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A Pereira Brava

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A Time Out diz

5/5 estrelas

Só mesmo um grande realizador pode pegar numa situação tão banal, tão batida, como um beijo entre um homem e uma mulher sob um ramo de árvore agitado pelo vento, e filmá-la como se fosse nova. O turco Nuri Bilge Ceylan fá-lo no seu filme mais recente, A Pereira Brava, ao mesmo tempo que reitera o seu notável talento visual, o sentido da imagem inédita e da beleza plástica que arrebata, associados à capacidade de transmitir sentimentos e estados de espírito através da paisagem e dos elementos. Nos seus filmes – e isso acontece aqui de novo – a neve não é só um mero fenómeno meteorológico. É também um sinal exterior do que vai por dentro das personagens, um correlativo de uma situação emocional e anímica específica.

A este virtuosismo da câmara, Ceylan junta a pertença a uma espécie em vias de extinção: o realizador de "ideias". Os seus filmes conseguem, como só alguma grande literatura, tratar com uma profundidade e uma sensibilidade raras no cinema as relações entre os homens e as mulheres, e os membros de uma família,
ou a angústia, a perplexidade e o comportamento ante o mundo, os outros, e as escolhas, dilemas e obstáculos da existência. É um cineasta que pensa e reflecte, através das suas personagens e com elas, e o faz guiado por uma ideia constantemente cinematográfica.

Em A Pereira Brava, o jovem Sinan volta à vila natal vindo de Istambul, e da universidade em que se formou, enquanto tenta publicar o primeiro livro e dar rumo à vida: fazer o exame para professor, ir à tropa, casar? Não é ajudado pelo que encontra em casa. O pai, professor primário, joga e está cheio de dívidas, deixando a mãe e a irmã em situação embaraçosa e precária.

Crónica de uma frustração pessoal, do desencontro azedo entre um filho e o seu pai, e da tacanhez da vida
 no interior da Turquia, A Pereira Brava é um filme mais tagarela que o habitual em Ceylan (até se fala em religião e em política), mas nem por isso ele abdica dos seus longos silêncios, da sua natureza contemplativa e da atenção à paisagem. E toda a beleza e emoção contidas na surpreendente sequência final entre pai e filho, coroam de forma admirável um filme com mais de três horas que nunca exasperam ou pesam no espectador.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Classificação:15
  • Data de estreia:sexta-feira 30 novembro 2018
  • Duração:183 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Nuri Bilge Ceylan
  • Argumento:Nuri Bilge Ceylan, Akin Aksu, Ebru Ceylan
  • Elenco:
    • Hazar Ergüclü
    • Murat Cemcir
    • Serkan Keskin
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