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Paco Bigotes

  • Restaurantes
  • preço 2 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado
  1. Paco Bigotes
    ©Manuel Manso
  2. Paco Bigotes - Tacos
    ©Manuel MansoTacos do Paco Bigotes
  3. Paco Bigotes
    ©Manuel MansoPaco Bigotes
  4. Paco Bigotes
    ©Manuel MansoPaco Bigotes
  5. Paco Bigotes
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  7. Paco Bigotes
    ©Manuel MansoPaco Bigotes
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A Time Out diz

4/5 estrelas

A nova taqueria chama-se Paco Bigotes, fica em São Pedro do Estoril, e é fiel à comida mexicana. Há botanas para partilhar, dois ceviches, tostadas (e aqui é preciso desde já aceitar que se vai sujar as mãos – e vai ser bom) – são tortilhas crocantes, fritas, com tudo no topo: tanto podem ser de atum fresco (7,50€) como de frango desfiado (6,50€). Por fim, os clássicos tacos, servidos em doses de dois e com livro de instruções na mesa a indicar como os deve comer. São todos feitos com tortilhas de milho azul (não estranhe a cor). Atenção às malaguetas e bota abaixo com uma margarita de manga (4,50€). Ou um shot de Mezcal, que a dona, mexicana, diz que não faz ressaca como a tequilla.

Crítica

Logo a seguir à inauguração, a notícia correu pela Linha à velocidade com que se traficam boatos picantes sobre famílias brasonadas. Já não era preciso ir a Lisboa para comer boa comida mexicana. Os melhores tacos estavam numa pequena loja das traseiras da Marginal, em cima de uma estação de comboios, entre Carcavelos e o Estoril.

Cinco meses depois, numa visita recente, comprovou-se isso mesmo. São Pedro do Estoril já tinha um restaurante de tacos. Dos bons. Dos cheios.

Quinta-feira ao jantar e o ambiente era de festa de Verão, uma vozearia alegre de pessoas que vão à praia durante o dia carregar endorfinas para a noite. No quintalinho da casa térrea amontoavam-se casais, amigos 
e famílias de Corona na mão,
 uns à espera de lugar, outros a piquenicar mesmo ali sobre o muro transformado em balcão. Gargalhadas, gente levemente ébria; em fundo, música electrónico-tropical boa para abanar o corpo; nas bandejas margaritas e micheladas, tacos 
e ceviches, nachos e totopos; na passarela, estilo informal sem chinelo, pouca maquiagem, eles de camisa florida e peitaça ao léu, uma ou outra corrente de prata, elas de alças e saia comprida, nada ostensivo, a moda beta já não é o que era.

A servir só rapaziada jovem, motivada e ainda sem matreirice. Esteve impecável, por exemplo, o empregado que sugeriu a micheladaaabrirarefeição.
Nos sítios que pensam na racionalidade económica antes de pensarem na felicidade, tende- -se a impingir margaritas com a insistência de um vendedor
de bazar. Aqui, não. “Adoro a michelada”, disse o rapaz com uma honestidade desconcertante, e eu fui atrás e também adorei: cerveja, lima, chiles em pó, sal, porventura um pouco de sumo de tomate e pimento – a melhor coisa para acompanhar o couvert, a saber: totopos (os triângulos fritos, industriais dos bons) e molhos de coentros e de tomate, ambos frescos e aromáticos como um jardim de Acapulco ao nascer do sol.

Dava-se assim início à sessão, com tempo para estudar a carta, pensada por um casal luso-mexicano e executada 
por Henrique Sacchetti, aos comandos da cozinha. A divisão é simples. Meia dúzia de entradas, onde se inclui uma sopa asteca, uma quesadilla, nachos, queijo fundido, molletes e guacamole. Veio o guacamole e foi dos melhores que comi: apresentação simples, o abacate esmagado de forma grosseira, o pico de gallo e um gomo de lima por cima com pó de chile. Está tudo nos ingredientes: a cebola nova, vibrante, sem sinal de oxidação, o abacate no ponto certo de maturação.

