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Manchester by the Sea

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Manchester by the Sea
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A Time Out diz

4/5 estrelas

O naturalismo bisonho e infeliz de ‘Manchester by the Sea’, de Kenneth Lonergan, fez delirar a crítica americana. Eurico de Barros encontrou um bom, sério e comovente filme que há 20 ou 30 anos faria parte da produção média de Hollywood, mas hoje faz figura de fenómeno. 

O cinema americano está de tal forma dominado pelo fantástico e pela ficção científica, sobretudo sob a forma dos filmes de super-heróis, que o aparecimento de uma fita como Manchester by the Sea, de Kenneth Lonergan (You Can Count on Me, Margaret) com o seu realismo plúmbeo e ao alcance da mão, a sua história de infelicidade vivida e dirimida em família e as suas personagens reconhecivel e falivelmente humanas, e ainda a sua oposição aos clichés “positivos” e “inspiradores” de Hollywood, fez a crítica dos EUA embandeirar em arco e proclamar que tínhamos obra-prima.

Isto diz muito sobre o enorme défice do chamado cinema de produção média da indústria cinematográfica americana. Há 20 ou 30 anos, quando essa produção média existia e prosperava, Manchester by the Sea seria mais um (bom) filme representativo dela. Hoje, num cenário em que, entre os blockbusters de super-heróis, de fantasia e ficção científica produzidos em série(s) pelos grandes estúdios com os olhos no mercado global, e as produções mais modestas e em geral independentes, há um enorme vazio. 

Vazio esse que é muito esporadicamente povoado por filmes como este, transformados em fenómenos pela comunidade crítica, e com a respectiva expressão em nomeações e prémios de todos o género, desde as várias associações de críticos até aos Globos de Ouro (está nomeado para cinco), e muito certamente os Óscares. 

Em Manchester by the Sea, Lee (Casey Affleck, portentoso no seu minimalismo tristonho e lacónico, quase um zombie emocional) trabalha como zelador numa série de prédios de uma cidade do Massachusetts. É um sujeito solitário, ensimesmado e que se mete em rixas nos bares por dá cá aquela palha (mais adiante perceberemos porque é que ele ficou assim). Uma manhã, Lee recebe a notícia da morte do irmão, que tinha um barco de pesca e de passeios turísticos, e volta a casa para o funeral. E para seu espanto, é informado de que ficou com a tutela do sobrinho adolescente (Kyle Chandler). 

Colando-se a Lee como uma lapa ao casco de um barco, Kenneth Lonergan faz de Manchester by the Sea um compêndio das grandes tragédias, dos inesperados, das ironias, dos pequenos erros com consequências incomensuravelmente dolorosas que cometemos, ou que a existência nos mete no caminho. É um filme que se pauta por um naturalismo contumaz, pela parcimónia sentimental, por um estilo visual tão severo como o Inverno do Massachusetts, e pela consciência de que, muitas vezes, mais do que as que desejaríamos, há falhas que não podem ser corrigidas, feridas que nunca fecham, desgostos e recriminações que se recusam a ir embora. 

E embora possa haver pequenas compensações e oportunidades de redenção parcial, é muito difícil que o céu nublado da tristeza limpe por completo. Num cinema dominado por super-heróis, Manchester by the Sea vem recordar que aguentar as pancadas que a vida nos dá é já em si um acto de heroísmo.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Data de estreia:sexta-feira 13 janeiro 2017
  • Duração:135 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Kenneth Lonergan
  • Argumento:Kenneth Lonergan
  • Elenco:
    • Michelle Williams
    • Casey Affleck
    • Kyle Chandler
    • Gretchen Mol
    • Lucas Hedges
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