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Linhas de Sangue

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Linhas de Sangue
©DRLinhas de Sangue de Sérgio Graciano e Manuel Pureza
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A Time Out diz

O cinema português está cheio de maus filmes. E alguns deles conseguem ser insondável, inenarrável e indescritivelmente maus, tal a incompetência, o desvario a todos os níveis e o caos generalizado que os caracteriza, e que saltam à vista do espectador poucos minutos depois de terem começado.

Por exemplo, o delirante musical O Amor Desceu em Pára-Quedas, de Constantino Esteves (1968), com António Calvário a fazer um ex-fuzileiro que arranja um emprego de mordomo numa casa rica, e que mistura o nacional-cançonetismo e a música ié-ié; ou de uma aberração intitulada O Ladrão de Quem Se Fala (1969), de Henrique Campos, que procurou capitalizar na enorme popularidade de que Camilo de Oliveira gozava à época, dando-lhe um duplo papel de cidadão anónimo e do criminoso do qual é sósia, e que tem como ponto alto “cómico” uma sequência em que Camilo vomita de uma varanda para cima dos transeuntes.

Ou ainda, depois do 25 de Abril, comédias intragáveis como A Vida É Bela...!?, de Luís Galvão Teles (1982), e O Querido Lilás, de Artur Semedo (1987), a infelicíssima e funesta estreia de Herman José no cinema, ambos filmes que, ao pretenderem ressuscitar a comédia à portuguesa, apenas mostraram que ela estava morta, enterrada e reduzida a pó.

Esta lista de turkeys (para usar a saborosa expressão americana) nacionais vê-se agora enriquecida por Linhas
 de Sangue, de Sérgio Graciano e Manuel Pureza. É supostamente uma comédia satírica de acção sobre uma organização criminosa estrangeira que quer tomar o poder em Portugal, resultando num filme que poderia ser descrito como um clone azeiteiro de um decalque trapalhão de uma fita de Quentin Tarantino.

Escrito às três pancadas e realizado na mais completa desordem, órfão de estrutura, de nexo e de piada, desarticulado, disforme e grosseiro no gesto e no discurso (deve bater o recorde de obscenidades ditas num filme português, deixando Balas e Bolinhos muito para trás), repleto de actores e
 de “famosos” que andam a apanhar bonés porque não têm personagens para interpretar, Linhas de Sangue nem sequer sabe quando e como acabar, prolongando-se por mais de duas erráticas e agónicas horas.

Entalado entre o autorismo arrogante e aeriforme, e estes equívocos pseudopopulares, o cinema português fica a marcar passo.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Duração:120 minutos
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