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Be Natural – A História Nunca Contada de Alice Guy-Blaché

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  • 5/5 estrelas
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Be Natural: The Untold Story of Alice Guy Blache
Photograph: from ‘Playing With Fire’ Courtesy of Wisconsin Center for Film and Theater Research
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A Time Out diz

5/5 estrelas

Aplaudimos o completíssimo, entusiástico e fascinante documentário ‘Be Natural – A História Nunca Contada de Alice Guy-Blaché’, sobre esta pioneira do cinema.

A francesa Alice Guy-Blaché (1873-1968) não foi apenas a primeira mulher a realizar um filme, em 1896 (A Fada das Couves). Foi também a primeira a ser directora de produção de um estúdio (a Gaumont, em Paris), e a fundar e liderar uma produtora cinematográfica (a Solax, em Nova Jérsia, nos EUA, em 1910, juntamente com o marido, Herbert Blaché, e um sócio, George A. Magie, quando nem sequer se sonhava com cinema em Hollywood e a região de Nova Iorque era o coração da indústria das imagens em movimento na América).

Em França, Blaché foi secretária de Léon Gaumont, conheceu os irmãos Lumière e Georges Méliès, trabalhou com Louis Feuillade, realizou uma das primeiras superproduções, A Vida de Cristo, em 1906, e foi uma das pioneiras no uso do som sincronizado com a imagem no cinema. Nos EUA, à frente da Solax, o maior estúdio de cinema pré-Hollywood, dirigiu a actriz Lois Weber, que se tornaria na primeira realizadora americana (e que lhe “roubaria” o marido), assinou o primeiro filme com um elenco todo composto por actores negros (A Fool and his Money, 1912) e rodou com nomes como Ethel e Lionel Barrymore ou Alla Nazimova.

Entre aqueles que viram os seus filmes, a elogiaram e citaram como influência, constam Sergei Eisenstein e Alfred Hitchcock. Até fechar os seus estúdios e abandonar a realização, em 1920, Alice Guy-Blaché manivelou mais de mil filmes mudos, 22 dos quais de longa-metragem. Sobrevivem hoje cerca de 150. Durante algumas décadas, Blaché esteve esquecida, em especial em França, o seu país natal. Não era referida nos livros de cinema e os seus filmes eram atribuídos a outros. Até mesmo Henri Langlois, o lendário director da Cinemateca Francesa, parecia não ter conhecimento da sua existência e importância.

Blaché escreveu a autobiografia nos anos 40, mas ninguém a quis publicar, o que só aconteceu após a sua morte, em 1976. Ao longo da vida, sempre procurou corrigir a sua ausência dos livros de cinema e dos registos da indústria, e os erros sobre os seus dados biográficos e a atribuição da autoria dos filmes, bem como listá-los, saber onde se encontravam e chamar a si os direitos. Graças à filha e à nora, a alguns jornalistas e historiadores de cinema e ao trabalho das cinematecas, Alice Guy-Blaché não foi completamente esquecida. Muitos dos seus filmes foram conservados, encontrados e recuperados (vários deles podem agora ser vistos no YouTube). Fizeram-se documentários e livros sobre ela e o nome da realizadora acabou por ser reposto onde devia e merecia estar nos registos da história do cinema.

É num desses livros, Alice Guy-Blaché: Lost Visionary of the Cinema (2002), da investigadora Alison MacMahan, que Pamela B. Green se apoiou para fazer o documentário Be Natural – A História Nunca Contada de Alice Guy-Blaché, narrado por Jodie Foster. Recorrendo a entrevistas, depoimentos, documentos e imagens de arquivo, e também a recriações digitais, a autora não se limita a contar, com o maior detalhe e o máximo de informação, e de forma visualmente atractiva, entusiasmada e dinâmica, a história da vida cheiíssima e da impressionante carreira no cinema de Alice Guy-Blaché, e a destacar-lhe a personalidade, o pioneirismo e o talento – bem como a modéstia.

Além dos familiares, e dos jornalistas, historiadores e investigadores que sempre se interessaram por Blaché e pela sua obra, Pamela B. Green mostra ainda em Be Natural – A História Nunca Contada de Alice Guy-Blaché a importância dos coleccionadores, cinematecas e arquivos de cinema de todo o mundo, na preservação, busca e restauro dos seus filmes. É um verdadeiro trabalho detectivesco e genealógico, que a leva a vários países e a põe no encalço de parentes e descendentes de pessoas que conheceram a realizadora e trabalharam com ela na Gaumont ou na Solax, ou que se interessaram por ela e pela sua obra, e mesmo à detecção e identificação de filmes de Blaché.

Paralelamente, Green ainda arranja tempo para referir outras contemporâneas de Blaché que foram também pioneiras e nomes relevantes nos primórdios da Sétima Arte, recordar o peso e a presença das mulheres na indústria cinematográfica desse tempo, e os obstáculos que encontraram e enfrentaram, e mostrar como muitas delas caíram no quase total esquecimento. No título deste completíssimo, empolgado e empolgante documentário, está a frase “Be natural”. Ela constava numa placa que Alice Guy-Blaché mandou pôr bem visível nos estúdios Solax em Nova Jérsia, e que era um conselho aos actores dos seus filmes: sejam naturais e não artificiais ou afectados. E pelos filmes que chegaram até nós, podemos ver que foi seguido à letra.

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Classificação:PG
  • Data de estreia:sexta-feira 17 janeiro 2020
  • Duração:103 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Pamela Green
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