Michael Collins

1.º de Maio: dez filmes sobre revoluções no dia do trabalhador

O 1.º de Maio é uma boa altura para lembrar que sem revolução não há evolução. Nem tinha havido estes dez filmes

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O 1.º de Maio é uma altura tão boa como outra qualquer para lembrar que sem revolução não há evolução. A frase é discutível, sem dúvida. E também sem dúvida o mundo seria diferente sem as revoluções que nos trouxeram até aqui – e que inspiraram estes dez filmes sobre revoluções. Aqui há impérios destruídos, ditadores depostos, bravos valentes e golpes de estado que mudaram o rumo da história. Para ver ao longo do tempo ou para devorar de uma assentada, por exemplo numa maratona de cinema por ocasião do feriado de 1 de Maio.

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1.º de Maio: dez filmes sobre revoluções no dia do trabalhador

O Couraçado Potemkin (1925)

Um dos inventores do cinema como arte, Serguei Eisenstein, além de cineasta que revolucionou a técnica de montagem, foi também um dos principais cronistas da revolução soviética. Neste filme, o realizador parte de um episódio real, a revolta dos marinheiros embarcados no couraçado Potemkin que, em 1905, alastrou a toda a cidade de Odessa e juntou achas à fogueira dos que queriam o czar deposto. Não foi dessa, mas este episódio, e a repressão que se seguiu, foi determinante para minar o poder czarista e ampliar o desejo de mudança.

Spartacus (1960)

É verdade, tecnicamente, o levantamento de escravos comandados por Spartacus, no último século antes de Cristo, não é uma revolução mas uma revolta. A primeira revolta a pôr em causa a hegemonia e a existência do Império Romano. Para Dalton Trumbo, um dos argumentistas, entre tantos outros cineastas norte-americanos, a ser colocado na lista negra do senador Joseph McCarthy por actividades comunistas, o movimento iniciado pelo antigo gladiador é uma metáfora sobre o movimento laboral na década de 1960. A bem dizer, Spartacus (dirigido por Stanley Kubrick, no início aparentemente contrariado e, no fim, definitivamente furibundo com a remontagem do seu filme pelo estúdio) é obra de agitação e propaganda revolucionária que acabou por empochar quatro Óscares, um Globo de Ouro e um BAFTA, o que diz alguma coisa sobre o ar desse tempo.

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A Batalha de Argel (1966)

O filme de Gillo Pontecorvo, pela sua qualidade cinematográfica, a sua oportunidade política em meados da década de 1960, e ainda pela perseguição que lhe foi movida durante décadas, é um clássico do cinema sobre a revolução, o nacionalismo independentista e o colonialismo, aqui representados, em regime de falso documentário (muito tempo antes de ser estilo), pela narrativa da Batalha de Argel. Usando este episódio, passado entre 1956 e o ano seguinte, fundamental para a independência da Argélia do ditatorial colonialismo da França, que aconteceria em 1962, Pontecorvo não esconde a violência necessária aos revolucionários para derrotarem a violência imposta pelas tropas francesas, sem, no entanto, a enaltecer ou romantizar, o que é raro no género.

Bananas (1971)

Logo na primeira cena, com o jornalista de televisão Howard Cosell a fazer a cobertura em directo do assassinato do Presidente de San Marcos, Woody Allen dá o tom do que será a hora um quarto que ainda falta para a conclusão do seu segundo filme: uma paródia às revoluções e golpes de estado que fizeram da América Latina, na ressaca da revolução cubana, um lugar impróprio para democratas. No centro da intriga está um palerma americano com dor de corno (Allen, claro), que, em nome do seu amor não correspondido por uma militante esquerdista, parte para San Marcos, é vítima de um plano de assassinato engendrado pelo ditador de serviço, junta-se aos rebeldes e transforma-se numa espécie de Che Guevara de opereta.

