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Pravda: a cerveja ucraniana que mandou Putin dar uma curva encontrou casa na Parede

Depois de Marvila e Arroios, a cervejaria artesanal Pravda abriu o seu primeiro espaço fora de Lisboa. A escolha foi para a Parede.

Hugo Geada
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Hugo Geada
Jornalista
Pravda
RITA GAZZO | Pravda
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A cervejaria Pravda nasceu em Lviv, em 2014, pelas mãos de Yuriy Zastavny. Desde então, transformou-se numa referência da cena cervejeira ucraniana, com rótulos premiados em concursos internacionais e uma postura política clara, visível tanto nos nomes das cervejas como nos rótulos que circulam mundo fora. Depois de ter chegado a Lisboa em 2024 – primeiro a Marvila e depois a Arroios – a marca decidiu expandir-se à linha de Cascais, com um novo bar na Parede, inaugurado em Setembro. O responsável é Dmytro Kostiuchenko, que encontrou neste bairro o sítio ideal para dar continuidade ao conceito.

“Quando a grande guerra começou, a minha família ficou seis meses fora da Ucrânia, em Lisboa, porque tenho um amigo que vive aqui. Comecei a vir, a visitar, e gostei do lugar, da atmosfera. Vi algumas similaridades na cultura, na história, na atitude e também no modo de vida relaxante. Então pensei: por que não tentar vender a nossa cerveja aqui?”, explica à Time Out Cascais Yuriy Zastavny, co-fundador da Pravda, durante uma visita ao espaço que, antes de ter balcão, já servia os clientes. “Tinha aqui todos estes barris”, não fazia sentido não servir as pessoas”, diz-nos de forma animada Dmytro.

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Rita GazzoUm bar pequeno, mas "acolhedor como uma sala de estar"

A chegada à Parede deu-se quase por acaso. “Talvez há dez anos, tinha o sonho de abrir o meu próprio bar de cerveja. Depois de conhecer o Yuri, comecei a conversar, e a minha primeira ideia foi abrir em Cascais, local onde moro. Mas foi complicado. Quando descobri este lugar, amei a Parede. Percebi que é o bairro perfeito, o lugar perfeito para introduzir as nossas cervejas, introduzir a Ucrânia e partilhar com esta comunidade cerveja de boa qualidade”, recorda Dmytro, sorrindo quando lhe perguntamos se já foi à viziha marisqueira Eduardo das Conquilhas. “É muito bom”, admite.

O conceito da Pravda assenta na ideia de vizinhança. “Os pequenos bares que abrimos na Ucrânia são uma coisa de bairro. A maioria da clientela está a 500 metros. Chamamos-lhe o ‘terceiro lugar’: tens o trabalho, tens a tua casa, e depois tens este espaço, onde não precisas de lavar a loiça”, resume.

Na Parede, tal como em Lisboa, a cerveja servida é produzida inteiramente na Ucrânia. “Tudo é produzido lá e importado para Portugal”, esclarece o co-fundador. A fábrica de Lviv mantém a aposta em ingredientes locais, como ameixas, peras e flores de sabugueiro, que se combinam com estilos internacionais. Foi precisamente uma dessas receitas sazonais que esteve no copo durante a entrevista: uma Berliner Weisse feita com flores de sabugueiro colhidas à mão. “Fazemos no final de Maio ou início de Junho, quando as flores estão no ponto certo. Se não chover antes de as apanharmos, o aroma é excelente. Este ano foi bom”, conta Zastavny.

Pravda
Rita GazzoOs muitos sabores que pode encontrar no Pravda

A postura política da marca é outro traço distintivo. Em 2017, a Pravda lançou uma linha de cervejas com rótulos que retratavam figuras como Merkel, Obama, Trump e Putin. “Às vezes as pessoas dizem que não precisamos de usar política para marketing. Mas nós não usamos política para marketing. Nós representamos a Ucrânia com o nosso produto. Algumas pessoas representam a Ucrânia com arte, outras com política. Nós fazemos cerveja. E acreditamos que podemos explicar por que achamos que Angela Merkel deveria estar vestida de uniforme fascista, como Frau Ribbentrop, ou por que criámos o rótulo do Putin em 2015. É a continuação do que acreditamos. Torna a nossa vida muito fácil: não precisamos de contratar marketing para nos dizer o que fazer”, afirma Zastavny.

Entre os rótulos mais conhecidos está a Putin Huilo, uma Golden Ale de 8% de álcool e 27 IBUs, cujo nome em português, significa algo como “Vai-te foder, Putin”. Lançada após a anexação da Crimeia, tornou-se um hino cervejeiro de resistência. Em 2018, ganhou a medalha de bronze no World Beer Idol, na República Checa. “Os rótulos das nossas garrafas levam mensagens sobre nós para todos os cantos do mundo”, resume o texto de apresentação da Pravda. Mas pode encontrar muitos mais sabores. A cervejaria tem mais de 25 cervejas diferentes e alguns sabores bem fora do normal — uma das que experimentámos, a Tomato Gose, era semelhante a um gaspacho.

Dmytro Kostiuchenko
RITA GAZZODmytro Kostiuchenko é o responsável pela cervejaria na Parede

A aposta no mercado português passa por criar uma rede de pequenas lojas com um modelo pouco habitual por cá: cerveja para levar em garrafas de plástico de um litro. “É cerveja para ir à praia, para um churrasco, para um momento divertido. Na Ucrânia, pelo menos metade da nossa cerveja é vendida assim. Aqui precisamos de explicar, porque não é comum”, diz. Para isso, instalaram na Parede um sistema de enchimento com injecção de CO2, semelhante ao usado industrialmente, que garante frescura mesmo quando a cerveja é consumida dias depois.

O futuro prevê expansão, ainda que com calma. Coimbra, Porto ou outros bairros de Lisboa estão nos planos. Para já, a prioridade é consolidar o espaço da Parede e habituar o público português a um conceito diferente. Como resume Kostiuchenko, “a Parede é o lugar certo para começar. O bairro certo para beber boa cerveja ucraniana”.

R. Miguel Bombarda 344 (Parede). Seg-Dom (14.00-00.00)

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