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Agradar, Amar e Correr Depressa

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Vivir deprisa, amar despacio
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A Time Out diz

3/5 estrelas

Christophe Honoré realizou, em Agradar, Amar e Correr Depressa, o filme antípoda de 21 Batimentos por Minuto, de Robin Campillo, embora ambos se passem na mesma época – os “anos da sida” em França, no início da década de 90, quando
a epidemia atingia o auge e a resposta institucional ainda era curta –, e no mesmo meio, a comunidade gay (21 Batimentos 
por Minuto fica em Paris, Agradar, Amar e Correr Depressa passa-se na capital francesa mas também na Bretanha, de onde uma das personagens principais é natural).

Onde a fita de Campillo é militante, colectiva, urgente, agitada, muito politizada (e um pouco demagógica), e centrada nos militantes da organização activista ACT UP, a do autor de Em Paris e As Canções de Amor é intimista, púdica, serena, fatalista, e um dos seus protagonistas, a certa altura, chega até a mostrar-se crítico da ACT UP e dos seus métodos.

Há ainda que salientar que existem elementos autobiográficos em Agradar, Amar e Correr Depressa, onde a personagem do jovem provinciano Arthur, que quer vir para Paris para estar mais perto do coração cultural e artístico de França e, espera ele, poder singrar no cinema, tem alguns traços do próprio Christophe Honoré. Tal como a do seu amante mais velho, Jacques, que é escritor como ele.

O realizador recorda aqui, com um realismo e uma frontalidade que abrange a própria linguagem usada pelas personagens e a descrição dos hábitos e dos comportamentos sexuais e sociais dessa altura, a sua juventude e os seus amores num tempo em que a sida devastava uma geração inteira, pondo em casa estilos de vida e modos de relacionamento estabelecidos.

Jacques (Pierre Deladonchamps), escritor e dramaturgo, tem sida. É bissexual e vive em Paris com o filho pequeno que teve de uma mulher com quem andou, e com um antigo namorado que está na última fase da doença e que acolheu no seu apartamento. Durante uma ida a Rennes, onde uma das suas peças vai ser posta em cena, Jacques encontra o jovem Arthur (Vincent Lacoste), descomplicado, inteligente e leviano.

Apesar de se envolverem um com o outro, Jacques, que sabe que já não tem tempo para se apaixonar e não quer sofrer mais por amor, mantém Vincent à distância, insiste em tratá- -lo por “você” e regressa a Paris, mantendo-se ambos em contacto por telefone e carta (um dos raros pontos fracos de Agradar, Amar
e Correr Depressa é a atenção irregular que Honoré dá à recriação da época, havendo momentos em que o filme escorrega para o tempo da rodagem, e outros em que bastam uma máquina de escrever ou um gravador para o situar na época).

Um dia, Vincent tanto ameaça, que acaba mesmo por fazer as malas e desembarcar em Paris. Por essa altura, já Jacques está bastante mal e, em vez de o receber, refugia-se em
casa do seu melhor amigo e vizinho, Mathieu (Denis Podalydès), mais velho que ele, jornalista e também gay, e que funciona como a voz da experiência e da prudência. Mas será que Jacques consegue resistir à presença tão próxima do descontraído e sedutor Vincent?

Christophe Honoré volta a mostrar aqui as características que fazem dele um dos realizadores mais fidedignos e consistentes da sua geração: a ausência de espalhafato piegas ou melodramático, um estilo visual sereno e pragmático, serviçal da história
e das personagens, o conhecimento das alegrias e dos espinhos dos relacionamentos sentimentais, sejam eles heterossexuais
ou homossexuais, e representados em situações mais leves ou mais trágicas. E
um tom que pode parecer ligeiro, mas que nunca compromete a seriedade do gesto e do discurso do realizador.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Duração:132 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Christophe Honoré
  • Argumento:Christophe Honoré
  • Elenco:
    • Vincent Lacoste
    • Denis Podalydes
    • Pierre Deladonchamps
    • Adéle Wismes
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