dizem, aguentam facilmente com o peso de duas pessoas. Para tornar tudo mais interessante – e inflamável – há uma salamandra no quarto que pode ser usada à vontade nos dias mais frios. Uma noite nesta bolha bucólica custa pouco mais de 200€ e aqui na Time Out estamos à espera que alguém encomende umas esferas destas para passarmos umas lindas férias em Monsanto – umas “esférias”.

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Um bar de xadrez
©DR

39. Um bar de xadrez

Um lugar onde todas as mesas são mesas de jogo

Não, não estamos a falar de um bar temático dedicado ao campeão nacional na época 2000/01. Falamos de outro passatempo, menos atlético e intelectualmente muito 
mais desafiante que o futebol praticado pelo Boavista de Jaime Pacheco. O xadrez, jogo de tabuleiro centenário, tem 
um bar inteiro a prestar-lhe homenagem. Chama-se Up All Knight (atenção ao trocadilho) e fica em Oslo, na Noruega. Dentro deste bar todas as mesas são mesas de xadrez e até o balcão tem os quadradinhos brancos
 e pretos onde se travam duras batalhas entre reis e rainhas, bispos e torres. Os clientes podem ir sozinhos e desafiar outros jogadores, participar em minitorneios ou simplesmente sentarem-se ao balcão e jogar uma partida com o bartender – atenção: uma das pessoas atrás do bar é um antigo campeão nacional norueguês. Esta é 
uma das mais recentes e bem sucedidas iniciativas para tornar o xadrez num jogo cool, numa altura em que está brutalmente ameaçado por videojogos hipercomplexos ou joguinhos de telemóvel supersimples. Em Lisboa existem as terças-feiras na Padaria do Povo, em Campo de Ourique, onde vários apreciadores do jogo se juntam à volta destes mosaicos de simulação bélica. O Damas, na Graça, ao contrário do que o nome indica, não tem nada a ver com jogos de tabuleiro.

A lua
©DR

40. A lua

É pedir muito? O Scienceworks, em Melbourne, tem uma. Se calhar até pode emprestar. Oh, vá láááááa!

Da maneira como está o Programa Espacial Português, as nossas esperanças para chegar ao satélite natural da terra são cada vez mais reduzidas. Por isso se calhar é boa ideia começar a pensar em trazer a Lisboa a exposição itinerante “Museum Of The Moon”. Trata-se de uma réplica da Lua à
escala 1:500.000 – ou seja, um centímetro são cinco quilómetros – que anda em digressão por todo o mundo, procurando abrigo em museus ou espaços semelhantes com um pé direito suficientemente grande para acolher esta superescultura. O falso satélite de sete metros de diâmetro está feito ao pormenor, com a superfície modelada a partir de fotos e cartografia exacta fornecidos pela NASA.
Este objecto curioso foi criado pelo artista britânico Luke Jerram, emite uma luz própria (uma réplica
do luar) e é acompanhado por uma banda sonora de inspiração lunícula feita pelo compositor Dan Jones. O próximo destino desta esfera é Londres, onde estão planeadas uma série de actividades, como yoga ao luar (artificial) e banhos de som. Enfim, modernices. Nós apostamos que esta réplica cabe em qualquer armazém em Marvila – atenção lobisomens de Lisboa, afastem-se – e já estamos a imaginar um comeback
de Os Lunáticos para a inauguração. Já estavam esquecidos do “Estou na lua”, não já? Pois é, agora esta canção vai ficar a tocar na vossa cabeça até ser hora de ir dormir. Ou mesmo depois.

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Gangorras luminosas
©John Sturrock

41. Gangorras luminosas

É uma palavra bonita, “gangorra”. Não é? Pois bem, em Londres há muitos desses baloiços horizontais luminosos e nós também queremos.

Se não gosta da palavra “gangorra” pode sempre chamar-lhe “arre-burrinho”, o outro nome oficial; ou sobe-e-desce, a expressão com que toda a gente está mais à vontade porque não soa a uma coisa que se faz dentro de uma praça de touros. As gangorras são divertimentos muito básicos de parque infantil: uma tábua sobre um eixo que permite a duas pessoas desafiar a gravidade alternadamente. Para muitas crianças, pode ser o início de uma vida a querer subir mais alto, uma introdução
aos desportos radicais. Para os adultos, serve para recordar um tempo em que ir
a um parque infantil durante as férias de Verão era a melhor coisa do mundo. Por forma a extrair recordações dos adultos – e produzir memórias nas crianças – a cidade de Londres montou gangorras modernas, com luzes, capazes de suster o peso de todo o tipo de pessoas. Estes aparelhos têm duas características particulares: produzem som enquanto nos movemos e as luzes piscam consoante a velocidade a que subimos e descemos. Esta instalação, de nome oficial Wave-Field, Variation F, está na zona de King’s Cross e serve para assinalar a importância de devolver o espaço público aos cidadãos, representando ainda a energia cinética necessária para o fazer: alguma força de pernas e bastante trabalho de equipa.

O maior castelo insuflável do mundo
©DR

42. O maior castelo insuflável do mundo

Isso mesmo, queremos uma monarquia invisível, um reino feito de nada e o seu castelo cheio de ar. Como o The Big Bounce America.

Saltar é uma actividade que está de volta às prioridades da espécie humana. E isso é de saudar. Estaremos na era de ouro dos pulos? A viver o Renascimento dos pinchos? A quantidade de parques de trampolins na nossa cidade confirma esta tendência. Mas falta-nos uma coisa. Uma estrutura fortificada que defenda a tese que está nas primeiras linhas deste texto. Isso mesmo: um castelo insuflável. A nossa sugestão vem de encontro às nossas ambições – queremos a maior fortaleza insuflável do mundo. Pode uma cidade com mais de sete séculos de história contentar- se com menos? O The Big Bounce America é um colchão de ar gigante que anda pelos EUA a entreter crianças e adultos. São 20.000 metros quadrados de uma superfície perfeita para saltar bem alto e aterrar em segurança. Para além de uma vasta área anti-gravidade, este castelo tem uma piscina de bolas gigante, um lago de espuma, um percurso de obstáculos e um campo de basketball para quem quer finalmente fazer um afundanço. O The Big Bounce America começou por ser um insuflável exclusivo para garotos, mas o olhar desolado dos familiares ao perceberem que não podiam ser mais do que espectadores fez com que a empresa admitisse a entrada dos crescidos. Em Lisboa já temos um castelo, mas é muito rijo. Um fortificação insuflável é uma mais valia que podia ser colocada na zona mais alta de Monsanto, por exemplo, para defender a cidade de invasões de bóias de praia e ataques de balões de hélio.

