Viúvas

Em 1983, a escritora e argumentista inglesa Lynda La Plante assinou uma série de televisão chamada Viúvas, sobre as três mulheres de um trio de ladrões que morrem durante um assalto em Londres. As viúvas decidem então, com a ajuda de uma quarta mulher, levar a cabo o assalto que os maridos falharam. A série teve uma continuação, Viúvas 2, em 1985, e um remake para televisão nos EUA em 2002.

Surge agora a adaptação para cinema, por Steve McQueen, que também escreveu o argumento, com Gillian Flynn (a autora de Em Parte Incerta, filmado por David Fincher), e Viola Davis, Michelle Rodriguez e Elizabeth Debicki como protagonistas.

A premissa do filme mantém-se exactamente a mesma, mas McQueen e Flynn não se limitaram a fazer apenas um heist movie seco, em linha recta. Este Viúvas rodado em Chicago, além de um thriller de suspense e acção, quer ser também um drama doméstico, um retrato da corrupção política (a história passa-se durante uma campanha eleitoral para a Câmara de Chicago) e um filme de mulheres, com a respectiva mochila de temas sociais (a viuvez prematura e financeiramente desguarnecida, o emprego e a subsistência das mães solteiras, etc.)

Ou seja, ao contrário da série original, e de um filme bastante semelhante, Assalto em LA, de F. Gary Gray (1996), Viúvas tem um enredo muito atarefado e laborioso, que dispara em várias direcções narrativas. O que obriga o espectador, por várias vezes, a afastar-se da fita para poder reflectir sobre o que se está a passar e fazer ligações e associações. Isto sem falar nas reviravoltas da história, que são pelo menos três, e de um final que deixa pontinhas por atar a mais.

Sobra um elenco formidável, que se não redime o filme, ajuda a distrair das suas falhas. Além de Davis, Rodriguez e Debicki, todas inoxidáveis, há ainda Cynthia Erivo na quarta assaltante, Colin Farrell e Brian Tyree Henry nos candidatos cheios de podres, Daniel Kaluyaa num gangsta sádico e o imenso Robert Duvall num vereador veterano e amoral, que diz que a política não se faz para mudar nada, mas sim para assegurar a subsistência e a sobrevivência dos políticos e dos seus próximos. Neste aspecto, Viúvas é de uma veracidade inatacável.

Por Eurico de Barros