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Simon and Garfunkel
Photograph: Uncredited/AP/REX/Shutterstock

Onze canções pop primaveris

A Primavera é uma inesgotável fonte de inspiração musical. Estas são algumas das melhores canções pop inspiradas na estação.

Escrito por
José Carlos Fernandes
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Músicos como os saudosos Simon & Garfunkel e The Beatles ou os mais contemporâneos Noah and the Whale e Tiny Moving Parts, passando por The Flaming Lips ou os Saint Etienne, inspiraram-se na Primavera para criar algumas das melhores canções pop de todos os tempos. Desde relatos de amores e desamores primaveris a canções jocosas e irónicas em que a Primavera é apenas um tema lateral ou ainda outras mais simpáticas e pueris, por assim dizer. Festeje a chegada da nova estação com os phones nas orelhas e o volume no máximo.

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Onze canções pop primaveris

“April Come She Will”, de Simon & Garfunkel

A canção faz parte do segundo álbum do duo, Sounds of Silence (1966, Columbia), e oferece o cronograma de uma relação amorosa em menos de dois minutos: ela chega em Abril, “quando os cursos de água engrossam com a chuva”, em Junho começa a ficar inquieta e em Julho parte sem dar explicações; em Setembro, do amor restam apenas memórias. Os versos ímpares da letra desta canção composta por Paul Simon durante uma estadia na Grã-Bretanha, em 1964, provêm de uma velha nursery rhyme que reza assim “April come she will/ May she will stay/ June she’ll change her tune/ July she will fly/ August die she must”.

“Lullaby of Spring”, de Donovan

“Lullaby of Spring” compartilha com “April Come She Will” um travo arcaico, evocativo de velhas baladas das Ilhas Britânicas, o que é acentuado pela pronúncia escocesa de Donovan. Mas nesta canção que faz parte do quinto álbum do cantor/compositor, A Gift From a Flower to a Garden (1967, Epic), não há meditações sobre a efemeridade das paixões humanas, apenas uma plácida descrição de uma Primavera campestre, com folhas novas nas árvores, ovos pintalgados nos ninhos e repicar de sinos na torre de uma vetusta igreja.

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“Here Comes the Sun”, dos Beatles

É uma clássica canção de Primavera, embora não esteja entre as obras-primas dos Beatles. Foi composta por George Harrison, num dia em que se furtou a uma reunião na editora Apple e se refugiou no jardim da casa de Eric Clapton e faz parte de Abbey Road (1969, Apple), o penúltimo disco da banda. A música é simples, mas inclui algumas sequências de acordes pouco comuns, reflectindo o interesse de Harrison por música indiana. A letra exprime o alívio pela chegada da Primavera após "um longo e rigoroso Inverno" e, quiçá, por estar a gozar o sol no jardim com um amigo em vez de estar fechado numa sala de reuniões com homens de negócios.

“Spring Rain”, de The Go-Betweens

Composta por Robert Forster, evocando a sua adolescência num subúrbio de Brisbane, "Spring Rain" é a canção de abertura de Liberty Belle and the Black Diamond Express (1986, Beggars Banquet). Os australianos The Go-Betweens já tinham três álbuns registados, mas com carreira discreta, e foi com este que lograram alcançar algum (mais que merecido) reconhecimento. A letra fala de alguém que aguarda que algo – o amor ? – irrompa subitamente na sua vida, como um inesperado e violento aguaceiro de Primavera, e a mude de forma radical e surpreendente.

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“Can't Stop The Spring”, de The Flaming Lips

Os Flaming Lips ainda eram uma pequena banda indie quando gravaram o seu segundo álbum, Oh My Gawd!!!...The Flaming Lips (1987, Restless). "You Can't Stop The Spring" é um dos pontos altos do disco, uma canção de rock psicadélico com ginga indie que contrapõe a sobriedade inspiradora dos versos centrais ("You can crush the flowers / But you can't stop the spring") a letras surrealistas como "Keeping her paint cans underneath the seat / Keeping her hair dryer on her favorite piece of meat".

“Spring”, dos Saint Etienne

A rapariga partiu e o rapaz ficou inconsolável, mas há quem se ofereça prontamente para ocupar o lugar vazio no seu coração: "É só a Primavera/ E tu és demasiado novo/ Para dizer que não mais queres saber do amor". A voz de Sarah Cracknell tem o equilíbrio certo de sensualidade e ligeireza adequada a amores primaveris e a mescla de synth-pop e house cria um ambiente de frescura e descontracção. A canção faz parte de Foxbase Alpha (1991, Heavenly), o álbum de estreia da banda.

