Dheepan

Eis um filme sobre refugiados que não regista nos radares dos media, das redes sociais e dos indignados profissionais: os da guerra civil no Sri Lanka entre guerrilheiros nacionalistas e separatistas tamil e o governo. Realizado por Jacques Audiard, Dheepan ganhou a Palma de Ouro em Cannes no ano passado.

O principal intérprete, Jesuthasan Anthonythasan, combateu com os Tigres Tamil antes de se refugiar em França, tal como a personagem que interpreta, o Dheepan do título. Usando a identidade de um morto, ele foge da guerra e para isso finge ter uma família, já que nem sequer conhece a mulher que o acompanha, Yalini, a sua falsa esposa, e a “filha” do casal, Illayall, é uma órfã arrebanhada num campo de refugiados. Uma vez em França, são instalados num daqueles bairros periféricos de Paris onde o Estado já não tem jurisdição e a polícia raramente entra, e quem manda são os líderes dos gangues que traficam droga e armas. Dheepan vai trabalhar como zelador de um prédio e Yalini como empregada doméstica, e cedo vêem que saltaram da frigideira para o fogo. A “família” tem que manter as aparências, embora as relações entre os três sejam tensas e Yalini só deseje escapar-se para Londres, onde tem parentes. Mas a violência no bairro vai dar outro rumo à situação.

Há algo do western clássico (o homem que vivia pelas armas, abandonou-as e tem que voltar a empunhá-las contra a vontade por uma razão maior) nesta fita laconica e poderosamente naturalista, mas também tocante, onde Audiard não tem medo de mostrar algumas verdades politicamente incorrectas sobre a realidade social francesa. Um dos grandes filmes deste ano.