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A pergunta é simples e a resposta ainda mais singela. “O que é que você pinta?”, pergunta o internado num asilo ao debilitado, física e mentalmente, Vincent van Gogh, que responde: “A luz do Sol.” O que é uma excelente descrição para a pintura e o caminho escolhido por Julian Schnabel para traçar o retrato pungente e atormentado dos últimos dias do pintor holandês em À Porta da Eternidade.
O preto e branco suave que explora a vasta gama de cinzentos entre a ausência de cor e a mistura de todas elas, parece, à primeira impresssão, uma forma peculiar de contar a vida de um artista para quem a cor, principalmente à luz do sol, definiu uma obra que, depois de ignorada, aos poucos, com o tempo por juiz, se tornou das mais importantes e influentes. Todavia, esse preto e branco, manipulado pelo realizador, é, simbolicamente, uma maneira astuta e bela de contar as tempestades que afectavam o espírito de um homem para quem a representação pictórica era um trabalho da alma, uma manifestação de um tumulto, aditivado pelo álcool, que contra tudo, incluindo os seus pares, insistia no seu caminho. Mesmo que não vender os quadros, como aconteceu ao longo da sua curta vida de 37 anos, implicasse uma existência rodeada de incompreensão e quase sempre de miséria ou à beira dela, ocasionalmente amenizada pela intervenção do irmão – a bem dizer o único que acreditava realmente no seu talento raro.
Para aqui chegar, a este caminho pelo interior do cérebro de um génio, o realizador nova- iorquino contou como uma interpretação de Willem Dafoe que não só coloca o actor no caminho dos Globos de Ouro e dos Óscares, como ainda mostra aos mais distraídos a capacidade do actor em transformar-se na personagem, com ela vivendo as dores, o isolamento, mas também a visão de quem procurava a luz perfeita como quem busca o seu Graal.
Por Rui Monteiro