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Parasitas

  • Filmes
  • 5/5 estrelas
  • Recomendado
Parasite
Photograph: Neon
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A Time Out diz

5/5 estrelas

Há duas maneiras de fazer um
 filme sobre os problemas, as tensões,
as idiossincrasias, as desigualdades e os fantasmas colectivos de uma sociedade e de um país. A primeira é realizar uma fita abertamente política, militante, engajada, a palpitar de indignação e a martelar a mensagem que se quer fazer passar.

A segunda é fazer como o sul-coreano Bong Joon-ho (A Criatura, Uma Força Única, Expresso do Amanhã) em Parasitas, que ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Rodar um filme em que todos estes assuntos são expostos, analisados
e transmitidos ao espectador através das peripécias de um enredo e das características e das relações das várias personagens, com rigor, compostura e subtileza. E porque não, algum humor.

Em Parasitas, há duas famílias, uma em cada extremo do espectro social e habitando em locais completamente diferentes de Seul. A primeira, os Ki-taek, é pobre, aglomera-se numa subcave esquálida num bairro popular. O pai, a mãe e a filha estão desempregados,
 o filho chumbou quatro vezes a admissão
 à faculdade, e vivem de expedientes, como dobrar caixas para uma empresa de pizzas.

A segunda, os Park, é rica, mora numa moderna e ampla vivenda adquirida ao prestigiado arquitecto que a construiu e lá viveu. O pai tem uma empresa ligada às novas tecnologias, a mãe não faz nada o dia todo, a filha adolescente anda no liceu, o filho miúdo faz a vida negra à governanta e os três cães de raça da casa comem mais vezes ao dia, e melhor, do que os quatro Ki-taek.

Sucede que certo dia, o filho da família Ki-taek consegue acesso à casa dos Park, e 
ao seu mundo de opulência, consumismo e conforto, ao substituir, como explicador de Inglês da filha destes (e servindo-se para o efeito de diplomas falsos feitos pela irmã em computador), um amigo que foi estudar para o estrangeiro e o julgou de confiança suficiente para herdar o lugar.

A sua entrada na moradia, e no quotidiano dos Park, vai abrir a porta, pouco a pouco, ao resto do seu pequeno clã, que ali se consegue infiltrar na totalidade, respectivamente, como explicadores, motorista e governanta. E assim os Ki-taek vão transformar-se, ao seu nível de serviçais, numa espécie de duplos toscos dos Park, na imagem de espelho distorcida, imperfeita, destes. (Ver o papel que o cheiro a “pobre” dos Ki-taek vai ter no filme.)

Aqui chegado, Parasitas dá uma 
daquelas reviravoltas quebra-costas que, garantidamente, ninguém que esteja a ver
 o filme consegue prever, introduzindo um elemento completamente inesperado na história, e que não pode ser revelado, sob pena de ser o spoiler do ano.

Esta reviravolta acrobática vai permitir
a Bong Joon-ho adensar o enredo e ir mais fundo na ilustração narrativa de temas que calam muito fundo na Coreia do Sul. As relações entre os patrões e os seus serviçais (nem por acaso, há no cinema local uma tradição do chamado “filme doméstico”, que aborda as mesmas), as desigualdades sociais e económicas muito mais pronunciadas do que poderíamos pensar no Ocidente, e os vincados ressentimentos que provocam, as fortes tensões entre classes; a existência de um importante sector dedicado à usura, e também à cobrança violenta de dívidas; ou a importância galopante do sector das novas tecnologias e o aumento do desemprego entre os menos qualificados ou menos dotados de aptidões profissionais nas sociedades high tech, como é a sul-coreana.

Parte drama familiar de fundo social, parte comédia negra satírica, parte filme de terror “político”, adoptando um ponto de vista pessimista sobre a natureza humana, Parasitas está soberbamente bem escrito e realizado por Bong Joon-ho, quer quando a câmara desliza pelos vários níveis do interior da luxuosa vivenda dos Park, quer quando frequenta o mundo sujo, feio e desarrumado dos Ki-taek (ver a impressionante sequência da cheia no bairro). E é também mérito de Joon-ho que esta história local tenha uma ressonância universal.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Duração:132 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Bong Joon-Ho
  • Argumento:Bong Joon-Ho, Han Jin-won
  • Elenco:
    • Song Kang-Ho
    • Lee Sun-kyun
    • Cho Yeo-jeong
    • Park So-dam
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