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11 bandas indie pop escandinavas que precisa de ouvir

A actuação do sueco José González na Aula Magna, na quarta-feira 3 de Maio, serve para lembrar que, felizmente, os contributos da Escandinávia para a música pop não se circunscrevem aos ABBA e aos Roxette

Escrito por
José Carlos Fernandes
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11 bandas indie pop escandinavas que precisa de ouvir

  • Música
  • Campo Grande/Entrecampos/Alvalade

A quem estranhe que um sueco se chame José González, convém esclarecer que o músico nasceu em 1978 em Göteborg, na Suécia, de pais argentinos fugidos à ditadura da sinistra junta militar. Estreou-se em 2003 com Veneer (2003), num formato despojado – voz e guitarra clássica – e num registo de folk minimal, velado e tranquilo, com óbvias dívidas para com Nick Drake. O pendor crítico das letras do segundo álbum, In Our Nature (2007), deu lugar em Vestiges & Claws (2015) à consciência aguda da marcha inelutável do tempo, da efemeridade da existência e da irrelevância da agitação humana, e a uma serena aceitação desta condição.

[“With the Ink of a Ghost”, do álbum Vestiges & Claws]

José González toca na Aula Magna, quarta-feira 3 de Maio, 21.30, 28-35€

Junip

Paralelamente à carreira a solo, José González faz parte dos Junip, um grupo com Elias Araya e Tobias Winkerton que se estreou em 2000 com o EP Straight Lines mas que o arranque da sua carreira a solo colocou em standby durante algum tempo. Os Junip, que agora são González (voz e guitarra) e Winkerton (teclados) e um rol variável de colaboradores, têm dois álbuns editados, Fields (2010) e Junip (2013). Não diferem na essência do que González faz a solo, embora tenham som mais denso e pendor mais pop e González possa mostrar-se um cantor bem mais expansivo do que na carreira a solo, onde cultiva um tom neutro e controlado.

[“Line of Fire”, do álbum Junip, ganhou fama fora do círculo de entusiastas da indie pop escandinava ao ser usada no anúncio do final da série televisiva Breaking Bad]

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El Perro Del Mar

Anuncia-se uma lista de bandas escandinavas e depois de um José González surge El Perro Del Mar?! Terá razão a extrema-direita xenófoba do Norte da Europa ao temer que o afluxo de imigrantes desvirtue a identidade nacional? Já acima ficou esclarecido que González nasceu na Suécia e quanto a El Perro Del Mar trata-se do nome artístico da retintamente sueca e muito loura Sarah Assbring, com base em Göteborg, tal como González. El Perro Del Mar começou, no álbum de estreia homónimo (2006), por mesclar baladas folk e pop naïve e sonhadora, pontualmente colorida por electrónica, mas esta veio a ganhar peso e por alturas do quarto álbum, Pale Fire (2012), as guitarras acústicas e pianos tinham perdido protagonismo e a pop electrónica dançável ganhara terreno. KoKoro (2016) marca nova inflexão estética, com incorporação de instrumentos tradicionais asiáticos e influências da pop do Extremo Oriente. A toada é que se mantém, à superfície, melancólica, magoada e doce, o que não quer dizer que sob ela não se agitem questões perturbadoras.

[“I Was a Boy”, do álbum Pale Fire]

Audrey

Mais uma banda nascida em Göteborg. Era constituída por Viktoria Skoglund (guitarra), Emelie Molin (violoncelo e teclados), Rebecka Kristiansson (baixo) e Anna Tomlin (bateria). Formou-se em 2001 e extinguiu-se discretamente em 2009, deixando dois álbuns irrepreensíveis, Visible Forms (2006) e The Fierce and the Longing (2008), preenchidos por canções pop melancólicas, despojadas e serenas (mas podendo pontualmente ganhar intensidade), a que o violoncelo empresta um colorido muito particular e com as vozes (responsabilidade partilhada entre todos os elementos) a pintar cenários de vulnerabilidade e tristeza.

 [“Mecklenburg”, do álbum Visible Forms]

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The Radio Dept.

O duo Johan Duncanson/Martin Larsson iniciou actividade em Lund, na Suécia, em 1998, e estreou-se em 2003 com o álbum Lesser Matters, feito de melodias ingénuas e muita distorção. O disco tornou-se numa referência do shoegaze/dream pop (em particular “Where Damage Isn’t Already Done”), mas o grupo foi trocando as guitarras distorcidas ao estilo de My Bloody Valentine por teclados, caixas de ritmos e programações e incorporando ritmos mais dançáveis, embora conservando o halo de reverberação em torno da voz de Duncanson. O seu opus mais recente, Running Out of Love (2016), surgido após seis anos de interregno, conserva poucos vínculos com a sonoridade original. Os Radio Dept. ganharam ouvintes adicionais quando Sofia Coppola utilizou três das suas canções na banda sonora de Marie Antoinette (2006).

