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O Rei Leão

  • Filmes
The Lion King
Photograph: Disney
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A Time Out diz

Ainda há não muitos anos, um dos maiores problemas dos animadores que trabalhavam nos filmes de animação digitais eram os cabelos humanos e a pelagem dos animais, muito difíceis de recriar com realismo. Hoje, olhamos para um grande plano do focinho de Mufasa ou do seu filho Simba adulto em O Rei Leão, de Jon Favreau, a versão digital e em realidade virtual da animação da Disney de 1994, e o efeito do vento a agitar a pelagem das jubas dos dois leões, pai e filho, não podia ser mais perfeito e realista.

Se estes pormenores são soberbos, o mesmo já não se pode dizer do resto do filme. Comparado com a animação original, da qual é um remake quase plano por plano, este clone feito por e no computador, saiu frio e com pouca alma, quase asséptico, no seu elaboradíssimo híper-realismo. O que
 lhe sobra em virtuosismo tecnológico e
 em perfeição de acabamento, falta-lhe em arrebatamento emocional, chama dramática e puro entusiasmo, qualidades que O Rei Leão de há 25 anos tinha para dar e vender. Há também o problema de a história já ser conhecida e estar a ser contada de novo, perdendo-se assim o efeito de novidade.

Em 2016, o mesmo Jon Favreau realizou o remake digital de O Livro da Selva, sem dúvida o melhor até agora de toda esta série de versões, em imagem real e com efeitos digitais, de longas-metragens animadas clássicas da Disney. Em O Livro da Selva, Favreau gozou da vantagem de ter o livro de Rudyard Kipling a que se referir, e não só o filme animado de 1967, bem como uma personagem humana, a de Mowgli, que contribuíram para o efeito de real construído pelo filme dentro do seu quadro de fantasia antropomórfica, com animais que falam e têm sentimentos e comportamentos como os dos humanos.

Por outro lado, as canções, que no Rei Leão de 1994 surgem no prolongamento natural do enredo, parecem aqui como que “coladas” ao filme e não sobressaem da mesma forma que na animação de Roger Allers e Rob Minkoff. Este Rei Leão computacional tem inclusivamente o brinde de duas novas canções, uma de Elton John e Tim Rice, os autores da banda sonora do primeiro filme, intitulada “Never Too Late”, e outra composta por Elton, Rice e Beyoncé (que também dá voz à leoa Nala), e cantada por esta, “Spirit”. Mas nenhuma delas está à altura de “Hakuna Matata” ou “Can You Feel the Love Tonight”.

E chegamos ao capítulo das vozes, um
 dos maiores falhanços de O Rei Leão. Se James Earl Jones repete, e muito bem, a
 do imponente Mufasa, sente-se a falta dos actores originais na maior parte das restantes personagens. Por exemplo, Scar, interpretado originalmente por Jeremy Irons como o equivalente em leão de um venenoso vilão shakespeariano, tem agora a voz banalmente ameaçadora de Chewitel Ejiofor; e o Simba do inconfundível Matthew Broderick foi substituído pelo indistinto Donald Glover. Mais bem servidos ficaram os comparsas secundários, o pássaro Zazu (John Oliver), o javali Pumbaa (Seth Rogen) e a suricata Timon (Billy Eichner). Com este Rei Leão vistosamente high tech mas decepcionante, a Disney fica a perseguir a própria cauda. Uma cauda virtual.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Classificação:PG
  • Data de estreia:sexta-feira 19 julho 2019
  • Duração:118 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Jon Favreau
  • Argumento:Jeff Nathanson
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