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Um Crime no Expresso do Oriente

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A Time Out diz

Dos vários actores que já interpretaram Hercule Poirot 
no cinema e na televisão, é geralmente consensual que David Suchet, na série Poirot, é aquele que, da aparência física à personalidade e aos tiques e manias, faz melhor e mais perfeita justiça à imortal figura do detective particular belga criado por Agatha Christie.

O Poirot de Albert Finney, que o interpretou apenas num filme, Um Crime no Expresso do Oriente, de Sidney Lumet (1974), é um pouco afectado e exagerado demais, embora o papel lhe tenha valido uma nomeação para o Óscar de Melhor Actor; enquanto que o de Peter Ustinov, que o personificou nos filmes Morte no Nilo, Morte ao Sol e Morte Entre as Ruínas, é por vezes demasiado histriónico (houve ainda o americano Tony Randall, péssimo numa versão de Os Crimes do Alfabeto feita nos anos 60 e mais satírica do que outra coisa).

E assim chegamos àquele que vai ficar como um dos mais escancarados erros de casting do cinema: o Poirot de Kenneth Branagh no remake de Um Crime no Expresso do Oriente, que também realiza.

Não é apenas a farta bigodaça (e a mosca) que Branagh exibe que não tem nada a ver com o bigodinho cuidadosamente tratado e encerado da personagem. É que este Poirot de Branagh não tem absolutamente nada a ver com Hercule Poirot, no físico, na maneira de se vestir, na personalidade, na atitude intelectual ou na maneira de se relacionar com os outros (a consabida reserva da personagem, totalmente avessa ao contacto físico, é aqui substituída por uma efusividade postiça).

Kenneth Branagh não é Hercule Poirot. É Kenneth Branagh com um bigode esquisito 
e um sotaque forçadamente cómico, a interpretar uma personagem que de comum com Poirot tem apenas o nome. Ainda por cima, o argumento deste novo Um Crime
no Expresso no Oriente põe Poirot a ser fisicamente activo, envolvendo-o numa 
cena de pancada com uma das personagens 
e numa perseguição pela estrutura de uma ponte de comboio com outra. Ora o gordinho e intelectual Poirot é um ás da dedução, nunca por nunca um herói de acção.

Além de adulterar a figura de Poirot enquanto actor, Branagh faz gato-sapato da história original como realizador. Introduz-lhe um prólogo na Palestina que não passa de um verbo de encher, altera a nacionalidade de algumas personagens (sem faltar a inevitável cedência ao casting politicamente correcto), mete buchas cómicas lamentáveis (Poirot a pisar excrementos de animais) e filma às três pancadas (o assassínio colectivo de Ratchet/ Cassetti é uma confusão) e com muito pouco sentido de suspense (E para quê ter rodado em 65 mm?).

O elenco está cheio de actores de prestígio, tal como a versão original de 1974 (Johnny Depp, Judi Dench, Michelle Pfeiffer, Willem Dafoe, etc.) mas ao contrário desta, o filme não lhes dá tempo suficiente para estabelecerem as suas personagens, que ficam como esboços ou caricaturas. Para onde quer que se olhe, este novo Um Crime no Expresso do Oriente não convence. E se, ao que dizem, vai testar as águas para a possível criação de uma franchise cinematográfica de casos de Poirot, começa logo com um descarrilamento.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Classificação:12A
  • Data de estreia:sexta-feira 3 novembro 2017
  • Duração:115 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Kenneth Branagh
  • Argumento:Michael Green
  • Elenco:
    • Kenneth Branagh
    • Johnny Depp
    • Michelle Pfeiffer
    • Penélope Cruz
    • Willem Dafoe
    • Judi Dench
    • Olivia Colman
    • Derek Jacobi
    • Daisy Ridley
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