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Cantar Abril: uma dúzia de canções revolucionárias

Abril, mês da Liberdade. As ruas enchem-se de cravos e as bocas de canções revolucionárias. Aqui tem uma dúzia para cantarolar.

Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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Celebre o dia da Liberdade com um repertório à altura. Escolhemos algumas das mais marcantes canções revolucionárias portuguesas de antes (como a Grândola, Vila Morena de José Afonso ou a Trova do Vento Que Passa, pela voz de Adriano Correia de Oliveira) e depois (no caso, por exemplo, de A Cantiga É Uma Arma do GAC) do 25 de Abril de 1974. Esta é a playlist perfeita para celebrar a liberdade e gritar "25 de Abril sempre" a plenos pulmões.

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Uma dúzia de canções revolucionárias

1. “Grândola, Vila Morena”, José Afonso

A música de José Afonso já está tão digerida pela nossa memória colectiva que, quando ouvimos um disco dele, ouvimos o que temos na memória e não o que está gravado. Há poucas canções onde isto seja tão óbvio como em Grândola, Vila Morena. Quase toda a gente acha que consegue cantá-la, mas poucos sabem a letra de uma ponta à outra, e menos ainda ouvem, de facto, esta canção arrepiante e circular com direcção musical de José Mário Branco.

2. “Trova do Vento Que Passa”, Adriano Correia de Oliveira

Magnífica balada composta por António Portugal, a partir de um poema de Manuel Alegre. Ao longo dos anos esta crítica discreta à ditadura salazarista, ao mesmo tempo pesarosa e carregada de esperança, foi gravada por muita gente, do Quarteto 1111 a Amália Rodrigues. Mas a versão definitiva será sempre esta, cantada por Adriano Correia de Oliveira em 1963.

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3. “Queixa das Almas Jovens Censuradas”, José Mário Branco

José Mário Branco ergueu uma grande canção sobre este poema de Natália Correia a que emprestou a voz e o génio. Uma denúncia, tão lúcida como desiludida, do conformismo e mediocridade promovidos pela ditadura e um dos pontos altos do seu álbum de estreia de 1971, o magistral Mudam-se Os Tempos, Mudam-se as Vontades.

4. “O Povo Unido Jamais Será Vencido”, Luís Cília

Escrita por Sergio Ortega Alvarado e os Quilapayún antes do golpe de estado fascista (patrocinado pelos Estados Unidos) que depôs Salvador Allende, em 1973, “El Pueblo Unido Jamás Será Vencido” tornou-se um dos hinos da resistência chilena e da esquerda internacional. Em 1974 a banda chilena, na altura exilada em França, acompanhou Luís Cília, que também vivera em França durante a ditadura salazarista, nesta versão portuguesa da canção.

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5. “O Patrão e Nós”, Fausto

O segundo álbum de Fausto Bordalo Dias, P’ró Que Der e Vier, é maravilhoso. Um disco combativo e politicamente empenhado, gravado em 1974 e sem medo de chamar os bois pelos nomes. Poucas canções são tão directas como O Patrão e Nós, com versos duros e honestos como: “Tem um banco e muitas fábricas/ Tem nome de patrão/ Mas agarra que é ladrão/ Não faz falta e é cabrão”.

6. “Somos Livres”, Ermelinda Duarte

Na ressaca do 25 de Abril, José Cid fez os arranjos e a actriz Ermelinda Duarte interpretou esta cantiga na peça Lisboa 72-74 do Teatro Estúdio de Lisboa. Depois de a ouvir, Mário Martins, da editora Valentim de Carvalho, convidou-a para a editar em disco, e José Cid produziu o single. A canção acabou por se tornar numa das mais icónicas dos anos que seguiram à revolução.

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7. “Letra Para Um Hino”, Francisco Fanhais

Gravado em Roma, em 1975, o disco República não foi editado em Portugal. E é uma pena. José Afonso e Francisco Fanhais participaram neste registo de solidariedade para com o jornal República, com inéditos, versões de outros artistas e do seu próprio repertório. Canções de primeira água como esta “Letra Para Um Hino”, escrita por Manuel Alegre antes da revolução de Abril, mas intemporal.

8. “Companheiro Vasco”, Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo

“Força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço”, prometiam Maria do Amparo e Carlos Alberto Moniz no lado B do single “Daqui o Povo Não Arranca Pé!”, de 1975. Um hino revolucionário pueril e ultimamente inconsequente, mas inspirador. Que vale sobretudo pela exaltação do militar de Abril e primeiro-ministro responsável por medidas como a reforma agrária e as nacionalizações dos principais sectores económicos.

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9. “O Pecado (do) Capital”, Jorge Palma & Fernando Girão

O festival da canção de 1975 realizou-se em pleno PREC. E isso nota-se. Paco Bandeira cantou “Batalha-povo”, José Mário Branco deu voz ao “Alerta!” do Grupo de Acção Cultural, o vencedor foi um militar de Abril, Duarte Mendes. E o concurso começou com Fernando Girão e Jorge Palma a cantarem sobre “O Pecado (do) Capital".

10. “A Cantiga É Uma Arma”, Grupo de Acção Cultural

O Grupo de Acção Cultural, ou apenas GAC, foi o melhor e mais consequente dos colectivos de cantores e músicos politicamente engajados que se formaram no pós-25 de Abril. Algumas das principais vozes da revolução estiveram envolvidas (e mais ou cedo ou mais tarde abandonaram) o projecto. A Cantiga É Uma Arma, incluída no LP homónimo de 1975, foi e é um dos seus maiores hinos.

