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A cunha. O pedido. O favor. O empenho. O amigo que desenrasca, o parente que dá um jeitinho. A julgar por O Exame, o novo filme do romeno Cristian Mungiu (4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, Para Lá das Colinas) , a sociedade do seu país funciona tal qual a portuguesa, mesmo depois da queda do comunismo. Romeo, médico numa cidade do interior da Roménia, faz um favor no hospital a um antigo dignitário comunista que se aguentou à tona e mantém uma densa rede de amizades e conhecimentos, para que este interceda pela sua filha única e esta não falhe um exame que lhe pode valer uma bolsa de estudo para Inglaterra. É o funcionamento desta engrenagem da corrupção “vulgar”, criada, praticada e mantida a funcionar quotidianamente pelas mesmas pessoas que se queixam dela e dos males que causa, que Mungiu descreve detalhada e imperturbavelmente, em planos-sequência feitos a regra e esquadro e com aquele naturalismo ao alcance da mão que é apanágio seu, e dos cineastas da sua geração, tirando uma esclarecedora radiografia moral aos seus compatriotas, Belíssimamente interpretado, O Exame é co-produzido pelos irmãos Dardenne e Cristian Mungiu ganhou, ex aequo, o Prémio de Melhor Realizador no Festival de Cannes.