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um relicário urbano
©DR

43. um relicário urbano

Como o The City Reliquary Museum and Civic Organization, em Williamsburg

O museu de História natural mostra-nos os dinossauros que viveram cá antes de nós, o Museu de Arte Antiga mostra-nos os quadros das pessoas que viveram cá antes de nós e o Museu do Traje mostra como é que as pessoas se vestiam antes de nós. Mas há algum museu que reflicta sobre a forma como vivemos hoje? A História, com “H” grande, está bem representada. Mas e as histórias com “h” minúsculo? É para celebrar as vidas comuns dos nova-iorquinos que existe o The City Reliquary Museum and Civic Organization, em Williamsburg. Este minimuseu do quotidiano junta artefactos improváveis: bilhetes de metro, postais que foram colocados no correio sem selo, um bolo de casamento petrificado, uma colecção de afia-lápis e outros objectos que fazem deste sítio uma espécie de “perdidos e achados” transformado em museu. De quando em vez organizam-se pequenas exposições temáticas: lancheiras antigas, garrafas de gasosa ou uma mostra sobre vendedores de rua. O museu ocupa duas pequenas salas e tem um custo de entrada de cinco dólares. Em Lisboa é possível fazer uma mostra semelhante, juntando os talões de multibanco que são deixados nas máquinas, as chávenas de café com marcas de batom e as peças de roupa que foram irremediavelmente danificadas por cagadelas de pombo.

Um museu canino grande
©DR

44. Um museu canino grande

Como o Museum of The Dog, em Nova Iorque, dedicado aos nossos amigos de quatro patas

O cão é o melhor amigo do homem e estamos todos muito à vontade com essa ideia. Mas alguém alguma vez pensou o que sentem os cavalos quando ouvem isso? Eles, que passaram séculos a levar a civilização (literalmente) às costas, não têm esse estatuto. Têm, no entanto, um papel predominante na estatuária das grandes cidades. Menos mal. Os cães, animais que gostam de perseguir a própria cauda, têm tido uma vida cada vez mais facilitada. E isso é bom sinal – é sinal que a civilização (obrigado amigos equinos!) está a evoluir. Curvamo-nos todos perante os nossos companheiros de quatro patas, nem que seja para lhes apanhar os cocós. Por isso é justo que haja um museu dedicado exclusivamente ao cão. O Museum of the Dog, do American Kennel Club, tem mais de 180 obras de arte dedicadas aos nossos amigos patudos: esculturas, pinturas e outras expressões de devoção canina. Há ainda uma cabine de fotografias que tira o retrato de qualquer humano e diz qual a raça de cão com que mais se assemelha. E uma mesa digital que identifica cada uma das 193 raças espalhadas pelo mundo. O museu inaugura oficialmente a 8 de Fevereiro e é acessível a cães, claro está. Não é como o Museu do Traje, que não permite a entrada a nudistas.

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um mega-escorrega
Photo by DR

45. um mega-escorrega

Como o estonteante The Slide no Arcelor Mittal Orbit, em Londres, o maior escorrega do mundo.

Lembram-se dos escorregas do s
parques infantis? Aquelas escadarias de metal que davam para uma rampa que, depois de um dia 
ao sol, parecia uma fritadeira de crianças. Esses escorregas já praticamente não existem. Foram substituídos por versões mais humanizadas, que 
é como quem diz: mais seguras. Mas a ideia de deslizar descontroladamente por uma superfície lisa nunca deixou de ser apelativa. Infelizmente, a categoria Escorregas Para Adultos está muito mal representada nos parques do nosso país. Talvez 
seja boa ideia ir buscar inspiração ao The Slide do Arcelor Mittal Orbit, em Londres. Este escorrega 
está instalado numa obra de arte de Anish Kapoor, um edifício de 115 metros de altura que durante muito tempo foi apenas um miradouro excêntrico situado nos arredores do Estádio Olímpico. Em 2016 inaugurou naquela estrutura um escorrega em túnel, tipo diversão de parque aquático a seco. Uma descida de 78 metros onde uma pessoa pode atingir a velocidade estonteante de 24 quilómetros/ hora ao longo de 12 curvas e contracurvas. A viagem dura 40 segundos, bastante mais do que nos nossos escorregas do antigamente, mas há um peço a pagar por este shot de adrenalina. E não é barato: cerca de 19€.

Um museu da infância
© Matos Ryan

46. Um museu da infância

Um sítio para levar a passear o adulto que há em cada um de nós.

Em 2014 fechou o Museu do Brinquedo,
 em Sintra, e os mais de 60 mil brinquedos do coleccionador João Arbués Moreira voltaram
 para as suas caixas. Desde então que os núcleos museológicos dedicados à infância, a infância pré-tablets e Canal Panda, se reduzem ao Museu 
do Brinquedo Português, em Ponte de Lima, e
 ao Atelier dos Brinquedos, em Torres Vedras.
 Este Também Queremos, podia ser apenas um Queremos de Volta, mas vamos acrescentar a este pedido uma fonte de inspiração: o Victoria & Albert Museum of Childhood, em Londres. São centenas de objectos relacionados com a infância que vão desde as casas de bonecas aos jogos de tabuleiro, dos robôs de lata aos ursos de peluche, num acervo que vai de 1872 aos anos 70 do século XX. Isso quer dizer que tanto nos podemos deslumbrar com as primeiras Barbies ou espreitar por uns belíssimos praxinoscópios – são uma espécie de lanternas mágicas, derivadas do zootropo. Ok, são uns desenhos que andam à volta num minicarrossel e dão a ilusão de movimento. São a pré-história dos desenhos animados. Esta viagem no tempo – à nossa infância e à de milhares de desconhecidos – é gratuita. Agora temos de decidir: apanhamos um avião até Londres ou esperamos que o Museu do Brinquedo volte à vida?

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Um laboratório de sobremesas
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47. Um laboratório de sobremesas

Como o Chin Chin Dessert Club, a gelataria experimentalista de Londres 

Se a sua ideia de “experimentalismo”
 é colocar uma colher de café verdadeiro
 no descafeínado, então as lojas-laboratório (laborilojas?) Chin Chin não são para si. Estamos a falar de invenções açucaradas que vão muito para além do clássico “deixem-me só colocar uma lata de leite condensado no bico do fogão para ver o que acontece”. Imaginem um laboratório de um cientista louco com uma queda para a doçaria. Um Dr. Frankenstein empenhado em fazer um monstro comestível – e delicioso. No Chin Chin Dessert Club há gelados feitos na hora com nitrogénio líquido, tacos de abacate, doces de caramelo em manteiga queimada ou bolos com cobertura de ouro comestível. Há ainda algodão doce de todas as cores do arco-íris e todo o tipo de chocolates quentes, num lugar que se afirma como um restaurante onde todos os pratos são sobremesa. A ideia é tão boa que temos de a repetir: um restaurante só de sobremesas. Quem quiser entrar só para tomar uma bica também pode: há gelado de café. E um cigarro? Também se arranja. Sim, há gelado de tabaco.

