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No Largo Luís de Camões, no centro histórico de Cascais, são muitos os restaurantes e pubs que contam a história de uma vila virada há várias décadas para o turismo — os toldos que se focam mais na “comida típica portuguesa” do que nos nomes dos espaços, os menus que exibem fotografias de pratos, os empregados de ementas na mão que vão interpelando as pessoas que passam.
Agora, há um restaurante que quer quebrar essa tendência, cativando o público local e oferecendo um serviço distinto. O Marujo da Linha inspira-se no imaginário de Camões e foi inaugurado precisamente no dia dedicado ao poeta, o feriado de 10 de Junho.
“Esta é uma praça com muita história, é uma antiga praça do comércio, onde vinham pessoas da Europa inteira e das Índias fazer comércio de especiarias e produtos. Tem uma grande história e tem sido muito violada. São só cardápios com fotografias, pessoas a puxar pelo braço dos turistas… É uma pena porque é uma praça emblemática. Com este restaurante queremos resgatar essa essência e tentar cativar de novo os portugueses”, diz à Time Out a responsável pelo Marujo da Linha, Mireia López, espanhola que vive deste lado da fronteira há 18 anos.
Para isso apostou num restaurante de fusão ibérica, que tanto tem pratos portugueses como espanhóis – com ênfase na sua região, Valência. “Sempre senti que faltava essa fusão. As tapas e os petiscos são parecidos, claro que temos uma rivalidade histórica mas somos muito parecidos, as bases das nossas cozinhas são as mesmas, os nossos produtos são praticamente iguais, o que muda nalguns casos é a forma de cozinhar. Por isso, quis juntar aqui as duas culturas.”
São muitas as opções que saltam à vista na carta. A tábua de presunto ibérico com queijo Manchego (23€) nunca falha, mas também há ceviche peruano de polvo com leche de tigre (21€), boquerones em vinagre (10€), bife tártaro de carne maturada de vaca (25€), croquetes de presunto ibérico (3€), lulas da praia à andaluza (16€), camarões ao alho (16€), buñuelo de bacalhau cremoso com pimentos piquillo (10€), ovos rotos (16€, se for com presunto ibérico e 24€, se optar pelo lavagante) ou esgarraet valenciano, um prato de pimentão assado, bacalhau, azeitonas pretas e ovo cozido (9,50€).
Caso esteja num dia que pede um prato mais composto, destacam-se o arroz tradicional valenciano de frango e coelho (16,50€), o arroz de lavagante (26€), a paella valenciana (16,50€) — sendo que há várias outras versões deste prato —, o lombo de bacalhau com cebolada de tomate (16€), a terrina de secretos ibéricos cozinhados lentamente com puré de batata (15,50€), as costeletas de borrego grelhadas (16,50€) ou o lombo maturado durante 40 dias (28€).
Para terminar, há poucas dúvidas: a escolha é a torrija de leite creme (6,50€), um especial da casa. Pode acompanhar tudo com a selecção de vinhos portugueses e espanhóis do Marujo da Linha.
“Toda a comida é caseira e feita com ingredientes frescos. E a ideia é que a ementa não seja fixa. Abrimos há pouco tempo, mas queremos ter sugestões diárias e ir inovando”, explica Mireia, que sublinha o facto de trabalhar sobretudo com produtos portugueses, mesmo que traga de Espanha os boquerones e os presuntos, entre outros ingredientes.
Antes desta nova vida em Cascais, o Marujo da Linha já existira durante oito meses no Paredão de Carcavelos, ao longo do ano de 2024. Depois, a espanhola descobriu este espaço vazio, que tinha sido usado como armazém pelo restaurante do lado, o Palm Tree, e tomou a decisão de trocar a praia pelo centro da vila.
Mireia López cresceu entre tachos e frigideiras, numa família que geria vários restaurantes. Mudou-se para Portugal por causa do surf, quando se apaixonou pela costa portuguesa, mas esteve sempre entre cá e lá – até porque foi também abrindo os seus próprios negócios em Valência. Quando se agarrou ao projecto do Marujo da Linha, concretizando uma vontade antiga de ter um restaurante em Portugal, trouxe com ela o seu irmão Borja, o chef de cozinha do Marujo.
Depois de seis meses de obras, o “buraco” em que estava transformado aquele espaço tornou-se num restaurante elegante, em tons azuis e brancos, com motivos marítimos e aludindo à arte portuguesa da azulejaria.
A própria Mireia, entusiasta das artes, fez à mão muitos dos elementos que encontramos no espaço: os separadores que evocam os pergaminhos de Camões, os azulejos pintados à mão que retratam o poeta, os candeeiros artesanais. Entre os 90 lugares sentados, que se dividem entre a sala e a esplanada, também encontramos alguns dos livros do escritor. Se o novo Marujo da Linha correr como esperam, a ideia é expandir a marca e abrir um segundo espaço – desta feita, na Baixa de Lisboa.
Largo Luís de Camões, 44, Cascais. Seg-Dom 11.00-01.00. 925 675 800