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Os Mortos Não Morrem

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A Time Out diz

3/5 estrelas

Muitos, inúmeros são os filmes de zombies feitos até agora, aos quais se juntam várias séries de televisão. Mas não me lembro de ver crianças zombies em nenhum filme ou série deste subgénero de terror, o que acontece em Os Mortos Não Morrem, de Jim Jarmusch.

Onde os demais filmes e séries se ficam por mostrar apenas mortos-vivos adultos, Jarmusch não recua perante a exibição de mortos-vivos infantis, com naturalidade e fazendo todo o sentido na lógica narrativa de Os Mortos Não Morrem. E este é também um filme em que, ao contrário do que costuma suceder, as personagens vêem cinema de terror e conhecem os monstros e as criaturas que o povoam.

Assim, posto perante manifestações naturais invulgares e sinais sangrentos de actividade sobrenatural na cidadezinha de Centerville em que a fita se passa, Ronnie,
o ajudante de xerife interpretado por Adam Driver, conclui, para espanto e cepticismo do seu chefe, o xerife Robertson (Bill Murray), que há zombies na costa.

O mesmo vale para Bobby (Caleb Landry Jones), o nerd cinéfilo e leitor de comics de terror que toma conta da bomba de gasolina local e que, mal ouve falar em zombies, precipita-se para a loja de ferragens para comprar machados, tesouras de podar e espingardas de calibre estoira-crânios. Ele sabe bem que para neutralizar os zombies é preciso “matar-lhes a cabeça”, como será repetido várias vezes ao longo de Os Mortos Não Morrem.

Murray, Driver e Chloe Sevigny são os três agentes da lei empenhados em proteger Centerville de uma praga de mortos-vivos que, pelas notícias da televisão, se adivinha ser mundial. E o resultado da prospecção intensiva de gás natural nos pólos, o que causou perturbações no eixo da Terra, com as consequentes anomalias na natureza, na regularidade do dia e da noite, nas comunicações e mesmo no aspecto da Lua. Quem estiver familiarizado com o estilo descontraído e geralmente impassível do cinema de Jim Jarmusch não estranhará que Os Mortos Não Morrem dispense o frenesim e a atmosfera de pânico geral das fitas deste género (embora seja fiel à carnificina e ao gore).

Só que, desta vez, Jarmusch é de tal forma descontraído e as suas personagens tão imperturbáveis perante os acontecimentos que Os Mortos Não Morrem se torna desleixado e arbitrário. A personagem da agente funerária orientalista de Tilda Swinton, por exemplo, parece existir apenas porque apeteceu a Jarmusch tê-la no filme, e a sua participação é tão excêntrica como desconcertante; e os três miúdos do Centro de Detenção Juvenil, que parece que vão ter um papel com alguma relevância no enredo, desaparecem a certa altura e nunca mais são vistos.

Por outro lado, a forma como, em duas ou três ocasiões, Bill Murray e Adam Driver saem das suas personagens para comentar 
o argumento do filme e as opções narrativas de Jim Jarmusch, não tem piada nenhuma e anula o já de si frágil efeito de real do filme.
 O filme mete-se, inevitável e puerilmente, com Donald Trump, através da personagem de Steve Buscemi, um fazendeiro irascível que usa um boné com a frase “Keep America White Again”. E Jim Jarmusch junta, ao comentário sócio-político e ao catastrofismo ambiental, a sátira ao consumismo desregrado dos americanos, pondo os seus zombies a sair das sepulturas em busca daquilo que mais gostavam em vida, fosse vinho (a personagem de Carol Kane, a copofónica da vila), fossem os telemóveis 
(o plano dos mortos-vivos de iPhones em punho, em busca de rede, é um achado). Mas nem nisto o filme é original, porque George Romero já o fez em Zombie: A Maldição dos Mortos-Vivos (1978), quando fechou os seus sobreviventes da praga de zombies num enorme centro comercial.

O elenco recrutado por Jim Jarmusch em Os Mortos Não Morrem é saborosamente desvairado, e inclui Iggy Pop num morto-
vivo obcecado por café e saído de uma sepultura em cuja lápide se lê “Samuel Fuller”, Tom Waits no vagabundo local, Selena Gomez numa citadina de passagem e Larry Fessenden no dono do motel.

Há homenagens a George Romero e private jokes (o porta-chaves de Star Wars usado
 pela personagem de Adam Driver), e Sturgis Simpson, que canta a canção-tema, aparece num zombie country & western que foi enterrado com a guitarra. Mas Os Mortos Não Morrem resulta menor do que a soma de todas as suas extravagantes partes.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Data de estreia:sexta-feira 12 julho 2019
  • Duração:103 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Jim Jarmusch
  • Argumento:Jim Jarmusch
  • Elenco:
    • Tilda Swinton
    • Bill Murray
    • Adam Driver
    • Chloë Sevigny
    • Selena Gomez
    • Steve Buscemi
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