Fazer o nosso próprio queijo
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48. Fazer o nosso próprio queijo

Queremos queijarias artesanais urbanas em Lisboa. Como a Wildes Cheese’s, em Londres

Há dez anos ninguém em Lisboa se adivinharia a quantidade de cervejas artesanais que hoje se fazem na cidade. Agora, parece
 que por baixo de cada pedra, brotando em qualquer canteiro, jorrando de toda a ânfora, está uma cerveja artesanal. Existem fábricas, 
tap rooms e festivais de cerveja artesanal. Por isso não é completamente descabido pensar numa vaga semelhante, mas dedicada ao queijo. Sem ele, as sandes mistas seriam apenas “pão com fiambre”. Sem o queijo, o couvert seria dominado pelas manteiguinhas e pela azeitona. Em Londres existem queijeiros urbanos e
 aulas que ensinam o mais comum dos mortais a produzir um lacticínio sólido de elevada qualidade. Os workshops Make Your Own Cheese ensinam, num dia, a fazer um queijo fresco tipo mozzarella e um queijo para barrar do género Philadelphia. Enquanto mexem, esticam, coam e moldam as suas criações, os alunos são convidados a experimentar queijos num lanche que contém todas as estrelas desta via láctea. Uma aula custa perto de 150€. Caro, mas se pensar no dinheiro que poupa ao fazer o seu queijo em casa, o curso paga-se em menos de 50 anos.

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Uma “cerebroaria”
©DR

49. Uma “cerebroaria”

Isso mesmo, um sítio especializado em esticar a nossa massa cinzenta. Como a Brooklyn Brainery.

A quantidade de “-Arias” em Lisboa já atingiu níveis épicos: temos uma proseccoaria, uma risottaria e uma hamburgaria para cada 100 habitantes. Por isso de certeza que ninguém iria estranhar a inauguração de uma “cerebroaria”, a nossa adaptação muito livre da Brooklyn Brainery. Mas o que é uma “brainery”? É uma ginásio onde se exercitam sobretudo os neurónios com aulas, seminários e workshops sobre temas variados – sobretudo assuntos que não nos ensinam em nenhum outro lugar. Por exemplo: como comprar uma casa, como reparar uma bicicleta ou como deixar de ser demasiado humilde. As aulas são dadas por membros da comunidade que se voluntariam a ensinar o que sabem. Daí a grande diversidade de cursos: há ainda aulas de caligrafia, bordado, aguarela e gastronomia australiana. Quem tiver um tipo de conhecimento muito específico pode juntar-se à equipa de docentes, basta inscrever-se e propor um aula. Os cursos têm a duração de uma semana e são bastante económicos. Um exemplo: o curso de História do Chocolate (nham!) tem o custo fixo de apenas 15 dólares e inclui aulas práticas que envolvem sobretudo os maxilares e as papilas gustativas. Descrita como “um clube de leitura em esteróides”, a Brooklyn Brainery é uma maneira de tornar a educação mais diversificada e acessível. Por cá ficamos ansiosamente à espera da Cerebroaria do Bairro.

Uma exposição infinita
©Cortesia Cathy Carver

50. Uma exposição infinita

Falamos da exposição ‘Infinity Mirrors’ da artista plástica Yayoi Kusama que esteve o ano passado no The Broad, em Los Angeles.

Há alguma coisa de transcendental e surpreendente, mas ao mesmo tempo de ingénuo e quase infantil, nas instalações da artista japonesa Yayoi Kusama. A exposição “Infinity Mirrors” pode ser comparada com um divertimento de feira – sim, faz lembrar uma Casa dos Espelhos – mas é muito mais do que isso. É uma experiência sensorial em grande escala que nos faz esquecer quem somos e o que fazemos aqui – pois bem, finalmente uma exposição que não quer saber do “E Depois do Adeus” de Paulo de Carvalho. “Yayoi Kusama: Infinity Mirrors” esteve no museu The Broad, em Los Angeles, e foi um fenómeno de bilheteira: 50.000 bilhetes foram vendidos nas primeiras horas e mais de 100.000 pessoas tiveram de se contentar com as fotografias dos que conseguiram entrar. E não faltaram imagens nem relatos, uma vez que a exposição teve um efeito viral há semelhança de outras exposições pop-up que vão aparecendo por esse mundo fora – e por esses feeds de Instagram. Mas com uma diferença fundamental: a arte de Yayoi Kusama tem substância, é desafiante e vai muito para além dos likes e partilhas. É o mais próximo que alguma vez estaremos de entrar pela toca do coelho branco em Alice no País das Maravilhas. Ou a experiência mais delirante que a sobriedade nos permite. Se isto não é arte, então não sabemos o que é.

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O museu da comida nojenta
©DR

51. O museu da comida nojenta

Já há tanta coisa à nossa volta que ajuda a abrir o apetite que sítios como o Disgusting Food Museum começam a parecer muito boa ideia.

Não, não estamos a falar de coisas bolorentas e estragadas. Essas, quando muito, podem ser avistadas na Ala dos Fungos do Museu de História Natural. O Disgusting Food Museum é precisamente sobre comida nojenta. Pratos ou ingredientes que desafiam as papilas gustativas e as pupilas dos nossos olhos – sim, os olhos também comem, mas também perdem a fome. Coisas de sabores intensos, como o arenque fermentado da Suécia, ou pratos de aspecto arrepiante, como o cuy do Peru, um fofíssimo porquinho-da-índia grelhado no espeto. Este museu reúne 80 das receitas mais invulgares do mundo inteiro e mostra-nos que o adjectivo “nojento” é, por vezes, aplicado de forma exagerada. E depende, sempre, do nosso ponto de vista. Os islandeses adoram o seu tubarão fermentado, mas o resto do mundo resiste à ideia de meter na boca uma coisa que cheira intensamente a amoníaco. Este museu itinerante, que tem agora uma exposição em Los Angeles e outra em Malmo, na Suécia, pretende quebrar os nossos preconceitos e acabar com as fronteiras do “comestível”. Para além de mostrar um cardápio de comes e bebes alternativos o museu organiza degustações destas iguarias. Se sempre quis provar um pedaço de Casu marzu, o queijo infestado de larvas da Sardenha, este é o sítio para isso. Em Lisboa já existe uma filial não-oficial do Disgusting Food Museum que serve pastéis de bacalhau com queijo da Serra.

