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Uma Vida Escondida

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A Time Out diz

Uma boa notícia para todos os desesperançados do cinema de Terrence Malick: Uma Vida Escondida, o novo filme do realizador americano, é o mais narrativo, o mais ligado à realidade, o mais legível e o menos insuportável e laboriosamente críptico, filosofante e gasoso desde O Novo Mundo (2005).

Malick recorda aqui a história de Franz Jägerstätter (interpretado por August Diehl, que vimos recentemente em O Jovem Karl Marx), um camponês austríaco, católico e pacifista que, recrutado para o exército durante a II Guerra Mundial, recusou fazer o juramento de fidelidade a Adolf Hitler e declarou-se objector de consciência.

Foi preso e apesar da insistência do advogado nomeado para o defender e do padre da sua paróquia para assinar o juramento, após o que seria libertado e poderia não ter que combater, indo em vez disso para os serviços médicos militares, Jägerstätter sempre recusou fazê-lo. Condenado à morte por um tribunal militar, foi executado no Verão de 1943. Em 2007, a Igreja católica declarou-o como mártir e beatificou-o. Existe já um telefilme sobre ele, The Refusal, rodado em 1971 para a televisão austríaca por Alex Corti.

Malick foi buscar as cartas – em especial as que escreveu à mulher, Fani (Valerie Pachner) – e os escritos de prisão de Jägerstätter para rodar Uma Vida Escondida, no qual o realizador de A Árvore da Vida não abdica, no entanto, do seu estilo visual grandiloquente ou das suas pretensões espirituais, nem consegue controlar a sua prolixidade.

O filme prolonga-se por quase três horas, que pesam que se fartam, e durante as quais Malick não só se farta de repetir que é um cineasta do transcendente, como o soletra, e muito devagarinho, no caso de não termos percebido. Rodado em Scope e em regime de uso e abuso da grande angular, quer quando a acção se situa na aldeia natal de Jägerstätter, filmada como se fosse um paraíso pastoral, quer nas cenas carcerárias em que o objector de consciência é humilhado, insultado e maltratado, e assiste aos maus-tratos infligidos aos que estão presos com ele, Uma Vida Escondida apresenta ainda outro grande problema.

Terrence Malick não é explícito o suficiente na enunciação das razões pelas quais Jägerstätter se sujeita ao seu calvário e abdica heroicamente de voltar a ver a sua mulher e os seus filhos, o pai e a mãe e a terra onde nasceu, sacrificando-se por aquilo em que profundamente mais acredita. E não é por o mostrar insistentemente a ser coagido e brutalizado pelos seus carcereiros que isso se torna mais claro. O Franz Jägerstätter de Uma Vida Escondida passa menos como um mártir da fé que pôs acima de tudo, até da sua vida, os seus princípios éticos e as suas crenças religiosas, e mais como um sujeito irredutivelmente teimoso e impossivelmente obstinado, cujo comportamento se escora em vagas justificações espirituais. E isso faz toda a diferença num filme com as pretensões que este tem.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Classificação:12A
  • Data de estreia:sexta-feira 17 janeiro 2020
  • Duração:174 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Terrence Malick
  • Argumento:Terrence Malick
  • Elenco:
    • August Diehl
    • Valerie Pachner
    • Michael Nyqvist
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