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O Lago dos Gansos Selvagens

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A Time Out diz

4/5 estrelas

Há uma situação clássica do filme policial de acção, muito usada nas séries B americanas, em que um gangster caído em desgraça é perseguido não só pelos seus como também pela polícia.

Como parece que os americanos já não querem (ou não sabem) fazer filmes destes, cabe agora aos chineses suceder-lhes. O Lago dos Gansos Selvagens, de Diao Yinan (que tinha dado nas vistas com Carvão Negro, Gelo Fino, duplamente premiado no Festival de Berlim de 2014, Urso de Ouro e Urso de Prata do Melhor Actor), é a transcrição, para ambiente chinês, de uma dessas velhas séries B de gangsters de Hollywood, mas ainda em melhor.

Na cidade de Wuhan, os meliantes juntam-se em hotéis que controlam, para ter aulas de roubo de motos e dividir os respectivos territórios (a reunião do filme acaba numa tremenda cena de pancadaria). E, para resolverem o problema, levam a cabo umas Olimpíadas de Roubo (ganha o grupo que conseguir roubar mais motos no espaço de uma noite). Zhou Zenong (Hu Ge), o chefe de um dos gangues, mata um polícia e vê-se perseguido pelos outros ladrões e pela lei.

Zhou quer que a mulher e o filho, que se separaram dele e vivem longe, recebam a gorda recompensa pela sua captura, como forma de compensação pela vida infeliz que lhes infligiu. E enquanto os polícias procuram a mulher também, para a convencer a levá-los até ao marido, os criminosos recorrem a uma “beleza banhista”, uma prostituta que trabalha literalmente no Lago dos Gansos Selvagens do título, Liu Aiai (Gwei Lun-Mei, que vimos em Carvão Negro, Gelo Fino), para ela fazer o mesmo antes dos agentes.

O Lago dos Gansos Selvagens é a narrativa vertiginosa desta busca nocturna, que Diao Yinan filma com uma câmara agilíssima e nervosa, um sentido acabado da tensão e da acção visual, e uma exímia utilização expressiva e dramática dos ambientes. O que nos dá direito a uma sucessão de intensos momentos de cinema, sob a luz crua ou berrante das lâmpadas, letreiros e anúncios de néon, que se reflecte no chão molhado pela chuva estival.

É o caso da sequência em que os polícias, que calçaram ténis fluorescentes para se confundirem com as pessoas que dançam disco (!) numa feira, localizam, perseguem e abatem um dos ladrões numa zona descampada e sem luz, distinguindo-se apenas o brilho dos sapatos dos agentes e as suas silhuetas ; ou daquela ainda em que o fugitivo se esgueira, sob a chuva, pelas traseiras labirínticas de um prédio e há uma troca de tiros, que acaba por matar um civil e deixar a mulher deste em histeria.

O final de O Lago dos Gansos Selvagens tem uma voltinha mesmo muito bem desarrincada na ponta. Até lá, percorremos, pela mão do realizador e ao lado das personagens, uma China marginal, feia, pobre e kitsch que está três ou quatro décadas atrasada em relação à China próspera e futurista que vemos nos telejornais e nos documentários de propaganda.

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Duração:113 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Yi'nan Diao
  • Argumento:Yi'nan Diao
  • Elenco:
    • Ge Hu
    • Lun-Mei Kwei
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