[“I Don’t Like It Like This”, do álbum Pet Grief (2006), é uma das canções usadas na banda sonora de Marie Antoinette]

Jeniferever

Os Jeniferever formaram-se em Uppsala, na Suécia, em 1996, e foram buscar o nome a “Jennifer Ever”, uma canção pouco conhecida dos Smashing Pumpkins. O som dos Jeniferever combina momentos tranquilos e oníricos com trechos opressivos, como a banda de Billy Corgan, mas as suas maiores afinidades estão com a faceta outonal e contemplativa do post-rock, por vezes com longos crescendos, que atingem densidade sinfónica, por adição de arranjos elaborados que cruzam guitarras e teclados com cordas e sopros. Apesar de terem duas décadas de existência, editaram apenas três álbuns de originais e permanecem na obscuridade.

[“Green Meadow Island”, do álbum Spring Tides (2009)]

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We Are The Storm

Os We Are The Storm também são de Uppsala e também pediram emprestado o nome ao título de uma canção, neste caso dos Dillinger Escape Plan. Porém, o som dos We Are The Storm nada tem a ver com o mathcore frenético e adstringente dos Dillinger Escape Plan, aproximando-se antes da pop épica, intensa, teatral e grandiosa dos Arcade Fire. Estrearam-se com o EP We Are The Storm (2009), a que se seguiram os álbuns To the North Pole (2011) e Wastelands (2013), sempre com escassa visibilidade. Houvesse no mundo mais justiça e menos inércia e metade dos seguidores dos Arcade Fire teriam desertado para as suas fileiras depois de os canadianos terem abandonado a sua matriz com Reflektor.

[“I Woke Up To the Bells”, do álbum To the North Pole]

Kings of Convenience

A música de Erlend Oye e Eirik Glambek Boe é serena e distendida e o mesmo pode dizer-se da carreira do duo de Bergen, na Noruega, pois em 17 anos de existência lançaram apenas três álbuns de originais – Quiet Is the New Loud (2001), Riot on an Empty Street (2004) e Declaration of Independence (2009). Duas vozes tranquilas, duas guitarras acústicas rendilhadas e arranjos discretos dão corpo a canções de atmosfera folk cuja delicadeza não impede que reflictam sobre o lado mais amargo e doloroso das relações humanas. Tome-se “Misread”: “Como é possível que ninguém me tenha dito/ Que ao longo da história/ As pessoas mais solitárias/ São aquelas que sempre foram sinceras/ As que fizeram a diferença/ Ao enfrentar a indiferença”.

[“Misread”, do álbum Riot on an Empty Street]

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The Kissaway Trail

Mais uma banda escandinava com afinidades com os canadianos Arcade Fire – talvez as noites longas e os dias frios, enevoados e macambúzios despertem a reacção de produzir pop inflamada e épica. Estes são de Odense, na Dinamarca, e têm três álbuns: o muito recomendável The Kissaway Trail (2007), um passo em falso intitulado Sleep Mountain (2010) e um regresso a dias mais inspirados com Breach (2013).

[“Smother + Evil = Hurt”, do álbum The Kissaway Trail]

Of Monsters and Men

No que toca a semelhanças com os Arcade Fire, ninguém ultrapassa os islandeses Of Monsters and Men: os mesmos crescendos imparáveis que começam com uma voz e uma guitarra acústica e acabam numa exaltação sinfónica à beira da apoplexia, as mesmas melodias arrebatadoras, os mesmos coros épicos, até a forma como a banda se apresenta ao vivo, com o quinteto base reforçado por quatro músicos, que se desdobram por um instrumentário que inclui acordeão, trompete e trombone. Nasceram em 2010 em Reykjavík e têm dois álbuns de estúdio, My Head Is an Animal (2011) e Beneath the Skin (2015). A semelhança com Arcade Fire pode ser perturbadora, mas como em Reflektor (2013) os Arcade Fire decidiram mudar de rumo, não se pode levar a mal que outrem trilhe o caminho desbravado pelos três primeiros álbuns dos canadianos.

[“Dirty Paws”, de My Head Is an Animal]

Indie-pop à volta do mundo

  • Música
  • Rock e indie

Existem criadores talentosos a viver longe dos holofotes, porque, pura e simplesmente, não existe uma relação entre talento e reconhecimento. São 10 músicas pop que poucos conhecem, mas todos deviam conhecer. 

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