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Zona de Perigo

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©NetflixZona de Perigo de Mikael Håfström
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A Time Out diz

O filme de acção militar e ficção científica é um clássico do cinema de série B, sendo frequentado por nomes como Jean-Claude Van Damme ou Dolph Lundgren. Que nem por acaso protagonizaram uma das séries mais conhecidas e de maior sucesso do género, Máquinas de Guerra, composta por quatro filmes rodados entre 1992 e 2012, e nos quais interpretam dois veteranos do Vietname que morrem em combate, são ressuscitados num laboratório militar secreto e transformados em ciber-soldados de elite que combatem terroristas e ameaças semelhantes.

Há algo de Máquinas de Guerra em Zona de Perigo, assinado por Mikael Hafstrom e acabado de estrear na Netflix, embora este filme tenha um orçamento, meios técnicos e um arsenal de efeitos digitais com os quais os realizadores de séries B da mesma categoria podem apenas sonhar. A história passa-se num futuro próximo nada verosímil, em que os EUA estão envolvidos num conflito na Ucrânia que opõe milícias apoiadas pela Rússia mas pouco obedientes a Moscovo, e resistentes locais. O tenente Harp (Damson Idris), um piloto de drones que desobedeceu a uma ordem, é enviado, como castigo, para a zona de combate ucraniana e posto sob as ordens do capitão Leo (Anthony Mackie).

Este revela ser um andróide, o protótipo de uma experiência militar ultra-secreta, infinitamente mais sofisticado do que os “Gumps”, os desajeitados robôs-soldados que acompanham os soldados humanos nas suas missões. Além de invulgarmente inteligente, Leo tem sentimentos e muita autonomia, além de capacidades físicas sobre-humanas de dar inveja aos super-heróis da Marvel e da DC. O inexperiente Harp vai ter que o ajudar a localizar e eliminar o líder dos insurgentes, antes que este fique de posse dos códigos de lançamento dos mísseis nucleares que os russos deixaram na Ucrânia depois do fim do comunismo, e que ainda estão activos.

Rodado na Hungria, Zona de Perigo não quer ser apenas um thriller de acção militar futurista que cumpre com todos os requisitos do formato, coisa que fica evidente quando a meio do filme o argumento dá um golpe de rins, e um dos heróis parece transformar-se num vilão ainda pior do que o de serviço à história. Passa-se que Zona de Perigo quer ter sol na eira e chuva no nabal. Ou seja, transmitir uma sisuda mas nada convincente mensagem pacifista, ao mesmo tempo que alinha as rotineiras cenas de combate e carnificina, uma delas envolvendo muitas vítimas civis. Ao menos, as séries B pobrezinhas do mesmo género não têm tais presunções nem se revelam tão hipócritas.

A realização é prosaica, o argumento muito remendado, as sequências de acção trivialmente espectaculares (com a inevitável câmara lenta nos momentos fulcrais), o elemento de ficção científica está subaproveitado e estereotipado (meia dúzia de piadolas e de tiradas pseudo-profundas sobre inteligência artificial, humanização das máquinas e desumanização dos humanos, e a guerra do futuro) e as interpretações são descartáveis (que raio faz Emily Beecham, prémio de Melhor Actriz no Festival de Cannes em 2019 por A Flor da Felicidade, no meio disto?), até porque as personagens têm a espessura do papel vegetal. Zona de Perigo exibe aparato e peneiras de série A, mas não passa de uma série B que levou uma injecção maciça de esteróides digitais.

Escrito por
Eurico de Barros
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