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Le Fond de l'Air Est Rouge (1977)

Chris Marker levou o seu tempo, mas este filme, apesar de mais parecer um ensaio do que um documentário, dedica-se a fazer o rol das esperanças e das decepções criadas e desenvolvidas pelos movimentos revolucionários (a revolta estudantil no México, a Primavera de Praga, a derrota americana no Vietname). Sob observação está, em simultâneo, a nova esquerda francesa, os movimentos anticoloniais africanos, a guerrilha na América Latina e ainda o estado das revoluções chinesa e cubana, o papel de Mao, Che Guevara e Fidel, ou Nixon, a ascensão e queda dos Panteras Negras na América do Norte e a eleição de Salvador Allende, no Chile. E, no fim, fica a pergunta, assim, em jeito de palimpsesto: mas como é que o capitalismo sobreviveu ao fim dos anos 60 e ao início dos anos 70 do século passado? 

Reds (1981)

Warren Beatty leva mais de três horas a contar a história da Revolução de Outubro, segundo Jack Reed (papel interpretado por Beatty) e Louise Bryant (Diane Keaton), jornalistas e socialistas norte-americanos que acompanharam os primeiros meses de poder revolucionário. O argumento de Trevor Griffiths nasce, aliás, de Dez Dias que Abalaram o Mundo, uma vívida e partidária visão da revolução dirigida por Lenine e Trotsky, o livro-reportagem-diário de Reed que primeiro apresentou uma visão distinta das publicadas pela imprensa nos Estados Unidos e na Europa.

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Danton – O Processo da Revolução (1983)

A mãe de todas as revoluções, por assim dizer, não podia faltar nesta lista. Pois aqui está a Revolução Francesa de 1789, vista por Andrzej Wajda através do exemplo de Georges Jacques Danton (Gérard Depardieu), o revolucionário, para muitos o principal responsável pelo derrube da monarquia e instauração da república, no processo, como Marat e Robespierre, por exemplo, caído em desgraça, acusado de corromper a revolução pelo directório no poder e guilhotinado depois de exercer variados cargos públicos.

Michael Collins: O Preço da Liberdade (1996)

A interpretação de Liam Neeson no papel do revolucionário irlandês Michael Collins é uma das grandes mais-valias do filme de Neil Jordan sobre a criação da República da Irlanda, no início do século XX, depois de séculos de colonialismo inglês. Mas não é a única nem a principal, qualidade que deve ser atribuída a um argumento e uma realização impermeáveis ao maniqueísmo e, ao mesmo tempo, capazes de relatar entusiasticamente uma das mais complexas e sangrentas revoluções da história da Europa sem esquecer os controversos acontecimentos que estão na origem, até hoje, da autonomia da Irlanda do Norte, ainda agora e apesar da paz trazida pelo Acordo de Sexta-Feira Santa, em 1998, local de conflito político e religioso entre as comunidades católica e protestante.

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Che: O Argentino (2008)

Ao longo de mais de quatro horas e meia, em 2008, Steven Soderbergh contou a história do mítico revolucionário nascido na Argentina, assassinado na Bolívia e sepultado na Cuba que ajudou a libertar. O filme passou integralmente em Cannes (e não só), mas estreou-se em Portugal dividido em duas partes. A primeira, intitulada O Argentino, centra as suas atenções da revolução cubana e vive muito da interpretação concentrada e física de Benício del Toro, vencedor do Prémio de Interpretação Masculina do Festival de Cannes, no papel do comandante Ernesto "Che" Guevara.

O Espírito de ‘45 (2013)

Com o seu cinema social e militante, Ken Loach já trouxe muitas vezes retratos de um Reino Unido do passado à luz da sua relação com o futuro e com o nosso presente. O documentário O Espírito de '45 concentra-se no período das duas Grandes Guerras do século XX, especialmente no final da Segunda, e naquilo que então se fez ao nível de política social para não permitir que se cometessem os erros que ocorreram entre os dois conflitos. Há um uso extenso de imagens de época conjugadas com entrevistas actuais, tudo em preto e branco, para haver uma certa homogeneidade entre passado e presente e, simultaneamente, servir como um elemento estético de contradição para a tese apresentada: de como as políticas naquele período serviram para unir um povo e como, desde então, muitas delas se foram perdendo e incitaram uma desunião. E em parte, também, como se desaprendeu com a História, apesar de ela estar bem próxima.

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