Carrinhos de choque no gelo
©DR

52. Carrinhos de choque no gelo

Isso mesmo: veículos difíceis de controlar numa superfície imprevisível.

Os carrinhos de choque são uma boa maneira de mostrar às crianças como funciona o trânsito em Lisboa. Para serem ainda mais realistas, bastava terem uma pista extra que consistisse apenas num para-arranca sem fim. Este tipo de divertimentos visita-nos durante os santos populares e durante uma ou outra festa de Verão. No Inverno, estão completamente arredados das nossas vidas – será que hibernam? Os carrinhos de choque no gelo são a solução perfeita para quem sente falta de uns solavancos e de umas batidas durante os dias mais frios. No ringue de
gelo de Elephant and Castle, em Londres, os Bumper Cars On Ice são uma das principais atracções. Seguem a tendência global de eventos “on ice” e fazem muito mais sentido do que coisas como “Aladdin on Ice” – pelo menos no que toca à integração do gelo na narrativa. Como seria de esperar, conduzir carrinhos de choque no gelo é difícil e extremamente divertido. Já agora: os carrinhos não se parecem com os sapatinhos electrificados das nossas feiras – são umas circunferências futuristas, parecidas com naves espaciais. Quem não estiver a fim deste automobilismo deslizante pode simplesmente usar os bons
 e velhos patins neste ringue. Mas atenção; num horário diferente.
 O Bumper Cars On Ice funciona apenas no Inverno e 10 minutos nesta brincadeira custam perto de sete euros.

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Um jardim de Natal
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53. Um jardim de Natal

Como os Kew Gardens, em Londres, onde não existe árvore de Natal mas sim uma floresta.

Imaginem um encontro anual de todos os pirilampos do mundo. Uma cimeira de caga-lumes, um pirilampalooza. Os Kew Gardens são exactamente isso, mas em vez das criaturas luminosas temos, enfim, lâmpadas. Menos espectacular do que uma agremiação sazonal de coleópteros, sim, mas igualmente fascinante. Este ano, estes jardins foram cobertos com mais de um milhão de lâmpadas: copas de árvores, veredas, prados e pomares foram decorados a preceito para receber o Natal. Há ainda arbustos que dão música, um lago com barcos iluminados e túneis de luzes caleidoscópicas. Enquanto pensam em qual será o valor da conta da luz daquele jardim para o mês de Dezembro, os visitantes podem ir fazer compras numa feira de Natal, beber vinho quente e assistir a espectáculos. A entrada para os Kew Gardens custa perto de 19€, uma excentricidade natalícia, está certo, mas digam lá a quanto está o quilo de bolo rei numa pastelaria? Cá em Lisboa temos umas óptimas iluminações de Natal, não nos estamos a queixar, mas gostávamos de ver o Jardim Botânico ou a Estufa Fria todos engalanados para a época.

O museu da pizza

54. O museu da pizza

A circunferência mais apreciada do mundo inteiro tem o seu próprio museu em Chicago.

Alguém se atrave a desafiar o valor patrimonial e pedagógico de uma pizza? É a melhor comida do mundo para explicar as formas geométricas – vem numa caixa quadrada, é redonda e corta-se aos triângulos – pode ser usada para exemplificar a roda dos alimentos (mas só a parte da “roda”) e está na origem de um dos debates mais inflamados dos últimos tempos: ananás na pizza, sim ou não? Por forma a premiar o valor cultural da circunferência comestível mais famosa do mundo, um grupo de entusiastas criou o U.S. Pizza Museum em Chicago. Em exibição neste museu está todo o tipo de artigos relacionados com esta comida: caixas de pizza raras, menus, anúncios antigos, mascotes de pizzarias e tudo o que tenha a ver com estes discos de tomate e queijo. Para além da colecção permanente, há workshops de como fazer massa, outros eventos de culinária e, é claro, degustações de pizza. Aqui em Lisboa percebemos que a prioridade seja o Museu do Bacalhau & Sardinha, mas vamos pelo menos pensar em atribuir à pizza uma ala, por exemplo, no Museu do Traje. É que o nosso amor por pizza é tanto que o molho de tomate nas nossas camisolas e camisas ameaça tornar-se um fashion statement.

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Ser detectives por um dia

55. Ser detectives por um dia

O crime não compensa, mas resolver crimes a brincar pode ser bem divertido. Inspiremo-nos nos eventos da Casebook.

Por alguma razão nunca demos ouvidos àqueles chamativos anúncios: “Jovem, se tens mais de 18 anos e o 12º ano completo, vem para a GNR!”. O entusiasmo do locutor e as imagens de jovens robustos a rastejar na lama não foram suficientes para nos fazer enveredar por uma vida de combate ao crime. Felizmente, existem maneiras de viver a emoção de ser um inspector da PJ sem ter de fazer a recruta e usar um blusão de cabedal. Os eventos Casebook, em Londres, são um exemplo disso. Trata-se de um “live mystery game”, ou seja, de uma espécie de Cluedo da vida real, onde os participantes têm de agir como detectives a braços com um caso real. Devem seguir pistas, entrevistar testemunhas (actores a seguir um guião) e resolver um crime. As histórias são complexas e bem escritas e os pseudodetectives têm de gastar os neurónios e as solas dos pés para chegar ao fundo do tacho. Os acontecimentos passam-se todos na zona de Ealing, em Londres, e a organização tem orgulho em trazer pessoas para uma zona da cidade onde normalmente não iriam. Cada aventura dura entre duas a três horas e custa perto de 50€. Gostávamos de ter um evento parecido em Lisboa e até temos uma ideia para o mistério. Vejam o que acham. Chama-se “De quem é este tupperware?” e é um caso bicudo em que os participantes têm de descobrir quem é o dono da caixa cheia de bolor que está na copa da redacção há meses.

Quiosques de Wi-Fi

56. Quiosques de Wi-Fi

Como os LinkNYC, uma espécie de aspersores de internet espalhados pelas ruas de Nova Iorque.

