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Paterson

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Paterson
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A Time Out diz

5/5 estrelas

No novo Jim Jarmusch, Paterson, Adam Driver interpreta um condutor de autocarros poeta, que tem uma mulher encantadora e um buldogue que não lhe passa cartão

O novo filme realizado por Jim Jarmusch, Paterson, pode muito bem ser o melhor de sempre sobre poetas, poesia
 e condutores de autocarros casados com iranianas que querem ser cantoras de country & western.

Em Paterson, o patusco Adam Driver interpreta o condutor de autocarros com
o mesmo nome, que vive na cidade de Paterson, em New Jersey. Paterson tem uma mulher iraniana encantadora (Golshifteh Farahani) que quer tocar guitarra e cantar como Tammy Wynette ou Loretta Lynn
e adora pintar círculos em tudo, desde a cortina do chuveiro à sua própria roupa, sem esquecer os muffins que faz em casa para vender no mercado local, e segue uma rotina diária imperturbável. Esta começa de manhã ao volante do seu veículo de transportes municipais, e acaba à noite com um passeio com Marvin, o buldogue do casal, que não lhe passa cartão e só liga à mulher, e uma cerveja no bar de um amigo, que tem uma “parede da fama” de Paterson onde prega retratos de celebridades locais e artigos relacionados com a cidade.

Paterson tem também um segredo, só conhecido pela mulher. Escreve poemas a lápis num caderninho, que só dá a ler a ela e nunca copia ou fotocopia, embora esta o esteja sempre a avisar para fazer cópias, à cautela.

Jarmusch nunca mostra Paterson torturado, em sofrimento ou a lutar horas a fio com as palavras, escrevendo, corrigindo, deitando fora e voltando a escrever de novo. Os poemas surgem-lhe com a naturalidade de um pensamento ou de uma ideia, e de jacto, muitas vezes enquanto está ao volante do autocarro. É como se o realizador estivesse a desdramatizar o acto da criação poética, e a sua tradução para cinema.

Paterson escreve poemas curtos, límpidos e simples, remetendo directamente para a poesia imagista (são da autoria de um poeta verdadeiro, Ron Padgett, e três deles foram escritos directamente para o filme). Não é por acaso que William Carlos Williams, um dos expoentes desta escola, é um dos favoritos de Paterson e da mulher (que lhe chama Carlo Williams Carlos), e o autor de um longuíssimo poema intitulado... Paterson, adivinharam, escrito quando o poeta e médico pediatra exercia clínica no hospital da vizinha cidade de Passaic. Até há uma sequência onde Paterson encontra um turista japonês fã de William Carlos Williams junto a uma catarata referida por este no poema.

Jim Jarmusch assina aqui um dos seus filmes mais ultra-cool, tão bem-comportado, descontraído, recatado e amável como o próprio Paterson, qualidades que se revelam também na atitude deste para com a poesia que escreve. Ela é parte importante da sua vida, mas Paterson não faz qualquer alarido a esse respeito, nem tem a menor ambição de publicar, ganhar prémios e ser famoso.

Paterson é uma comédia finamente encantadora e poética, ao mesmo tempo quotidiana e excêntrica, e com um pavio cómico tão longo, que um dos melhores gags do filme, envolvendo o cão Marvin e a caixa do correio do casal, só surge perto do fim. Marvin que, aliás, é um dos protagonistas fundamentais da história. Mas dizer porquê será estragar ao leitor o prazer desta fita tão irresistivelmente jarmuschiana.

Por Eurico de Barros

Escrito por
Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Classificação:15
  • Data de estreia:sexta-feira 25 novembro 2016
  • Duração:113 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Jim Jarmusch
  • Elenco:
    • Adam Driver
    • Golshifteh Farahani
    • Masatoshi Nagase
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