Sarah Blasko - Live
©David BurkeSarah Blasko
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10 discos indie pop para ouvir de cabeça para baixo

A pop que domina o mundo é anglo-saxónica, mas nem toda vem da Grã-Bretanha e dos EUA. A Austrália regurgita bandas fantásticas, que só não são mais conhecidas por estarem nos antípodas – a distância ainda conta no mundo globalizado

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A Austrália, uma ilha maioritariamente ocupada por desertos escaldantes, parece ser, tal como a Islândia, uma ilha maioritariamente ocupada por desertos glaciais, solo fértil para o talento musical. Passemos por cima de Crowded House, INXS, AC/DC, Men At Work, Midnight Oil, Kylie Minogue e Natalie Imbruglia, por serem sobejamente conhecidos e dispensarem publicidade adicional, e também por cima de The Birthday Party, Nick Cave, Dead Can Dance e SPK, por a sua área não ser a pop, e concentremo-nos no indie pop. Na falta de uma investigação científica que revele que viver de cabeça para baixo favorece a criação de canções perfeitas, maravilhemo-nos com 10 discos de 10 bandas que vale a pena conhecer entre a rica e pouco conhecida produção do Down Under, que é como o mundo anglo-saxónico costuma designar a Austrália e a Nova Zelândia.

10 discos indie pop para ouvir de cabeça para baixo

Heyday (1985), por the Church

Nascidos em 1980 em Sydney, os The Church são um raro caso de longevidade. Não só por ainda se manterem activos em 2017 mas por continuarem a fazer bons discos (confira-se o mais recente, Further/Deeper, de 2014). Heyday (1985) é o quarto álbum de originais da banda e marca a sua chegada à plena maturidade, numa tapeçaria de rendilhados de guitarras (Marty Willson-Piper e Peter Koppes), evocativos de The Byrds, arranjos sofisticados, entre o onírico e o épico, e a voz intimista e encantatória do baixista Steve Kilbey, cujas letras amargas lançam sombras sobre o colorido psicadélico.

[“Columbus”, de Heyday]

Born Sandy Devotional (1986), por The Triffids

Os Triffids formaram-se em Perth em 1978, em torno de David McComb (1962-99), mas só em 1983 gravaram o seu primeiro álbum, Treeless Plain. Se este título remete para as vastas e áridas planuras da ilha, o mesmo faz a música do grupo: as suas canções são “espaçosas”, por vezes épicas (com a ajuda de sumptuosos arranjos orquestrais) e pintam desertos, estuários, recifes e praias desertas sobrevoadas por bandos de aves marinhas. Born Sandy Devotional foi gravado em Londres e todas as suas canções saíram da pena de David McComb e, segundo o autor, todas elas estão ligadas a um trecho da ampla e árida paisagem do Sudoeste australiano. Uma delas, “Wide Open Road”, foi o mais próximo que os Triffids estiveram de ter um êxito.

[“The Seabirds”, de Born Sandy Devotional]

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Tallulah (1987), por The Go-Betweens

O website Ranker coloca The Go-Betweens em 100.º lugar no que toca à popularidade no universo das bandas australianas, o que só atesta como a popularidade pode ser o mais obtuso dos critérios. Tal como nos Beatles, as canções dos Go-Betweens são creditadas a um duo, Grant McLennan/Robert Forster, mas na verdade são obra de um ou de outro, têm estilos diferenciados e são cantadas por quem as compõe. Num mundo mais justo McLennan/Forster seria um símbolo de songwriting superlativo tão conhecido como Lennon/McCartney. Embora se tenham formado em 1977, em Brisbane, fizeram um sinuoso caminho, repartido entre a Austrália e a Grã-Bretanha, até obterem, com Liberty Belle & the Black Diamond Express (1986), algum reconhecimento. Tallulah foi o disco seguinte e contou com o precioso contributo do violino e oboé de Amanda Brown.

[“Bye Bye Pride”, de Tallulah]

Jack Frost (1991), pelos Jack Frost

Jack Frost é o nome mais improvável para uma banda australiana, já que é uma personificação do Inverno e de tudo o que ele tem de gélido, húmido e escorregadio. Mas foi o escolhido por Steve Kilbey (dos The Church) e Grant McLennan (dos Go-Betweens) para o seu projecto paralelo, que só lançaria mais um disco, em 1996, intitulado Snow Job (outro conceito completamente alheio aos australianos). No cômputo global, o registo pende um pouco mais para o lado dos The Church que dos Go-Betweens, o que não quer dizer que o disco se resuma ao caldeamento das duas bandas: é um encontro inspirado e original entre dois songwriters de génio e é mais melancólico e meditativo do que qualquer das bandas.