O wi-fi devia ser como a água – não se nega a ninguém. No entanto, e apesar da quase-omnipresença da internet invisível, às vezes é difícil arranjar dados à borla para saber, por exemplo, o caminho mais rápido para aquele café cuja password da rede está memorizada no nosso telemóvel. Em Nova Iorque o problema da escassez de internet ficou resolvido com os quiosques LinkNYC – chamam-se quiosques mas na verdade são uns monolitos elegantes, a lembrar o paralelepípedo alienígena do filme “: Odisseia no Espaço”. Os postos LinkNYC vieram substituir  cabines telefónicas obsoletas (e agora, onde é que o super-homem vai mudar de roupa?) para emitir internet de alta velocidade. Mas há mais: cada terminal é também uma estação de carregamento de telemóvel, com entradas USB para a maior parte dos modelos disponíveis no mercado; tem ainda um ecrã táctil com mapas e informações sobre a cidade e, por fim, permite fazer chamadas gratuitas entre telemóveis. Aí, das duas uma, ou fala directamente para o monólito, como um adorador louco desta nova tecnologia, ou liga os próprios phones à máquina, para ter alguma privacidade. O serviço é completamente gratuito, financiado pelos anúncios que aparecem nos ecrãs. Uma boa ideia para Lisboa e para os donos dos cafés da cidade, para quem dar a senha de wi-fi a alguém que não consome é o novo entrar-só-para-ir-à-casa-de-banhoe- nem-um-café-nem-uma-água.

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Um cinema invisível

57. Um cinema invisível

Depois das discotecas silenciosas, os cinemas invisíveis. Um truque de magia, ou melhor, de tecnologia, que chegou agora a Londres.

Sim, podemos argumentar que há dezenas de cinemas invisíveis por aí fora. Claro. Também podemos afirmar com toda a segurança que está neste momento uma orquestra silenciosa a tocar a nona de Beethoven. Mas o tema do Também Queremos desta semana é bastante real. E não, não corremos o risco de tropeçar nele. O cinema invisível é, como quase todas as novidades tresloucadas de hoje em dia em Londres, um evento pop-up. No dia  de Novembro, dezenas de pessoas juntaram-se numa sala do Regent Street Cinema para olhar para coisa nenhuma. Isto até porem uns óculos especiais que lhes permitiam ver o filme “Now You See Me”, sobre ilusionistas transformados em ladrões. O truque é relativamente simples e funciona assim: os ecrãs onde está a ser emitido o filme não têm polarização, por isso parecem vazios. Só ao colocar os óculos – óculos especiais, polarizados – é que a imagem se revela. O evento foi patrocinado por um banco e teve como grande objectivo alertar os jovens para os perigos da partilha de informações privadas através da internet. Nós por cá achamos um piadão à ideia de entrar numa sala e ver pessoas especadas a olhar para o vazio, mas ficamos mais entusiasmados ainda se nos falarem em cinemas a sério. E por que não tornar visíveis – e a funcionar – os muitos cinemas de bairro abandonados da cidade?

Uma festa monotemática

58. Uma festa monotemática

Sem DJ e com apenas uma música a tocar durante quatro horas. Foi assim no The Lexington, em Londres.

Anda aquela gente do Revenge of The s a esfalfar-se toda para montar festas assombrosas, ruidosas e brilhantes, untadas pelo sebo da nostalgia, quando há pessoas que se dão por satisfeitas por ir a uma discoteca ouvir uma música, sempre a mesma música, durante a noite inteira. Foi o que aconteceu a semana passada no The Lexicon, em Londres. Das  da noite às três da manhã, a única coisa que saiu daqueles altifalantes foi a canção “Africa”, dos Toto. Essa mesmo, a que está agora a tocar dentro do vosso cérebro. O clube nocturno passou  vezes clássicos dos anos  e deu descanso ao DJ. Absurdo? Sim, mas por dois bons motivos: primeiro porque “Africa” é uma canção incrível do qual dificilmente nos vamos cansar (ok,  audições é capaz de deixar mossa); e em segundo lugar porque a receita total da bilheteira foi para a Temwa, uma organização não governamental que procura reduzir a pobreza nas comunidades remotas do Malawi. Aos empresários de diversão nocturna de Lisboa deixamos esta sugestão: uma discoteca aberta a noite inteira a passar apenas “A Minha Casinha” dos Xutos, com todos os lucros a reverter para que o DJ possa pagar a renda de um T no Lumiar.

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Gelado que brilha no escuro

59. Gelado que brilha no escuro

Se por acaso faltar a luz no Scoop, em Londres, ninguém vai ter problemas em acabar a sobremesa.

Esta excentricidade gelada, uma espécie de Cornetto radioactivo, não é a única atracção da “Scoop, a Wonderful Ice Cream World”, exposição dedicada à sobremesa preferida de todas as pessoas que têm papilas gustativas e um coração. Nesta mostra organizada pela dupla de gastro-criativos Bompas & Parr é possível atravessar um nevoeiro com cheiro a baunilha – deve ser o mais próximo que conseguimos de inalar um pudim – e visitar o Conehenge, uma geladaria que serve apenas sabores extraordinários, como narciso (a planta), pepino ou pão com compota de laranja amarga. Há ainda uma parte de museu pura e dura – isto é, sem coisas para mastigar – onde podemos ver uma colecção de merchandising relacionado com gelados ou conhecer a história da Queen of Ices, uma cozinheira da época vitoriana que revolucionou o mundo das sobremesas geladas. O gelado que brilha no escuro é uma invenção exclusiva para esta exposição que pode ser visitada em Gasholders, Londres, até 30 de Setembro. Os seus criadores não revelam qual o ingrediente que o faz brilhar. Pelo sim, pelo não, o melhor é perguntar ao dentista quais os efeitos do urânio nos dentes desvitalizados.

Um festival nas alturas

60. Um festival nas alturas

Isto é, um festival em terraços como o ROEF, em Amesterdão.

A subida do nível do mar é real e parece inevitável. Isso quer dizer que, daqui a umas dezenas de anos, ter uma casa à beira-mar no Furadouro não vai ser tão bom quanto parece. E que nada, vamos lá ver, vai ser tão bom como dantes. A cidade de Amesterdão, construída abaixo do nível do mar e dependente de um engenhoso sistema de diques e canais, vive há mais tempo com este drama. Por isso faz sentido que seja este o berço do ROEF, um festival que se passa uns metros acima do solo, sempre em terraços. Até o campismo – qualquer festival a sério tem de ter campismo – é no topo de um prédio. Para além das boas vistas para a cidade, o programa inclui concertos, performances, DJs, gastronomia e um simpósio dedicado exclusivamente à temática dos terraços: debate-se o futuro dos rooftops, as hortas no cocuruto dos edifícios e maneiras de capitalizar o topo dos prédios. O festival tem 20 “palcos” espalhados pela cidade noutros tantos hotéis, restaurantes e bares. Mas mais do que uma festa, o ROEF procura sensibilizar as pessoas para a utilização racional destes espaços urbanos. Um dado curioso: em Amesterdão apenas 2% dos terraços são utilizados. Por cá, o único festival de rooftops deve ser organizado por bandos de pombos.

