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Na Via Láctea

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Na Via Lactea - Emir Kusturica
©Petr Nasic
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A Time Out diz

3/5 estrelas

‘Na Via Láctea’ tem o Emir Kusturica do costume, numa história de amor nebulosa em plena Guerra da Bósnia com muito caos pelo meio.

Ora, como é costume no cinema de Emir Kusturica, este regressa ao território e ao tempo da Guerra da Bósnia para encenar, no meio de grande fogo de artifício, a história de amor entre um leiteiro sérvio comprometido e uma misteriosa refugiada ítalo-sérvia ainda mais comprometida.

Entre um cenário de caos e destruição e nonsense, com as forças conflituosas, as tropas das Nações Unidas, mais um senhor de guerra em missão militar-sentimental e seus comandos, uma cobra com gosto por leite e mau feitio e um falcão pouco leal; um sortido de bandidos, ciumeira, muito álcool e tiroteio e inevitável pop balcânica... Enfim, a cacofonia cinematográfica habitual. Pois se há alguma coisa de novo em Na Via Láctea é o realizador fazer no seu filme o que tem feito no de outros: representar.

Ainda estará longe o dia em que “ver um Kusturica” ao domingo em televisão de canal aberto será um entretenimento tão normal, saudável e alienatório como hoje é passar a tarde a ver (não há maneira de dizer isto sem incomodar alguém) Virgem aos 40 Anos ou o Batman de Tim Burton. Exagero? Admito. A verdade, contudo, é que a última película com valor no portefólio do director sérvio, Gato Preto, Gato Branco, já tem quase 20 anos. E longe está a época em que No Tempo dos Ciganos (1988) confirmava um cineasta prometedor e estimulante, ou Era Uma Vez um País (o título português de Underground, de 1995) parecia mostrar um génio em acção. Kusturica passou a ser uma marca, prolongada por outros filmes e documentários e por música e por entrevistas entre o polémico e o estapafúrdio. Uma marca (ou um estilo, para os mais sensíveis) nem de todo desagradável, antes frustrante prova da cristalização de uma forma de contar por imagens e sons em que a repetição fez do fascínio tédio.

Sons (responsabilidade de Stribor Kusturica), mantendo o hábito, não faltam e são, de certo modo, parte integrante do argumento. Assim como a fotografia (Martin Sec, Goran Volarevic) exemplar e, por vezes, tão profundamente bela e meditativa como, por outras, tão caoticamente demonstrativa da destruição.

O busílis é a maneira como Kusturica engendra a história e, principalmente, como integra a personagem interpretada por Monica Bellucci e ilustra a paixão da desejada por um senhor de guerra e uma, digamos, personalidade local, com uma história cabeluda mas nunca revelada por detrás, que acaba arrebatada por um leiteiro melancólico no meio de uma miríade de metáforas – supõe-se, porque podem ser só umas ideias soltas a fazer de complexidade semi-óptica.

Por Rui Monteiro

Escrito por
Rui Monteiro

Detalhes da estreia

  • Duração:125 minutos
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