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Aya e a Feiticeira

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Earwig y la bruja, film
Fotograma de 'Earwig y la bruja'Earwig y la bruja
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A Time Out diz

É irónico que Aya e a Feiticeira, o primeiro filme inteiramente feito em animação digital pelo Studio Ghibli, seja realizado por Gorô Miyazaki, o filho de Hayao Miyazaki, um campeão de sempre da animação tradicional e firme detractor da utilização do computador nesta arte. Pelo menos no Japão, o filme, feito para a televisão, foi recebido com veementes protestos pelos incondicionais da animação em 2D que celebrizou mundialmente o Studio Ghibli, e encarado como uma gravíssima traição ao espírito artístico e aos princípios estéticos que animam a produtora desde a sua criação.

Gorô Miyazaki, já autor de filmes em animação clássica como Contos de Terramar (2006) e A Colina das Papoilas (2011), para fazer Aya e a Feiticeira, foi buscar um livro de uma das autoras favoritas do pai Hayao, a inglesa Diana Wynne Jones (ver O Castelo Andante), falecida em 2011, e aclamada e multipremiada especialista em obras de fantasy e ficção científica para crianças e adolescentes. A heroína da história, que se passa na Inglaterra rural dos anos 90, é Aya, uma espigada e espertíssima menina de 10 anos que foi deixada pela mãe à porta de um orfanato quando era bebé.

Certo dia, um estranho casal, Bella Yaga e Mandrake, adopta Aya contra vontade desta, e leva-a para casa. Bella Yaga conta à menina que é uma feiticeira e que a adoptou para ter uma ajudante. Aya diz que a vai ajudar, se ela por seu lado lhe ensinar magia, mas Bella Yaga mostra-se relutante em fazê-lo. Pouco a pouco, Aya vai explorando a casa, que o lacónico e maldisposto Mandrake mantém selada por artes mágicas para que ela não fuja. E descobre que Thomas, o gato preto da feiticeira, fala, tornando-se amiga dele; que Bella Yaga e Mandrake conheceram a sua mãe, que também era feiticeira; que os três tocaram num famoso grupo de rock, os Earwig, que se desfez quando a mãe saiu, irremediavelmente zangada com Bella Yaga; que a deixou no orfanato por estar a ser perseguida por 12 outras bruxas. E que ela mesma, por ser filha de quem é, tem dotes mágicos.

Em termos de qualidade da animação, de trabalho do detalhe, de efeito estético global e de capacidade de surpreender e deslumbrar, Aya e a Feiticeira empalidece não só quando comparado com o estilo tradicional das produções do Studio Ghibli, como também com os filmes da concorrência americana – está bastantes furos abaixo da mais mediana fita da Pixar, por exemplo. As personagens, sobretudo, têm um aspecto demasiadamente sintético e plastificado, e são pouco dinâmicas e limitadas na sua expressividade. É como se Gorô Miyazaki tivesse querido realizar um filme de animação computacional de aspecto deliberadamente naïf, como que feito há 20 anos. Seja como for, Aya e a Feiticeira é uma experiência muito decepcionante.

Por seu lado, Miyazaki pai continua a trabalhar na sua nova longa-metragem, How do You Live?, feita, como sempre, em animação tradicional, saída de mãos humanas e não de programas de software. Ao pausado ritmo de um minuto de imagens animadas por mês, How do You Live?, a história de um rapaz e da sua amizade com o tio e outros adolescentes, estará pronto para chegar aos cinemas, de acordo com a planificação do Studio Ghibli e do realizador, daqui a três anos, em 2024.

Escrito por
Eurico de Barros

Elenco e equipa

  • Realização:Goro Miyazaki
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