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Teatro Experimental de Cascais
TECLuísa Cruz e José Condessa

Teatro Experimental de Cascais continua legado de Carlos Avilez. “Queremos preservar a identidade da companhia”

Têm neste momento em cena a peça 'A Andorinha', encenada por Cucha Carvalheiro, com Luísa Cruz e José Condessa.

Escrito por
Ricardo Farinha
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Estreada a 19 de Janeiro, A Andorinha é a peça que marca o início da nova vida do Teatro Experimental de Cascais (TEC). Foi em Novembro do ano passado que um dos seus fundadores e directores, Carlos Avilez, o grande encenador da companhia, morreu aos 88 anos. E este foi um dos últimos espectáculos que idealizou.

“A Andorinha”, um texto original de Guillem Clua, dramaturgo catalão, inspira-se levemente no massacre que aconteceu em 2016 numa discoteca de Orlando, nos Estados Unidos da América. Ao todo, 49 pessoas morreram. A narrativa centra-se exclusivamente em duas personagens: Amelia (Luísa Cruz) é uma professora de música que recebe em casa Ramón (José Condessa), jovem que quer melhorar as suas técnicas de canto para interpretar A Andorinha, num memorial em honra da mãe, que faleceu há um ano. Este cenário junta duas personagens que desvendam um passado desconhecido e descobrem que têm muito mais em comum do que julgam.

“Quando o Carlos faleceu, estávamos prestes a iniciar os ensaios”, conta Fernando Alvarez, o programador, cenógrafo e figurinista das produções do TEC, uma das figuras proeminentes da companhia, que lá trabalha há 36 anos. “Não foi fácil. O projecto já estava todo mais ou menos desenhado, os actores estavam contratados. O Carlos queria muito trabalhar com a Luísa Cruz, já há muitos anos, e foi algo que não se chegou a concretizar. O José Condessa foi um dos que trouxeram a ideia, ele queria muito fazer esta peça, acho que já tinha visto uma versão. Foi um momento complicado de gerir, também tínhamos a [peça] Electra em cena. Mas tem que se andar para a frente e resolver os problemas da melhor maneira.”

A Andorinha fica em cena no Teatro Municipal Mirita Casimiro, a casa do Teatro Experimental de Cascais, até 11 de Fevereiro. As sessões acontecem de quinta-feira a sábado, às 21.00; e aos domingos, às 16.00. Os bilhetes estão disponíveis por 15€.

Depois da morte de Carlos Avilez, foi necessário procurar quem o pudesse substituir na encenação da peça. A escolha recaiu sobre Cucha Carvalheiro. “Foi uma aposta ganha porque é uma mulher com uma experiência e uma calma enorme, uma artista excelente, e foi maravilhoso trabalhar com ela. Deu-nos uma tranquilidade no processo de trabalho que era essencial para aquele momento”, explica Fernando Alvarez.

Teatro Experimental de Cascais
TEC

O cenógrafo já tinha uma ideia pensada, mas naturalmente houve uma adaptação depois de começar a trabalhar com Cucha Carvalheiro. “Felizmente as nossas ideias casaram muito bem e houve muita coisa que ficou da ideia original. A Cucha até me desafiou a criar mais do que aquilo que eu pensava. Porque eu tinha pensado numa imagem de fundo que ficasse do princípio ao fim, e no processo de ensaios acabámos por chegar a uma sequência de imagens desenhadas por mim, que se vão transformando ao longo do espectáculo. O trabalho acabou por ficar muito interessante.”

Com um piano de cauda em cena, um “elemento fortíssimo para um cenário”, Fernando Alvarez quis ilustrar a temática do massacre com uma “mancha vermelha” como pano de fundo. “É quase como uma arena onde eles se digladiam, porque há sempre um confronto ao longo da peça entre as duas personagens.”

Fernando Alvarez olha para A Andorinha como um texto “forte e emocionante”, mas sobretudo destaca-se por ter “uma actualidade enorme”. “A principal coisa que se coloca na peça é: o que é que deveria definir a humanidade? A personagem da Luísa diz que deveria ser a capacidade de sentir a dor do outro. Isso, para mim, é o que está em falta na sociedade de hoje em dia. Essa empatia resolveria muita coisa.”

O que se segue no Teatro Experimental de Cascais?

O programa anual do TEC ainda está a ser fechado, mas Fernando Alvarez adianta à Time Out que as peças até ao final do ano serão encenadas por Elmano Sancho, Rodrigo Aleixo, Marco d’Almeida e Flávia Gusmão. “No geral, a linha de programação deste ano vai-se manter dentro do que o Carlos tinha esboçado comigo. Não vai haver muitas alterações. Só houve algumas peças que não nos fez muito sentido manter porque eram opções muito próprias do Carlos, que teriam a sua encenação.”

Quanto aos encenadores, a ideia passou por convidar pessoas próximas do TEC. “São da casa. O Rodrigo Aleixo foi assistente do Carlos Avilez durante vários anos e já encenou na companhia, a Flávia Gusmão e o Marco d'Almeida são dos alunos mais antigos da escola... Têm carreiras feitas, uma experiência enorme, e conhecem bem a escola e a companhia. E o Elmano também é um actor que já trabalhou algumas vezes na casa e de que o Carlos gostava. Até já tínhamos um compromisso com ele para trabalhar nesta peça, então resolvi convidá-lo para encenar o espectáculo que estreia a 27 de Março. Tem sido um trabalho intenso, muito cansativo, mas penso que vá dar frutos em breve e que será uma programação muito bonita.”

Acima de tudo, Fernando Alvarez deseja manter o legado deixado por Carlos Avilez. “O Carlos deixou muitas sementes e acho que elas estão a florescer em força. Uma das coisas que o [também director] João Vasco pediu logo foi que o legado continuasse, que não se perdesse a força e a exigência que o Carlos expunha nos espectáculos. O estilo não tem de ser igual, como é óbvio. Cada encenador vai trazer a sua personalidade para cada espectáculo. Mas que se perceba que o espírito do TEC está cá. Dentro da família do TEC, nós tendo muita, muita gente para trabalhar connosco, com grande qualidade – quer a nível de actores, de encenação, dramaturgia, há muita gente que se revê no trabalho que o Carlos Avilez e o João Vasco desenvolveram ao longo de 58 anos. E isso é o mais importante neste momento: preservar a identidade da companhia.”

Teatro Municipal Mirita Casimiro, Avenida Fausto de Figueiredo, Estoril

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