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O Cavalheiro com Arma

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  • 5/5 estrelas
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Eric Zachanowich
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A Time Out diz

5/5 estrelas

Feliz de quem pode ganhar bem a vida a fazer aquilo que mais gosta e para o que sempre sentiu vocação. Forrest Tucker, o protagonista de O Cavalheiro com Arma, interpretado por Robert Redford no seu adeus ao cinema enquanto actor, é uma dessas pessoas.

O grande senão é que Forrest Tucker gosta de roubar bancos. Não faz outra coisa desde muito novo – e já é avançado nos anos, tal como Robert Redford, que tem 82 no contador – e no seu caso, a coisa toma contornos de vício (a personagem é tirada da vida real e o verdadeiro Tucker foi objecto de um longo artigo na New Yorker, em 2003).

A outra particularidade de Forrest Tucker é que assalta bancos como um cavalheiro, usando fato, gravata e chapéu, e uma arma no bolso que mostra discretamente aos caixas. “Parecia um gentleman”, dizem às tantas os caixas à polícia, tal como o gerente de um dos muitos bancos assaltados.

As boas maneiras não desculpam o acto criminoso, mas atenuam-no um pouco em O Cavalheiro com Arma. Da forma como Redford personifica Tucker, ficamos com a certeza que ele nunca disparou, nem nunca disparará aquela arma que transporta no bolso do casaco de bom corte. (Como aliás fica sugerido no culminar da sequência em flashback da perseguição de automóvel.)

Aos 82 anos, e com um currículo atrás de
si que muito poucos no cinema americano podem emular, Robert Redford habita Forrest Tucker como só uma verdadeira estrela consegue: usando toda a memória do seu passado cinematográfico e com a economia de gestos, palavras, expressões, comportamentos e emoções de um actor que já não tem nada
 a aprender, a exibir ou a provar. Ele e Clint Eastwood são, em Hollywood, os últimos mestres da interpretação que transmite ou sugere o essencial com o mínimo.

Todo o filme e todo o restante elenco, uma feliz e homogénea mistura de veteranos como Redford e de gente mais nova, partilham da parcimónia eloquente e da atitude pausada, sem pressas, de Forrest Tucker: Sissy Spacek, Danny Glover, Keith Carradine e até Tom Waits, num dos cúmplices encanecidos do assaltante; e Casey Affleck, soberbo em John Hunt, o polícia e pai de família que, quanto mais persegue e melhor conhece Tucker, mais simpatiza com ele – há um encontro delicioso entre ambos na casa de banho de um restaurante –, juntamente com Tika Sumpter e Elizabeth Moss.

Não há, em O Cavalheiro com Arma, o mais leve vestígio da lufa-lufa que afecta o cinema americano de hoje. Tal como está, realizado por David Lowery (autor de A Lenda do Dragão, um dos melhores filmes da Disney dos últimos tempos, e de A Ghost Story, que em Portugal foi directamente para DVD), a fita, que se passa na década de 80, parece ter sido feita não agora, mas nesses mesmos anos 80 que retrata, e depois metida numa máquina do tempo e enviada para 2019.

Mesmo no final, para ilustrar as muitas fugas de Tucker dos estabelecimentos prisionais em que esteve encarcerado ao longo da sua vida, o realizador recorre a imagens de filmes do próprio Robert Redford. Passam pelos nossos olhos títulos como Perseguição Impiedosa, O Vale do Fugitivo, O Grande Golpe ou As Grades do Inferno, em que o actor interpretou personagens que estavam ora num, ora noutro lado da lei. Redford sai assim de cena em grande estilo, com uma última e memorável interpretação, acompanhada da recordação de outras que o transformaram na lenda viva do cinema que é hoje.

É um imenso adeus.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Classificação:12A
  • Data de estreia:sexta-feira 7 dezembro 2018
  • Duração:93 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:David Lowery
  • Argumento:David Lowery
  • Elenco:
    • Robert Redford
    • Sissy Spacek
    • Tom Waits
    • Casey Affleck
    • Tika Sumpter
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