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“In Bloom”, dos Nirvana

"In Bloom", do álbum Nevermind (1991, Geffen), só na aparência é uma canção primaveril. As alusões à estação são sarcásticas e a época dos rebentos e da floração é aqui associada à adolescência e ao despertar da sexualidade. O principal alvo da letra de Kurt Cobain é a miudagem que se tornou fã da banda mas que, apesar de cantarolar as suas canções, não as compreende. Ironicamente, se “In Bloom” teve algum efeito foi angariar ainda mais público desse género para a banda, pois o single extraído de Nevermind tornou-se numa das suas canções mais populares e contribuiu para fazer deles um fenómeno de massas.

“The Pop Singer’s Fear of the Pollen Count”, de The Divine Comedy

Poderá haver canções de Primavera mais inspiradas, mas nenhuma tão divertida e soalheira como esta. Faz parte de Liberation (1993, Setanta), o segundo álbum da banda de Neil Hannon. A Primavera é bem recebida por todos, excepto por quem faz do canto a sua profissão – os boletins polínicos são examinados com apreensão, adivinhando um período de espirros, nariz entupido, garganta inflamada, a cabeça prestes a explodir. Mas, confessa Hannon, nem a febre dos fenos lhe esmorece o amor pelo tempo quente. A música irradia uma felicidade tola e é teatralmente orquestrada e ostensivamente irónica.

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“Why Wait?”, de The Guild League

The Guild League foi um projecto lateral de Tali White, vocalista dos The Lucksmiths, uma banda de Brisbane, Austrália, que merecia ser mais conhecida, e “Why Wait?” faz parte do segundo álbum da banda, Inner North (2004, Matinée Recordings). "Num ápice se escoou um ano inteiro/ Os olhos estão inflamados e o ar morno denso/ Com a poalha da vida vegetal em luxúria/ Acordo a transpirar só porque/ Senti o chão a vibrar com o ronronar do frigorífico/ A Primavera está a bater por debaixo da porta".

“The First Days of Spring”, de Noah and the Whale

É a faixa-título de The First Days of Spring (2009, Vertigo), o segundo álbum de Noah and the Whale, concebido como resposta ao doloroso fim da relação amorosa do vocalista Charlie Fink com Laura Marling, que fez parte da formação inicial do grupo e saiu em 2008. A canção compara, não muito originalmente, a estação ao início de uma nova vida. E, com efeito, The First Days of Spring regista um notável progresso no songwriting em relação ao disco de estreia, mas o efeito galvanizador da “dor de corno” foi de curta duração e o terceiro disco da banda revelou-se desconsoladoramente medíocre.

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“Spring Fever”, dos Tiny Moving Parts

Os Tiny Moving Parts são uma "banda familiar" (dois irmãos e um primo) de Benson, Minnesota (não propriamente o centro do universo) e combinam as malhas de guitarra cintilantes e a bateria hiperactiva do math-rock com a energia e a expressividade exacerbada do emo. “Spring Fever” faz parte do segundo álbum, Pleasant Living (2014, Triple Crown), e retrata alguém que vive fechado sobre si mesmo e nunca percebeu que só o amor permite escapar ao egocentrismo: “Apaixonaste-te por pontes, mas nunca tocaste a água/ Apaixonaste-te por jardins mas nunca tocaste uma flor/ Apaixonaste-te pela Primavera, mas nunca contemplaste a neve a derreter”.

Mais que ouvir

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A autorreferência é um mecanismo relativamente banal na arte. Por exemplo, poemas que se queixam de como as palavras não lhes bastam para dizerem tudo o que precisam dizer, é mato. Nos textos cantados é especialmente frequente encontrar esse tipo de truque estilístico, em particular em canções que se põem a falar sobre canções de amor para, de forma mais ou menos discreta, fingirem que não são elas próprias canções de amor, bajoujas e piegas como todas as canções de amor devem ser.

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A história da música popular está recheada de versões de canções que já tinham alcançado sucesso noutra vida. Genericamente, é disso que falamos quando falamos em covers. Mas a coisa torna-se bem mais surpreendente quando o factor sucesso sai da equação – ou, melhor ainda, quando ele está virado ao contrário e descobrimos versões que triunfaram sobre originais obscuros. A lista que se segue reúne uma dúzia de covers que eclipsaram por completo as versões primitivas, mesmo em casos onde elas tinham gozado já de relativo êxito. Mas foram estas interpretações que se impuseram na memória colectiva, a ponto de a maioria de nós as tomar hoje por originais.

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No tempo em que não havia Internet e a globalização ainda se fazia ouvir com delay, era comum uma canção fazer sucesso numa língua, sem que a maioria do público alguma vez percebesse que estava a trautear uma toada estrangeira. O caso mais frequente, como se adivinha, é o de uma canção que se celebriza em inglês apesar de ter sido composta em italiano, francês ou outra língua que não gruda bem nos ouvidos americanos. Mas não só. Por exemplo, “Les Champs Élysées”, que foi popularizada por Joe Dassin, fez o percurso contrário.

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