+ Guia completo dos festivais de Verão

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Uma loja para monstros

61. Uma loja para monstros

Lisboa tem cada vez mais gente excêntrica cujos gostos devem ser satisfeitos. Ou não vão eles trepar a Torre de Belém num ataque de fúria.

Chama-se Hoxton Street Monster Supplies, fica em Londres e gaba-se de vender, desde 1818, artigos para os vivos, os mortos e os mortos-vivos. É um bom nicho de negócio, sobretudo porque o público-alvo inclui toda a gente que já viveu e até aquelas pessoas que estão mais para lá do que para cá. Nesta loja vende-se bolachas para dragões, compota de ranho, cera de ouvido em cubos, ratos petrificados, sal feito a partir de vários tipos de lágrimas ou pastilhas para tirar o mau hálito a zombies. Enfim, os essenciais para quem passa a vida a aterrorizar. Mas como já devem ter calculado, pela falta de seres míticos, vampiros, supervilões e répteis voadores no nosso dia-a-dia, esta loja é só fachada – a fachada para um projecto de literacia infantil liderado pelo escritor Nick Hornby. É um sítio onde os garotos vão para ter a sua imaginação tonificada, uma escola onde são encorajados a ler e a escrever histórias. Isso significa que o fio dental para monstros é apenas um cordel normal, e que o “jarro de luar”, indicado para lobisomens que não querem esperar até à próxima lua cheia, é apenas um minicandeeiro. As vendas destes adereços ajudam a financiar workshops, cursos e o acompanhamento de jovens criadores de monstros. Ou melhor, jovens contadores de histórias.

Um spa de cerveja

62. Um spa de cerveja

Quem é que não se sente mais bem disposto depois de umas imperiais? O Bjórböðin, na Islândia, leva essa ideia mais longe.

As propriedades relaxantes da cerveja são sobejamente conhecidas. Mas para um grupo de produtores de cerveja islandeses, a ideia de beber aquele líquido dourado ao final do dia não era suficiente. Foi aí que se lembraram de fazer umas termas de cerveja, a única maneira de nos fazer gostar de cerveja quente: dentro de umas barricas redondas de madeira é colocada uma espécie de cerveja não-fermentada – não é cerveja morta, é cerveja recém-nascida – em conjunto com água geotermal de fontes naturais, levedura (é rica em vitamina B, dizem) e óleos essenciais. Os efeitos desta mistura são uma pele reluzente e uma ligeira ruborização das faces, fenómeno que também se costuma verificar na cara de quem bebe umas cervejas a mais. À disposição dos banhistas há um sabonete de cerveja e uma torneira de cerveja fria, para quem quer ter cerveja dentro do corpo e à volta dele. Um tratamento no Bjórböðin Beer Spa, que fica ao lado de uma microprodutora de cerveja artesanal, demora 25 minutos e custa 65€ por pessoa. Não inclui, infelizmente, um banho de tremoços.

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Um robô-almeida

63. Um robô-almeida

Isto é, um robô que limpa o lixo, como o Trashbot de Chicago

É aproveitar enquanto as máquinas não ganham consciência e começam a dominar o mundo, eliminando os humanos um a um – a começar por aqueles que já deixaram cair os telemóveis na sanita e os que acham que bater na TV ajuda a resolver problemas de transmissão. Nos EUA, a associação Chicago Rivers quer aproveitar enquanto estamos nas boas graças dos autómatos para limpar os rios. O Trashbot, o robô- -almeida, patrulha as águas do rio sorvendo todos os detritos que andam à superfície. É um projecto ainda em fase de testes, mas com resultados prometedores – o robô ainda não se afundou nem encalhou, o que são boas notícias. Esta espécie de drone telecomandado com consciência ambiental tem uma particularidade fascinante: quem faz a recolha do lixo – isto é, quem o comanda – somos nós. Ou seja, qualquer pessoa em qualquer parte do mundo pode participar na recolha do lixo: basta uma ligação à internet, um acesso ao site do Trashbot e podemos estar no sofá, de cuecas, a participar na limpeza do Chicago River. O lixo que anda por lá a boiar é suficiente para garantir horas de entretenimento. Em Lisboa, gostávamos de ver um robô em forma de tainha gigante a limpar o Tejo, ou um drone aspirador a apanhar cocós de cão nos passeios.

Um bar inspirado no Black Mirror

64. Um bar inspirado no Black Mirror

A distopia televisiva preferida de todos nós deu origem a um bar em Londres. Mas o que é que uma série tem a ver com cocktails?

A  explicação é um pouco rebuscada. O recém-inaugurado The Grid é um cruzamento de um bar com uma escape room, que tem como objectivo criar uma experiência etilizada que vai beber (ah ha) influências à série de TV. Os participantes (ou clientes) são convidados a entrar numa empresa de inteligência artificial chamada Neosight. Lá dentro vão participar numa série de experiências que têm como objectivo ensinar as máquinas a pensar mais como os humanos. E é nesta posição de cobaia que se bebem cocktails futuristas, poções que deixam os convivas com a disposição certa para enganar as máquinas e escapar dali com vida. Os pormenores desta última parte não são revelados para não estragar a surpresa, mas está visto que uma pessoa não pode ir sossegada para os copos com os amigos sem dar por si num cenário pré-apocalíptico em que as máquinas estão prestes a dominar o mundo. Enfim. O The Grid é mais uma ideia dos inventores do bar temático dedicado à série “Breaking Bad” e do Bunyadi, um famosíssimo restaurante nudista. Cá por Lisboa torcemos por um bar de cocktails sofisticado que se inspire em “Nico d’Obra” ou “Duarte & Companhia”. 

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Um bailarico num porta-aviões

65. Um bailarico num porta-aviões

Como a Battle of The Big Bands no convés do Intrepid, em Nova Iorque.