Há depois dois ceviches. Pediu-se o de polvo e camarão mas apareceu o de robalo, que acabou por ser bem-vindo. O peixe de aquacultura, firme e em lombos perfeitos, a nadar num sumo de manga, hortelã e aipo, acompanhado de troços de manga e pepino. Nas tostadas optou-se pela tinga de frango, o galináceo desfiado numa pirâmide sobre uma tortilha frita, molho de tomate, creme de feijão e abacate.

Por fim os tacos, essa javardice boa enrolada numa tortilha.
 Há seis variedades e cada uma dá direito a dois tacos. A abrir, o clássico cochinita pibil, carne de porco desfeita cozinhada lentamente com achiote. O achiote é um pó extraído de uma planta parecida com a nossa açafroa (Açores, Algarve). Para além de servir de corante dá um toque terroso e ligeiramente amargo à comida. Quanto à tortilha é azul, sendo feita
 de milho azul e “importada directamente do México”, disse-nos o empregado, lamentando ainda não terem “espaço” para
 as fazerem na casa. O processo não é tão simples como parece: envolve a nixtamalização do milho, um tratamento em solução alcalina que macera o grão e o torna mais macio. O resultado das tortilhas frescas nixtamalizadas é distinto, ficando com uma textura extraordinária, mas na Grande Lisboa haverá apenas uns dois sítios a completarem o processo de raiz. As tortilhas do Paco, sendo industriais, são acima da média e cumprem a função.

Mais michelada, o ambiente vai ficando mais ruidoso. O homem do bar à nossa frente não pára. Saem margaritas, jarros delas, sai água de horchata e água da Jamaica, dois suminhos frescos a preços decentes (1,5€ cada). Na parede ao fundo há um graffiti colorido com motivos alusivos: a cara de um mexicano de bigode (o Paco?, figura inspiradora que os proprietários conheceram no México), galinhas, instrumentos musicais, corações – cores fortes como, aliás, são as das toalhas de plástico cheias de rosáceas e frutos tropicais.

Um casal senta-se ao nosso lado, entra macambúzio mas em poucos minutos começa a sorrir e redescobre a conversa, inebriado pelo ambiente e pela comida, como se tivesse sido acordado
do seu torpor já sem sexo e sem assunto. Como nós, também passaram pelo gobernador, outro taco clássico, tão bom ou ainda melhor do que o cochinita pibil: perfeito o camarão, firme e tenro, maionese de chile chipotle, abacate, feijão preto a envolver tudo, a escorrer-nos pelo queixo, obrigatório.

A terminar, a sobremesa. Toda a gente estava a pedir os churros com doce de leite, e na verdade foi isso que o empregado aconselhou, e nós tínhamos confiança no nosso empregado. Bons que estavam, fritos em óleo limpo, a massa saborosa, o doce de leite uma baba de camelo liquefeita.

Em síntese. O Paco Bigotes desafiou a racionalidade económica e venceu-a. A ideia, a localização, tinha tudo para levar ao desastre, mas estamos perante um desses casos em que o restaurante é tão bom que ultrapassa os condicionalismos; não precisa de estar sobre o mar ou no centro de Lisboa ou ter uma agência de comunicação a matraquear as redes sociais. Bastou fazer bem e ser justo nos preços. Alerta: não é fácil arranjar mesa e não se aceitam reservas. Ide cedo ou ide tarde ou ide aos dias de semana. Mas ide. Ide, ide, ide.

PS: Só não leva as cinco estrelas porque faltou o poder de fogo
 do habanero, porque ainda não acertou no queijo fresco (que entra em alguns pratos, como o esquites), e sobretudo porque as tortilhas, os totopos e a batata doce frita, embora bons, podiam ser diferenciados se fossem caseiros. Quando isso acontecer, lá voltaremos.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Rua Nunes dos Santos, 11
(São Pedro do Estoril)
Estoril
2765-546
Preço
25-30€
Horário
Qua-Qui 12.00-15.00/19.00-23.00, Sex 12.00-15.00/19.00-02.00, Sáb 12.00-02.00, Dom 12.00-22.00.
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