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A Partir de uma História Verdadeira

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A Partir de uma História Verdadeira
©DR
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A Time Out diz

4/5 estrelas

Nem tudo são rosas na vida de
um escritor de sucesso. Que o diga Delphine (Emmanuelle Seigner), a heroína de A Partir de uma História Verdadeira, de Roman Polanski, que também escreveu o argumento, com Olivier Assayas, a partir do romance de Delphine de Vigan. Escritora famosíssima, acabou de publicar mais um best-seller, um romance autobiográfico sobre a sua falecida mãe, com a qual não teria a melhor das relações, segundo fica implícito numa sequência onírica.

Apesar da adulação dos seus leitores,
 que fazem filas de horas para ter um livro autografado, e de ser apaparicada pela agente e editores, Delphine sente-se incomodada, asfixiada por toda a movimentação em seu redor. E é uma mulher solitária. Não tem muitos amigos e está separada do marido, que apresenta um programa sobre livros 
na televisão, e o filho e a filha estão ambos a estudar fora de Paris e ela fala irregularmente com eles.

Um dia, sai-lhe ao caminho uma admiradora, Elle (Eva Green), com a qual começa a conviver e a ter empatia. Elle é uma ghostwriter (figura à qual, por coincidência, 
o realizador já dedicou um filme, O Escritor Fantasma, em 2010), que escreve, na sombra, livros para figuras públicas.

Também por isso, por a reconhecer como sendo oficial do mesmo ofício, Delphine acaba por lhe dar acesso à sua intimidade, recebendo-a mesmo em casa quando a amiga tem que deixar vago inesperadamente o apartamento alugado onde vivia.

Muito bonita, enigmática e emocionalmente muito instável, Elle começa pouco a pouco a insinuar-se no dia-a-dia de Delphine, a instigá-la a abandonar o projecto de livro novo que ela tem e a avançar para o livro que ela não sabe que quer escrever, mas que germina no seu subconsciente. E também a separá-la das pessoas com quem contacta mais habitualmente, a monopolizá-la para si e para a escrita. Será Elle uma perigosa sociopata com um passado criminoso, ou apenas uma fã possessiva e patologicamente ciumenta, e armada em mentora?

Melhor: será que ela existe mesmo, ou é uma criação da própria Delphine, uma figuração da mulher que ela gostava de ser mas não consegue? Ou será que Delphine perdeu temporariamente o pé da realidade e Elle não é mais do que um fruto da sua perturbação mental?

Em A Partir de uma História Verdadeira, Polanski recupera as atmosferas psicóticas, opressivas, de fronteira entre o real e a alucinação, e as personagens assombradas de outras realizações suas, como Repulsa, What? ou O Inquilino, para nos dar um filme que acaba por ser como que o anti-Misery, já que o enredo contraria todas as nossas expectativas.

Aquilo que pensamos que vai acontecer nunca acontece, e A Partir de uma História Verdadeira não se transforma num policial com aura sobrenatural, num thriller erótico-chic ou numa estopada “conceptual” sobre a criação literária.

Polanski e Assayas deixam-nos na dúvida quase até ao fim, apesar de, ao pensarmos bem no filme depois de o termos visto, eles haverem espalhado suficientes pistas e sugestões sobre o que estão a fazer, nas entrelinhas da interacção cada vez mais inquietante entre a Delphine cansada, pesada e sem glamour nenhum de Seigner, e a Elle afirmativa, dominadora e carregada de sensualidade de Green.

Tal como não se pode julgar um livro só pela capa, também não se deve ajuizar um filme pelo comportamento das personagens. Sobretudo se uma delas for uma escritora em panne criativa.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Elenco e equipa

  • Realização:Roman Polanski
  • Argumento:Roman Polanski, Olivier Assayas
  • Elenco:
    • Eva Green
    • Emmanuelle Seigner
    • Vincent Perez
    • Alexia Séféroglou
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