[title]
O novo filme de Terrence Malick, Música a Música, passa-se em Austin, bem no centro da cena musical texana. Tem entre as personagens principais um compositor e músico que aspira a ser famoso (Ryan Gosling), um poderoso e volátil promotor musical (Michael Fassbender) e uma jovem autora de canções (Rooney Mara). E conta com as participações de gente como Iggy Pop, Patti Smith, Lykke Li ou os Red Hot Chili Peppers. Pois Malick consegue que o filme seja completamente insensível, duro de ouvido, impermeável à música, de que se serve como um mero, banal, secundário adereço.
Não há nada de novo ou de surpreendente em Música a Música, onde o realizador volta a bater nas teclas familiares: vazio de história (Malick gosta de filmar sem argumento, à bolina), jiga-joga visual em moto contínuo, personagens de papel vegetal quase sempre inexplicavelmente angustiadas, que vagueiam por toda a parte acompanhadas por uma narração em off feita de banalidades superficiais a fingir que são meditações profundas, e outras personagens que estão em cena dois ou três minutos e desaparecem para nunca mais voltar (as de Val Kilmer e Holly Hunter praticamente não fazem nada, e a de Christian Bale foi cortada da montagem final, por exemplo).
Também como sempre, o filme é lindíssimo (Emmanuel Lubezki volta a assinar a fotografia, usando e abusando da grande angular), mas Música a Música é só superfície, gesto visual sem discurso narrativo e envolvimento dramático, embalagem vistosa sem nada lá dentro. Vê-lo é como estarmos na companhia de uma mulher lindíssima e elegantíssima, mas afásica.
A única coisa que fica deste filme que perambula por mais de duas horas, são as magníficas casas onde se passa (só a personagem de Michael Fassbender tem três ou quatro, cada uma mais luxuosa do que a outra) que parecem ter sido seleccionadas por Terrence Malick de um número “especial moradias de sonho” da Architectural Digest.
Música a Música acaba por ser menos um filme sobre música, músicos e canções, do que sobre imobiliário para milionários.
Por Eurico de Barros