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Club Makumba
© Simão CostaClub Makumba

A música que brota da Sulitânia dos Club Makumba é “uma coisa viva”

Em ‘Sulitânia Beat’, o segundo álbum de Club Makumba, as músicas e tradições do sul global confundem-se com o rock e o jazz libertário. E convidam-nos a dançar.

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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Sulitânia Beat está a chegar ao fim quando aterramos em “Quibir”. Durante 25 segundos, ouve-se só uma gravação de campo, os ruídos e o burburinho da cidade. Até que, timidamente, um saxofone se faz notar e respira uma melodia arabesca. Prolonga-se apenas por uns segundos, mesmo antes de o disco parar de rodar. “Quibir” é um breve epílogo, mas é sintomático da forma como os Club Makumba encararam o segundo álbum, editado no início deste mês. Depois de um longo período de gestação e melhoramento, tem apresentação marcada para sexta-feira, 23 de Fevereiro, no Maus Hábitos (Porto). E na quinta-feira, 29, é a vez do B.Leza, em Lisboa, dançar com as novas canções.

“O primeiro disco foi mais objectivo, mais urgente”, começa a dizer Tó Trips, guitarrista e fundador deste Club Makumba. “Mais no osso”, sugere o baterista João Doce, que gravou com ele Sumba (2016) e se manteve ao seu lado quando Gonçalos Prazeres e Leonardo se juntaram à banda, em 2019. “Desta vez, houve tempo para ouvir e pensar sobre [a música]”, continua o guitarrista. “Tem um som mais cheio, e mais cheio de coisas, de laivos electrónicos, de guitarras, de drones. Tivemos outra preocupação. Também porque estivemos quase um ano de roda disto, com o [engenheiro e co-produtor] Hugo Valverde.”

Falar em “um ano” não é exagero. Quando no final de Fevereiro do ano passado (ou seria o início de Março?) conversámos sobre o seu Popular Jaguar, Tó Trips e o resto da banda estavam a meio de um ciclo de concertos no Musicbox, com um convidado diferente em cada noite, e tinham o disco quase todo gravado. “Estivemos uma semana entre o final de Novembro e o início de Dezembro [de 2022] em Castro Marim, em residência, para criar. Em Janeiro, passámos outra semana no Arda, no Porto, a gravar. Depois estivemos até Novembro a misturar. E a fazer overdubs”, detalha Tó Trips. “A dada altura sentimos que faltava ali um tema, um pouco mais de rock, e fomos para o Namouche gravar em Agosto”.

O tempo passado a polir e a pensar sobre o disco, defendem, foi essencial. Porém, o mais importante foi mesmo o trabalho feito em Castro Marim. Foi lá também que encontraram o título para o disco: Sulitânia Beat. “O Francisco Palma Dias, um escritor e poeta que estava connosco em Castro Marim, passou-nos esse conceito de Sulitânia, que se refere às terras a sul do Tejo”, conta João Doce. “Como não sabíamos se era algo que estava descrito ou caracterizado cientificamente, fizemos uma pesquisa para perceber de onde vinha a expressão e descobrimos que [a Ronda dos Quatro Caminhos] tinha um disco com esse nome.”

“Mas nós esticámos e demos outra elasticidade ao termo, até porque essa Sulitânia [de que falava o Francisco Palma Dias] tinha um lado um bocado melancólico. O que não combinava assim muito bem com o disco que estávamos a fazer, mais alegre e com outra dinâmica. Só mais tarde é que regressámos a esse nome, já com uma nova interpretação – englobando o hemisfério sul, os povos do sul, as influências mais quentes e tropicais que o disco tem – e adicionámos-lhe o Beat.”

As influências a que João Doce alude são as mesmas que permeavam o álbum homónimo de 2022: as músicas da bacia do Mediterrâneo, os blues tuaregues, o afrobeat e a polirritmia africana, vapores de bossa e de samba, mas sempre filtrados pelo rock e um jazz libertário. “Encontrámos um som muito próprio, com o qual nos identificamos. Não havendo fórmulas mágicas nem matemáticas, quando estamos a compor ou a dar de corpo a malhas, percebemos logo se aquilo soa ou não a Club Makumba”, explica João Doce. O processo criativo pode, por isso, ser “muito experimentalista e muito aberto”, sem que corram o risco de perder aquilo que os torna especiais. Que os torna Club Makumba.

Ao vivo, tocam com a mesma liberdade. “Sou de uma geração que, quando ia a um concerto, sabia que ia acontecer alguma coisa além da música. Ia haver chatices, o vocalista a cortar-se com uma faca na perna, porrada com os skinheads... Acontecia sempre qualquer coisa. Talvez por isso, prefiro ver bandas que não se limitam a reproduzir exactamente os discos. Acho isso uma grande seca. Quando eu vou a um espectáculo é para ser surpreendido”, defende Tó Trip. Ou para surpreender. “Não vamos tocar outras músicas que não as nossas, mas quero que a música seja uma coisa viva. Que aconteça qualquer coisa. É isso que gosto de ver num concerto.” Não é o único.

B.Leza (Lisboa). 29 Fev (Qui). 22.00, 15€

Continuamos à conversa

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