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Luz da Minha Vida

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  • 3/5 estrelas
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Luz de mi vida
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A Time Out diz

3/5 estrelas

Luz da Minha Vida, filmado, escrito e interpretado por
 Casey Affleck (a sua segunda realização após I’m Still Here), começa com um plano fixo de 12 minutos em que, no interior de uma tenda de campismo,
 um pai (Affleck) conta à filha (Anna Pniowsky) uma longa e complicada história sobre um raposo e uma raposa apanhados pelo dilúvio bíblico. A certa altura, Rag, a filha, pergunta ao pai se a raposa, de nome Goldy, era “a única fêmea da sua espécie”.

A questão pode parecer anódina e ingénua. Mas faz todo o sentido no contexto em que 
a menina e o pai se encontram. Eles não estão a fazer campismo e na manhã seguinte não farão 
a trouxa e regressarão de carro a casa, onde o resto da família os espera para jantar.

Rag e o pai estão a procurar sobreviver num futuro próximo do nosso, em que uma estranha e terrível epidemia matou quase todas as mulheres e causou uma catástrofe social. A menina é uma das raras que tem imunidade à doença que levou a mãe (Elizabeth Moss, num pequeno papel).

Para a proteger, o pai fá-la passar por rapaz, papel que Rag desempenha quase sempre
 de forma inatacável (um dos momentos mais delicadamente comoventes de Luz da Minha Vida é quando pai e filha se instalam provisoriamente numa casa isolada e vazia, e Rag descobre, com a alegria própria da idade – e de quem está farta de fingir ser um rapaz –, que as roupas, e em especial os vestidos da menina que ali viveu, lhe servem como uma luva.)

Luz da Minha Vida é uma história pós-apocalíptica, mas anti-espectacular, intimista e centrada na relação entre pai e filha, recordando mais A Estrada do que outros filmes do mesmo género, em que as peripécias violentas são mais importantes do que as personagens e aquilo que as une na adversidade e num cenário de colapso colectivo da existência humana.

Casey Affleck rodou uma parábola sobre o amor paternal, e os laços que unem um pai e uma filha numa situação de dificuldade extrema e perigo constante, e não de normalidade familiar e doméstica, que usa as roupas de fita de ficção científica catastrofista.

Em Luz da Minha Vida, pai e filha estão sozinhos contra o resto do mundo e o pior pode suceder-lhes a qualquer momento, no meio de uma floresta, enquanto caminham por uma estrada ou durante uma rápida visita para comprar provisões numa cidade onde aqueles que escaparam à tragédia tentam organizar-se. Daí que a única, mas grande implausibilidade do filme, seja que a personagem de Affleck não esteja armada.

Numa situação destas, é um óbvio ululante que o pai deveria estar de posse do máximo poder de fogo que pudesse transportar, em nome da protecção da filha
 e da sua própria defesa (lá mais para diante na história, há uma espingarda que desempenhará um papel decisivo.)

O filme, escuro, tristonho e visualmente áspero, passa-se todo no Inverno. Os dois andam à procura de um lugar onde possam ficar em segurança durante um espaço de tempo prolongado, e a certa altura rumam à casa dos avós da personagem de Affleck, que fica algures nas montanhas, levando assim Luz da Minha Vida para paragens do western.

Embora nem sempre evite a redundância ocasional, Casey Affleck filma com segurança e sobriedade. Tem na jovem Anna Pniowsky uma actriz à altura do que o argumento lhe pede, e vão um com o outro como o pão e o queijo. Luz da Minha Vida é um filme distópico que, por mérito próprio, encontra o seu lugar num cantinho do género.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Classificação:15
  • Data de estreia:sexta-feira 16 agosto 2019
  • Duração:119 minutos
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