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Domino – A Hora da Vingança

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A Time Out diz

3/5 estrelas

Guerra ao terror na Europa

Brian De Palma disse numa entrevista recente que, se tivesse ficado nos EUA, “nunca mais tinha conseguido fazer um filme”, e estaria a esta hora a trabalhar em televisão. É na Europa que o realizador de Carrie e Vestida para Matar tem encontrado financiamento para rodar nos últimos anos, e o seu próximo projecto, o policial Sweet Vengeance, é uma produção brasileira com Wagner Moura (Tropa de Elite) no principal papel e filmagens localizadas no Uruguai.

Isto não quer dizer que, por ter abandonado os EUA, De Palma não deixe de encontrar na Europa problemas semelhantes aos de Hollywood, nomeadamente com os produtores. Foi o que sucedeu em Domino – A Hora da Vingança, uma co-produção entre a Dinamarca, a Holanda, a França, a Itália e a Bélgica, com dois dos actores de A Guerra dos Tronos em papéis principais, Nikolaj Coster- Waldau e Carice van Houten.

Uma vez concluído o filme, Brian De Palma queixou-se amargamente das condições de produção, a começar na falta de dinheiro em relação ao que tinha sido acordado com os financiadores e a acabar numa rodagem que constituiu “uma experiência horrível”, devido a atrasos de todo o tipo. E concluiu que esta tinha sido a “primeira e última vez” que rodou um filme na Dinamarca.

Olhando para Domino – A Hora da Vingança de posse de todas estas informações, é muito mais fácil detectar os pontos fracos e as carências narrativas do filme e compreender por que é que este é um De Palma de segunda linha, embora bem superior à média do género.

Nikolaj Coster-Waldau interpreta Christian, um polícia de Copenhaga cujo parceiro e amigo, Lars, é assassinado por um homem que acabaram de capturar, e que poderá ser um terrorista islâmico. Christian sente-se culpado da morte do parceiro, porque se tinha esquecido da arma em casa e pediu-lhe emprestada a dele, deixando-o depois sozinho com o criminoso enquanto lhe ia investigar o apartamento. Como se isto não fosse suficiente, deixou-o fugir após uma acrobática perseguição pelos telhados de Copenhaga (filmada por De Palma com uma piscadela de olho a Vertigo – não podia faltar a homenagem hitchcockiana), perdendo no processo a arma emprestada pelo morto.

Christian decide então ir em busca do assassino de Lars, no que é acompanhado por uma colega, Alex (Carice van Houten). Só que as coisas não são tão lineares como aparentam. Por um lado, o pretenso terrorista, chamado Ezra (Eriq Ebouaney), é na verdade um antigo membro das forças especiais do exército líbio, que anda à procura na Europa do líder terrorista responsável pela morte do pai no seu país. Devido ao seu background militar de elite e ao conhecimento que tem dos meios e dos métodos do terrorismo islâmico, Ezra está a ser utilizado pela CIA, e contra sua vontade, como braço armado da agência. Pelo outro lado, Alex era amante de Lars, que lhe tinha prometido deixar a família para ir viver com ela, e está com Christian não para o ajudar na investigação, mas para liquidar o homem que matou o seu amante.

Reconhecemos no enredo de Domino – A Hora da Vingança vários temas queridos a Brian De Palma: a confusão perigosa entre aparências e realidade, a conspiração oculta, o voyeurismo crónico e mórbido. Este encontra aqui uma expressão actual e tremenda na sequência do ataque suicida de uma terrorista à gala de um festival de cinema na Holanda. Na metralhadora da jihadista está montada uma câmara de vídeo portátil que transmite o massacre em directo para as redes sociais.

Mesmo com actores que deixam um pouco a desejar, e sem os meios de que necessitava, e cuja falta está claramente patente na sequência final do atentado durante a tourada em Espanha, Brian De Palma consegue mesmo assim dar a este thriller de acção e suspense uma voltagem e uma vibração de série B.

E o realizador não perdeu a capacidade de contar uma história por meios puramente cinematográficos, dependendo apenas da câmara e da música (o fiel Pino Donnagio volta a assinar a sugestiva banda sonora), como se vê pela citada sequência do atentado com um drone, filmada em câmara lenta, sem som ambiente e guiada por uma ideia totalmente visual da acção. Até um De Palma pelintra e menor tem algo para deleitar os seus admiradores indefectíveis, e mostrar que ainda sabe como se faz.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Duração:89 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Brian De Palma
  • Argumento:Petter Skavlan
  • Elenco:
    • Carice van Houten
    • Nikolaj Coster-Waldau
    • Guy Pearce
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