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Grande Hotel de Paris: 140 anos de Belle Époque na Baixa portuense

Escrito por
Inês Bastos
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Oh là là!, exclamamos mal chegamos ao mais antigo hotel da cidade. A passadeira vermelha estendida na pequena escadaria da entrada faz desvanecer qualquer dúvida: acabámos de pôr um pé na Belle Époque parisiense. O Grande Hotel de Paris celebra 140 anos de portas abertas a 27 de Novembro e não faltam novidades para o futuro, mas já lá vamos...

© José Miguel Teles

Na entrada reinam as cores pastel, muito típicas da Arte Nova. As paredes azuis claras com losangos brancos contrastam com o vermelho real dos cadeirões e com as grandes tapeçarias que, aliás, se encontram em várias áreas do edifício construído em 1877. Por enquanto ainda não subimos aos quartos. Vamos primeiro explorar as zonas sociais deste canto de Paris no Porto. 

Depois de atravessarmos uma portada, entramos numa pequena sala de passagem. As paredes passam para rosa bebé e a luz natural quase magoa os olhos. No bom sentido, claro. O piano lembra-nos a animação noturna de outros tempos, quando aqui se imitava a vida social parisiense e onde até era possível aos hóspedes tomarem banho a qualquer hora do dia, luxo que não acontecia noutros hotéis. Falamos de 1878, quando foi inaugurado o Café-Restaurante com três salões onde, além de serviço à carta, havia saraus musicais.

© José Miguel Teles

O Café-Restaurante é agora a sala de pequenos-almoços. Comprida e luminosa, é impossível não levantar um bocado o queixo como se nos transformássemos em aristocratas franceses prestes a entrar num qualquer evento social. Faltam-nos trajes à altura mas mesmo assim temos acesso ao jardim interior. Aí vemos uma dezena de mesas e cadeiras de madeira alinhadas onde é possível tomar o pequeno-almoço com vista para os turistas que conseguiram chegar ao topo da Torre dos Clérigos. Gabamos os azulejos pendurados na parede, cromaticamente organizados, e invejamos os hóspedes que trocam a confusão da Baixa por umas horas nos bancos deste jardim espalhados pela relva.

© José Miguel Teles

Antes de subirmos aos quartos, a sala de leitura. Tons pastel nas paredes, desta vez verdes. É por aqui que os muitos hóspedes se vão concentrando antes de partirem para conhecer a cidade.

Os 42 quartos com que abriu, em 1877, como Albergaria Grand Hotel de Paris, mantêm-se. Não intactos, porque foram reorganizados, mas em número. O mais requisitado é o actual 110, outrora número 17. Porquê? Porque aqui viveu Camilo Castelo Branco durante alguns anos — dois ou três, não se sabe bem. Reza a história que num período menos feliz da sua vida, o escritor português encontrou nos cozinhados da dona Gertrudes o seu antidepressivo. Mas este não foi o único ilustre a deambular pelos corredores estreitos do Grande Hotel de Paris. Por aqui também passaram Rafael Bordalo Pinheiro, Guerra Junqueiro e Eça de Queirós.

© José Miguel Teles

Eça de Queirós fez, aliás, a sua preparação para o matrimónio na então albergaria. O que queremos dizer é que foi aqui que viveu nos três meses que antecederam o seu casamento com Emília de Castro — entre Novembro de 1885 e 10 de Fevereiro de 1886, para sermos mais precisos. Enquanto revia Os Maias, o jovem apaixonado escrevia bilhetes para a sua noiva (foram 14 no total, dizem-nos aqui no hotel), que mandava entregar em mão por um mensageiro no Palácio de Santo Ovídio, onde Emília morava.

O que também se mantém é a grande escadaria em madeira escura que dá acesso aos quartos, espalhados por três andares. Se não conseguir subir tantas escadas pode sempre usar o elevador, daqueles antigos onde ainda é necessário fechar a grade para que funcione.

Cláudia Paiva

Mas também há novidades. No ano em que celebra o seu 140º aniversário, o Grande Hotel de Paris integrou a cadeia STAY HOTELS que já tem planeadas algumas mudanças. Não, o estilo parisiense do hotel não vai mudar. E não, o hotel não vai fechar. A ideia é, pelo contrário, dar ainda mais atenção aos pormenores históricos do hotel mais antigo do Porto. Vai estender-se para os dois edifícios adjacentes e, assim, ganhar mais 37 quartos. A madeira do chão vai ser tratada, a decoração uniformizada e as mobílias dos quartos restauradas. As janelas vão ser reforçadas, para que a movida da cidade não entre tanto pelos quartos adentro, e o jardim interior vai ganhar nova vida e alguns metros quadrados. Quando? A ideia é que as obras comecem no segundo semestre de 2018.

É um bom presente de aniversário, diríamos. A nós resta-nos fazer a devida vénia pelos 140 anos de história.

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