Lisboa não é Nova Iorque. Certo. Não há nenhum porta-aviões nuclear atracado no Tejo. Tudo bem. E não há tradição de big bands em Portugal. De acordo. Mas vamos inspirarmo-nos nestas festas temáticas para criar uma coisa só nossa. Ideia: um concurso de bandas filarmónicas no casco de um dos submarinos da Marinha Portuguesa. Imaginem o Delfim e o Barracuda, nas margens de Lisboa, a servir de palco para um conjunto de músicos a interpretar o melhor de Mantovani. Sucesso garantido. A Battle of The Big Bands repete-se há três anos neste porta-aviões da guerra da Coreia entretanto transformado em museu – ali perto há ainda um Concorde e um vai-e-vem espacial visitáveis. Trata-se de um evento revivalista dos anos 40 com várias bandas a competir por um lugar entre as melhores do mundo a interpretar os standards daquela década. Os pés de chumbo são bem-vindos a este evento de dança hiper-específico, onde há lições para quem não nasceu nos anos 20 e gostava de saber dar os passos certos. Basta olhar para a quantidade de eventos de lindy hop que há em Lisba para perceber que este é um conceito vencedor na nossa cidade. Talvez nem um porta-aviões chegue para acomodar tanto bailarino.

Um museu tripante como este

66. Um museu tripante como este

O Digital Art Museum do colectivo TeamLab abre este Verão e promete ser o sítio mais instagramável do mundo

Parece mesmo que o mundo da arte também se está a adaptar à cultura dos “shares” e dos “likes”. Veja-se o caso da última exposição de Bordalo II, em Lisboa, que se tornou um fenómeno nas redes sociais antes de ser um fenómeno de bilheteira. Obras de arte grandes e vistosas atraem público que quer acrescentar beleza e alta cultura ao seu feed pessoal. É por isso que a internet está louca de entusiasmo com o Mori Building Digital Art Museum TeamLab Borderless (nome completo, ufa) em Tóquio, que vai abrir este Verão. Por detrás desta extravagância digital multicolorida está um colectivo de artistas que se descrevem como “ultra-tecnologistas”, conhecidos pelas suas instalações interactivas de encher o olho. Neste museu, localizado na ilha de Odaiba, vão ter 10.000 metros quadrados para brincar. As primeiras imagens mostram uma série de paisagens criadas artificialmente que nos fazem lembrar um screen saver do Windows em ácidos; ou um videomapping feito por um gabinete criativo formado exclusivamente por extraterrestres. É o mais próximo, parece-nos, de visitar paisagens alienígenas sem sair deste planeta.

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Yoga galáctico

67. Yoga galáctico

Não faltam por aí espaços de yoga. Mas e um yoga no espaço?

Parece que nos dias de hoje o yoga é a actividade física mais versátil do mundo. Existe yoga em miradouros, terraços e marquises. Yoga quente, yoga frio, yoga integral e yoga refinado. Uma pessoa caminha por Lisboa e, se se distrai um pouco, pode dar por si a fazer alongamentos numa sala cheia de desconhecidos a tentar conter os movimentos dos intestinos. Os londrinos levaram mais longe esta obsessão – levaram-na até ao espaço. Não é yoga em gravidade zero (fica a ideia!), mas sim uma nave espacial onde os praticantes podem estender os seus tapetes e distender os músculos. O evento chama-se Flow Yoga and Space Rave e organiza saudações ao Sol num aparelho que parece servir para dar umas voltas no sistema solar: uma sala decorada como o interior de uma nave que, na verdade, é a sede do cinema Mission to Mars, onde no resto dos dias se organizam sessões especiais de ficção científica. Em Lisboa gostávamos de ver yoga no Planetário ou aulas no 28 da Carris, onde o contorcionismo e a elasticidade dos nossos membros é constantemente posta à prova.

Um evento aborrecido

68. Um evento aborrecido

Como a Boring Conference, em Londres, dedicada aos assuntos mais entediantes do mundo. É um sucesso de bilheteira.

Vamos admitir: somos doidos por secas. Nada como uma entusiástica palestra sobre um assunto prosaico. Um monólogo longo e hiper-específico acerca de um tema banal. E é exactamente isso que se passa na Boring Conference, um evento que celebra as coisas comuns e as pessoas apaixonadas pelo (aparentemente) aborrecido. O evento deste ano esgotou dias depois de o alinhamento ter sido anunciado, o que nos coloca uma questão interessante: se um evento que é propositadamente entediante se torna um sucesso, será que continua a ser uma seca? O alinhamento dos anos anteriores incluiu palestras sobre espirros, torradas, caixas registadoras, o som que fazem as máquinas de venda automáticas e uma esclarecedora conversa sobre códigos de barras. Este ano vão ser abordados assuntos igualmente fascinantes como as semelhanças entre os 198 hinos nacionais que existem no mundo e as formas de cozinhar refeições elaboradas usando apenas os electrodomésticos à disposição num quarto de hotel. Cada um dos 20 oradores tem 10 minutos para fazer a audiência bocejar de entusiasmo, numa espécie de Ted Talk do desânimo – uma Tédio Talk? A Boring Conference é uma ideia de um empregado de escritório chamado James Ward que toda a vida foi fascinado pelo banal: “Há coisas que são consideradas triviais e sem sentido, mas quando olhamos para elas de perto percebemos que, na verdade, são profundamente fascinantes”, justificou-se ao The Guardian.

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Hortas nos terraços dos prédios

69. Hortas nos terraços dos prédios

Em Barcelona, o Laboratório para a Justiça Ambiental quer dar um novo significado à expressão “o vizinho tem um raminho de salsa que dispense”?

Ou seja: o vizinho tem um jardim de cheiros que dispense?  Uma plantação de legumes que dê para uma sopa? O município de Barcelona decidiu começar a usar os terraços dos prédios da cidade para criar hortas urbanas uns metros acima do solo. A boa exposição solar é uma das justificações para a iniciativa, mas há razões mais interessantes por detrás deste ímpeto de agricultura urbícola: as hortas ajudam a fortalecer laços entre a comunidade, ajudam a combater o stress e são uma oportunidade para reduzir o sedentarismo junto da população mais velha. O Laboratório para a Justiça Ambiental de Barcelona, que lidera o plano, decidiu envolver nestas actividades os seus cidadãos “socialmente vulneráveis”. A saber: pessoas portadoras de deficiência, imigrantes, crianças e idosos. Neste projecto, mais do que o bem-estar das plantas, importa a saúde das pessoas que cuidam delas. Existem neste momento dois jardins no topo de dois prédios na capital da Catalunha, mas o projecto quer ser a semente de uma ideia que pode muito bem germinar por esse mundo fora. Em Lisboa, podíamos deixar de ser uns vaidosões com as nossas vistas de rio, os nossos sunsets e degustações de gin. E começar a usar os terraços para nos ajudarmos uns aos outros.

Um cemitério muito cultural

70. Um cemitério muito cultural

Vamos dar vida a um cemitério com um nome tão sugestivo como o dos Prazeres? Vejamos Green-Wood.

