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Manoel de Oliveira era um autor genial, não há ninguém que lhe chegue aos calcanhares em Portugal, e fora também não há muitos. Oliveira, quando acertava, acertava em cheio. Quando falhava o tiro, o que acontecia podemos dizer que com alguma frequência e naturalmente dada a sua produtividade (um filme por ano durante décadas), tinha quase sempre qualquer coisa de interessante, de original e de altamente arriscado, nesse falhanço.
João Botelho é o exacto oposto de Oliveira. Por muito que grite o seu amor aos grandes saltos criativos dos gigantes do século 20, e embora disfarce bem aos olhos de quem se fixa e se fia no discurso e na atitude geral do realizador mais do que em profundidade nos seus filmes, a verdade é que Botelho raramente se eleva acima de uma certa vulgaridade elegante.
O facto de os seus filmes, para todos os efeitos práticos, estarem hoje quase todos esquecidos prova mais uma vez que o tempo não dorme e não perdoa. Oliveira, diz Botelho a propósito de O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu, “anunciou o que o cinema devia ser; antes do tempo, apresentava o futuro”. Os filmes de Botelho, pelo contrário, anunciam invariavelmente aquilo que vai passar sem deixar rasto.
Acresce que a procura constante do brilho reflectido de criadores intocáveis (Pessoa no Filme do Desassossego, Eça nos Maias, agora Oliveira) apenas põe cruelmente à vista geral que nos filmes de Botelho o que é bom não é seu, e o que é seu não é particularmente bom.
O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu tem imenso material de Oliveira, incluindo uma história inédita. Esse material vale cinco estrelas. Descontamos uma porque, neste documentário como no seu título, está um “Eu” a mais. Declarar a paixão por Oliveira é uma coisa. Estar à altura dela é outra.