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Ribeira da Sertã
DRRibeira da Sertã

Paragens obrigatórias entre a Sertã e Montemor-o-Novo

Estamos no Centro do país, no coração de Portugal. Da Sertã para Sul a paisagem fica mais domesticada, as montanhas viram planícies e o horizonte alarga-se

Escrito por
Luís Leal Miranda
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A Estrada Nacional embrenha-se pela Sertã adentro. Perdemos-lhe o rumo, andamos às voltas, mas se existe um bom sítio para andar perdido esta vila é um deles. Tem um castelo, uma igreja matriz, uma ponte filipina, uma praça com um coreto e uma ribeira, elementos que facilitam a vida a qualquer pessoa a precisar de indicações. Por estar no centro do país, quase a meio da EN2, muito perto do Zêzere e próxima de várias Aldeias de Xisto, a Sertã é uma base perfeita para explorar o interior português. E para descansar depois de fazer muitos quilómetros.

Paragens obrigatórias entre a Sertã e Montemor-o-Novo

  • Hotéis

O Convento da Sertã é uma unidade hoteleira que deu nova vida a um antigo e muito degradado convento franciscano do século XVII. Os frades viviam de esmolas e andavam a pregar pela freguesia até ao século seguinte, quando o convento passou a servir também de escola: ensinava-se latim em 1772, mas sete anos depois a Rainha D. Maria I deu autorização para se fazer ali uma escola para ensinar a ler, escrever e contar. A extinção das ordens religiosas, no século XIX, ditou o fim deste convento, que viria a ganhar nova vida (ou várias vidas) como edifício laico: foi quartel da GNR, casa de habitação, escola e sede dos escuteiros.

A mutação final em hotel fez-se com o cuidado de preservar a estrutura e as memórias daquele lugar. Ganhou-se conforto, mas manteve-se alguma solenidade. A capela de oração do convento é agora a recepção, o antigo claustro é sala de estar e de pequenos-almoços. Os quartos obrigaram-nos a ir ver qual o superlativo do verbo confortável – cá está: confortabilíssimos. E o pequeno-almoço, cheio de produtos locais e pormenores deliciosos, é mais eficaz para nos fazer sair da cama do que qualquer despertador. 

O edifício em si (já falámos da piscina? Há uma piscina) é suficiente para fazer uma visita. A tranquilidade daquele lugar e a gastronomia da Sertã também servem como desculpa. Mas a nossa sugestão é usar o Convento da Sertã como base a partir da qual pode explorar aquela zona do interior português – estamos perto de Pedrógão Grande, pelo que fazer turismo ali é também uma forma de ajudar. O próprio convento tem uma série de rotas muito bem delineadas que o ajudam a explorar o rio Zêzere, as Aldeias de Xisto e todo o património histórico e natural da zona.

 

  • Restaurantes

O bucho e os maranhos estão entre as especialidades regionais da Sertã. O bucho é feito com o bucho de porco, recheado com lombo de porco, galinha, presunto, ovos, chouriço magro, pão caseiro e vinho branco. Os maranhos são feitos à base de carne de cabra, arroz e hortelã. Ambos podem ser provados no restaurante Santo Amaro, que também serve a mítica sopa de peixe da Dona Helena.

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Pela estrada fora
© Acscosta

Pela estrada fora

Visite o Picoto da Melriça

O ponto mais central do país tem um nome que podia ter sido dado a um pássaro, um doce conventual à base de amêndoas e ovos, ou ser a alcunha de um amolador de tesouras: “Vem aí o Picoto da Melriça, tragam as facas.” Na verdade, este é o nome do Centro Geodésico de Portugal, um obelisco branco (nome técnico: pirâmide geodésica) com uma grande risca preta que figura, imponente, 592 metros acima do nível do mar na Serra da Melriça. E assim se explica o porquê de metade do nome deste lugar. Mas porquê “picoto”? Foi o nome que a população da zona deu aquela protuberância que tem o nome técnico de “pirâmide geodésica”. Vale a pena perder uns minutos a admirar a vista de 360º sobre Portugal – é uma vista tão ampla que não nos atrevemos a especificar concelhos ou freguesias. No topo da serra existe ainda o Museu da Geodesia, que expõe os instrumentos de medição e conta as histórias dos homens que fizeram as triangulações que nos levaram ao centro do país. É aqui também que pode obter um diploma assinado pelo presidente da Câmara de Vila de Rei em como esteve realmente no Centro Geodésico de Portugal. Um íman de frigorífico com o picoto custa 2,40€.

Almoce num clássico da EN2

Chama-se Paragem do Motorista e tem nos camionistas que fazem a Nacional o seu público-alvo. A comida é barata e abrutalhada, o ambiente é de tasca e este restaurante tem uma particularidade inquietante: para atravessar de uma sala de refeições para outra passa-se pelo meio da cozinha.

Pare em Ciborro e conheça o bar “oficial” da EN2

É o único estabelecimento em 738 quilómetros de estrada que faz uso do estatuto da Estrada Nacional 2 para se promover. O snack-bar O Ciborro fica mesmo ao lado do marco que assinala o quilómetro 500 e vende autocolantes que celebram a “Historic Route” (0,80€ cada, disponível em preto e vermelho). Este café serve de pit stop para muitos motociclistas que fazem a estrada, como se pode comprovar pela quantidade de autocolantes de grupos motards.

Fora da estrada
DR

Fora da estrada

Dê um mergulho na praia fluvial de Fernandaires

Deixando Sertã pelas costas, siga para Sul cerca de 12 quilómetros até achar uma terra com o curioso nome de Relva do Boi. Aí deverá encontrar placas a indicar uma “Praia Fluvial” mas se passar por Souto e Vilar de Ruivo é porque está no caminho certo. Fernandaires é uma discreta baía que faz parte da Barragem de Castelo de Bode e diz ser o “Primeiro Resort de Wakeboard do Mundo”. A praia é muito bonita, está rodeada por pinhais e tem uma paz e sossego que os desportos náuticos insistem em desafiar. Num dia de calor é o melhor desvio à N2 que pode fazer.

Visite a aldeia de xisto Água Formosa

Fica a 15 minutos de Vila de Rei e implica um desvio de cerca de 10 minutos para o interior, deixando a EN2 para trás – a 3km de Vila de Rei vai ver uma placa a indicar Água Formosa. Esta pequena aldeia de xisto, enfiada no meio de um vale e cortada ao meio por um riacho, parece um cenário de um filme. O tipo de aldeias que até agora só tínhamos visto em aulas de Meio Físico e Social ou naqueles minidocumentários que davam antes do Vamos Jogar no Totobola. Passeie pelas ruas estreitas e abasteça-se de mel na pequena loja de produtos locais.

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