Não é um sítio para onde uma pessoa se desloque com entusiasmo. Mas acabamos todos por passar por lá, nem que seja apenas uma e derradeira vez. Muitos deles são jardins encantadores, com o único senão de serem, também, plantações de pessoas. Em Nova Iorque, o cemitério de Green-Wood é local de romarias animadas para concertos, sessões de cinema e passeios de domingo. Os moradores não se queixam de esta necrópole com 180 anos ser um destino cultural de eleição. Esta Primavera tem havido concertos nas catacumbas – é dificil imaginar um sítio mais solene e silencioso – e cinema ao ar livre, mas mesmo quem não está a fim deste tipo de animação pode visitar o cemitério para admirar a arquitectura tumular: há mausoléus, capelas funerárias e esculturas dignas de museu. O cemitério organiza também os Death Cafés (ou “Cafés da Morte”), reuniões informais onde cientistas, filósofos, historiadores e artistas se juntam para discutir o fenómeno da morte. Isto é tudo muito giro, mas se por acaso começar um apocalipse zombie, o cemitério de Green-Wood deve ser dos piores sítios do mundo para se estar.

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Um túnel de vento

71. Um túnel de vento

O Bodyflight, em Londres, promete recriar a experiência do pára-quedismo sem a parte do pára-quedas. E sem as quedas.

É daquelas palavras hifenizadas muito literais, muito práticas, como quebra-nozes ou conta-gotas: pára-quedas. O problema do pára- -quedismo é a possíbilidade de essa mochila salva-vidas (mais uma) não funcionar e o nosso corpo esfarelar-se com violência ao embater no solo. Felizmente, para todas as pessoas que querem conhecer as sensações da queda livre sem encarar de frente a morte, há túneis de vento verticais recreativos como o Bodyflight, em Londres. Um complexo sistema de motores e ventoinhas cria uma massa de ar ascendente a 290 km/h que permite a qualquer pessoa voar uns metros acima do chão. Cada aventureiro tem direito a dois voos de um minuto e quinze segundos, tempo mais do que suficiente para decidir se tem queda para o pára-quedismo (ah ah). O Bodyflight aproveita um engenho militar criado nos anos 50 para testes aerodinâmicos e transforma-o numa máquina que permite a qualquer ser humano atirar-se para o chão e falhar. Cada experiência fica a mais de 100€. É caro, mas respeita o céu enquanto território exclusivo das aves.

Um campeonato do mundo do outro mundo
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72. Um campeonato do mundo do outro mundo

Isto é, de nações, enclaves ou territórios ocupados que não são reconhecidos pela FIFA. Alguém vai querer perder um Abecásia – Tibete?

No Campeonato do Mundo FIFA 32 países disputam entre si o título de melhor conjunto de pessoas a dar chutos numa bola. Mas há outros desafios, tão ou mais interessantes, que opõem países que têm problemas em ser reconhecidos como tal. Começa esta semana, em Londres, o Campeonato do Mundo da CONIFA, a Confederação de Associações de Futebol Independentes. Vão entrar em campo craques como Ruslan Shoniya, o melhor marcador da selecção da Abecásia, uma região no Norte da Geórgia cuja independência é apenas reconhecida pela Rússia e a Venezuela; e Tenzin Thardoe, o camisola 10 da equipa do Tibete, que nunca jogou futebol profissional. A mais recente edição deste campeonato disputa-se em Londres e coloca frente a frente 16 equipas que são, muito resumidamente, países dentro de outros países – imaginem uma matrioska de nações, mas em que a matrioska grande não reconhece a existência de uma mais pequena. “São gases”, dirá essa matrioska. O evento não justificou a criação de uma caderneta Panini, mas os objectivos da CONFIFA estão à margem do lucro. O que esta confederação quer é chamar a atenção para nações, identidades e grupos étnicos que estão esquecidos ou oprimidos.

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Um beer garden à séria

73. Um beer garden à séria

Uma mistura de esplanada, terraço e jardim para consumir bebidas fermentadas à base de cevada e lúpulo.

Em Lisboa somos abençoados com uma abundância tal de luz celeste que nos esquecemos de lhe dar valor. É por isso que devíamos inspirarmo-nos em projectos como o The Prince, um food hall de vários restaurantes que inclui o maior beer garden de Londres, cidade onde o Sol aparece com menos frequência. Atenção: um beer garden não é um jardim feito de cerveja, mas sim um lugar ao ar livre onde se podem degustar imperiais e seus derivados. É, por regra, um espaço aberto, com vegetação abundante. Em Lisboa temos muitas esplanadas, mas falta-nos ainda uma pérgula, um caramanchão ou uma estrutura forrada a aristolóquias para podermos dar-nos por realizados – aristolóquias são trepadeiras, não precisam de ir googlar. O The Prince abriu esta Primavera e respeita a tradição inglesa de beber um copo ao fim do dia; e a tradição ainda mais inglesa de chover, por isso tem um tecto amovível para que não se junte água à cerveja. Os beer garden, uma tradição com origem na Bavária, têm outra característica: bancos corridos e mesas compridas, para empernar com desconhecidos e debater quem é que fica com o último tremoço.

O melhor de Lisboa

  • Restaurantes

Os críticos da Time Out visitam os restaurantes anonimamente e pagam pelas suas refeições – o mesmo é dizer, como qualquer cliente – e, na melhor parte dos casos, repetem a visita antes de se pronunciarem. Acresce que nenhum restaurante é criticado antes de cumprir três meses de porta aberta e, por princípio, nenhum é aclamado com cinco estrelas ou despachado com apenas uma sem que um segundo crítico subscreva essa avaliação. 

40 Coisas Incríveis Para Fazer em Lisboa
  • Coisas para fazer

Lisboa é tão bonita que há quem lhe chame Lisbonita. Há também quem fale da luz, que parece ferir a vista, sobretudo quando reflectida numa parede de azulejo. E há ainda quem diga que as pessoas são simpáticas e que as ruas, mesmo que desenhadas em colinas difíceis de calcorrear, são inspiradoras. Juntámos quatro dezenas de ideias e criámos uma lista com sugestões de coisas para fazer. 

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  • Coisas para fazer

Nota prévia: esta é uma lista que tem tudo para crescer em tamanho, não fosse Lisboa uma das melhores cidades do mundo e arredores. Não encare portanto estas paragens como um guia definitivo mas antes como um aperitivo para todas aquelas propostas que ficaram de fora (por agora) deste nosso menu. Opte por calçado confortável e venha daí.  

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