[“Providence”, de Jack Frost]

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Team (2003), de Holly Throsby

Holly Throsby estreou-se com o álbum On Night, em 2003, e entretanto já lançou mais quatro, um dos quais (See!) é destinado a crianças, e manteve durante algum tempo o projecto paralelo Seeker Lover Keeper, com duas outras singer-songwriters australianas, Sarah Blasko (ver abaixo) e Sally Seltmann. “Things Between People”, o título de uma das faixas de On Night, pode ser visto como uma descrição sintética do foco principal das tranquilas canções folk de Throsby: as coisas que acontecem entre as pessoas. E sendo estas tão delicadas e susceptíveis ficam bem assim, quase só com voz e da guitarra, e um discreto colorido dos restantes instrumentos.

[“Things Between People”, de On Night]

What the Sea Wants, the Sea Will Have (2007), de Sarah Blasko

Sarah Blasko fez parte dos Acquiescence antes de se lançar numa carreira a solo, com The Overture & the Underscore (2004). What the Sea Wants, the Sea Will Have é o seu segundo álbum e mistura faixas em que a electrónica domina – como “For You” (que faz lembrar Björk, até nalgumas inflexões da voz) – com outras mais pop.

[“The Garden’s End”, de What the Sea Wants, the Sea Will Have]

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The Bowery (2008), pelos Firekites

Os Firekites são de Newcastle, na Nova Gales do Sul, e praticam uma pop transparente, frágil, despojada, serena e outonal. Vê-se logo que estes são os rapazes e raparigas que ficam em casa a arranhar remorsos e frustrações numa guitarra em vez de irem fazer surf. The Bowery foi o seu disco de estreia.

[“Autumn Story”, de The Bowery]

Woodland + Young North (2011/2), de The Paper Kites

Os Paper Kites são de Melbourne, formaram-se em 2009 e estrearam-se com dois EPs, Woodland (2011) e Young North, que se esgotaram e foram, afortunadamente, reeditados num só pacote. Os álbuns que se seguiram, States (2013) e Twelvefour (2015) afastaram-se progressivamente da folk singela e onírica dos dois primeiros EPs, que fazem lembrar outros “papagaios de papel” australianos, os Firekites.

[“Featherstone”, do EP Woodland]

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Forever So (2012), dos Husky

Os Husky são de Melbourne e o seu núcleo criativo é formado por Husky Gawenda (voz e guitarra) e Gideon Preiss (teclados). Forever So, o seu primeiro álbum, é, como tantos discos pop, construído com os destroços de uma relação amorosa terminada.

[“History’s Door”, de Forever So]

Angus & Julia Stone (2014), de Angus & Julia Stone

Os pais de Angus e Julia Stone mantiveram um duo de música folk e os dois irmãos seguiram as pisadas paternas. Após dois EPs, estrearam-se em 2007 com A Book Like This, a que se seguiu Down the Way (2009). O interregno até ao terceiro, Angus & Julia Stone (2014), resulta de Angus e Julia terem enveredado por carreiras em nome individual (no caso de Angus também sob os pseudónimos Lady of the Sunshine e Dope Lemon). Embora os discos a solo dos manos sejam também muito recomendáveis, o regresso à empresa familiar, sob os auspícios do célebre produtor Rick Rubin, é de saudar. A doçura folk dos primeiros tempos deu lugar a um som mais musculado, com o baixo e a bateria a ganhar protagonismo, mas o songwriting continua de cinco estrelas. Esqueçam os Stones de Jagger & Richards, um circo geriátrico que deveria ter sido desmantelado há 40 anos – os Stones do nosso tempo são Angus & Julia.

[“A Heartbreak”, de Angus & Julia Stone]

De phones nos ouvidos

  • Música

Por vezes os discos de estúdio soam demasiado polidos e assépticos – está tudo perfeito, mas, durante o longo processo de gravação e mistura, o feeling e a excitação ficaram de fora – e, por outro lado, os concertos ao vivo têm noites más, porque o vocalista não consegue ouvir-se e desafina, ou a acústica da sala é bera, ou o volume está demasiado alto, ou os volumes dos instrumentos estão desequilibrados, ou a escala do concerto torna a experiência impessoal. As actuações “ao vivo em estúdio” (com ou sem público) conseguem, por vezes, reunir o melhor dos dois mundos: a espontaneidade, vibração e urgência do live e o rigor, detalhe, subtileza e intimismo das gravações de estúdio. Não é por acaso que cada vez mais músicos exploram este formato, quer num verdadeiro estúdio de gravação quer num local que proporcione condições similares.

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