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Antes de alguém pensar que o “Brazil” do título tem alguma coisa a ver com o Brasil, avisa-se já que o baptismo do filme de Terry Gilliam, agora disponível em versão restaurada digitalmente, vem de uma canção muito popular nos anos de 30. E, já agora, a alegria da música serve como contraponto simbólico ao cinzento universo retro-pós-industrialista e à sensação permanente de opressão imposta pela cenografia.
Na época, aliás, o realizador foi acusado de usar o trabalho de Roger Pratt para cobrir as insuficiências do argumento. A verdade, porém, é que o entrecho criado pelo dramaturgo Tom Stoppard, com a colaboração de Charles McKeown, embora simples, é um modelo de exemplaridade narrativa, carregado de humor negro, descrevendo os meandros de uma sociedade totalitária pronta para tudo para se defender e assim permanecer o oásis de uns poucos com a verosimilhança necessária. E mais verdade ainda é que Gilliam, habitualmente um pouco desleixado nos acabamentos, se esmerou nesta película, fazendo das várias partes um todo coerente e eficaz. Daí esta obra ter sobrevivido à crítica da sua época e, ao longo do tempo, ter crescido entre os cinéfilos até ser comercialmente vantajoso o seu restauro e regresso às salas.
Por Rui Monteiro