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11. “Cantiga de uma Greve de Verão”, Vitorino

Retirada de Semear Salsa Ao Reguinho, o álbum de estreia de Vitorino Salomé, editado em 1975 pela Orfeu, esta balada revolucionária pega num título de Shakespeare e adapta-o ao contexto da reforma agrária. As letras são simples, directas e inspiradoras (“abro o peito, fecho o punho”; “troco foice por espingarda”; “caçadeira atrás da porta”; “queremos um Verão quente”).

12. “Liberdade”, Sérgio Godinho

“‘Liberdade’ é de todas as palavras e conceitos que uso na minha vida, e por arrasto nas canções, a que mais acarinho e que mais defendo, aquela que dá ao norte a sua bússola”, escrevia há uns anos Sérgio Godinho, num texto publicado na Time Out Lisboa. É natural, por isso, que seja esta a canção que o representa nesta lista. Mas podiam ser muitas outras.

Mais sobre o 25 de Abril

  • Filmes

Os cineastas nacionais não são muito dados a escavar o passado, nem mesmo a desenterrar e autopsiar o salazarismo. Mas as excepções existem, e tanto a revolução como a guerra acabaram por chegar ao grande ecrã, em filmes mais ou menos aproximados da realidade, muito ou pouco romantizados, baseados em livros ou em factos. Seja como for, a revolução dos cravos marcou uma página incontornável da história portuguesa, por isso, e porque também o cinema lhe prestou homenagem, damos-lhe os melhores filmes sobre o 25 de Abril para que respire a liberdade através da sétima arte.

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  • Arte

Abril e a Revolução dos Cravos celebra-se em grande na Padaria Águas Furtadas. Porque “não seria possível expôr uma vasta maioria da arte e ilustração presente neste estabelecimento durante o período da ditadura”, é que, até ao final do mês, fazem questão de ter em exibição “todos os trabalhos relacionados com a Liberdade e com o 25 de Abril, numa ‘Mostra dos Cravos’”.

Fazem também parte desta mostra os trabalhos da terceira chamada pública alusiva ao 25 de Abril, ou seja, “desde 2020 que este concurso se tornou obrigatório nesta loja/galeria. As chamadas públicas da Padaria Águas Furtadas são organizadas todos os meses e constituem num novo desafio criativo que é lançado, pelo Instagram, tanto a artistas já residentes da galeria como a novos artistas de qualquer técnica”, explicam.

Nesta Padaria que é, na verdade, uma loja dedicada ao design, artesanato, ilustração e arte nacional, mesmo em frente ao Mosteiro de São Bento da Vitória, vai encontrar trabalhos de artistas que se inspiraram no Dia da Liberdade para o celebrar (ver fotogaleria acima). Conte com nomes como Catarina Paulo, Cláudia Salgueiro, Frank, o mudo, Gambuzino, Inês Bartilloti, Inês Aires, Inês Fonseca, Joana Molho, Karla Ruas Ramos, Maria Rocha e Ruben Ramires.

Rua de São Bento da Vitória, 44. Seg-Sáb 10.00-13.00; 15.00-19.00. Dom 11.00-14.00; 15.00-19.00.

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  • Filmes

Quase 50 anos depois do 25 de Abril, surge nos cinemas a primeira longa-metragem sobre a vida de Salgueiro Maia, o capitão cuja acção foi decisiva para o triunfo do golpe militar de 1974. Assinado por Sérgio Graciano e com Tomás Alves no papel principal, Salgueiro Maia – O Implicado vai também ser uma série de televisão com quatro episódios. A Time Out conversou com o realizador.

Como é que nasceu Salgueiro Maia – O Implicado? Era um projecto seu?
Não, o projecto foi-me proposto pelo António Sousa Duarte e pelo José Gandarez, da produtora Sky Dreams. Chamaram-me para uma reunião, fui lá, ouvi-os e aceitei fazer a biografia do Salgueiro Maia.

Ficou logo interessado, ou ainda hesitou, por não ser uma ideia sua?
Fiquei ainda a pensar um bocadinho sobre o projecto, mas também não há como dizer que não a fazer um filme sobre o herói de Abril. Eu gosto de um lado emocional, forte, nas histórias e o guião era todo só emoção. E decidi arriscar.

O argumento estava já totalmente pronto ou ainda trabalhou nele?
O argumento é do João Lacerda de Matos, baseado num livro biográfico do António Sousa Duarte. Ainda trabalhei nele. Já estava escrito, mas ainda agarrei nele e limei algumas arestas, descasquei-o um bocadinho.

O filme é muito mais sobre o Salgueiro Maia íntimo, do que sobre o militar e ícone da revolução.
Sim, é muito mais sobre a pessoa e muito menos sobre o herói. É o Salgueiro Maia marido, pai de família, amigo, e também o militar. São todas as características dele que conhecíamos menos.

Salgueiro Maia - O Implicado
DRSalgueiro Maia - O Implicado

O filme chama-se Salgueiro Maia - O Implicado. Mas a verdade é que, após o golpe de 25 de Abril, ele passou o resto da vida a tentar não se implicar em nada, a recusar tudo o que lhe propunham, cargos, benesses, etc. Este título não é contraditório?
É verdade, ele passa o resto da vida à parte de tudo, a não aceitar nada do que lhe propõem. Mas a palavra “implicado” também faz sentido porque, mesmo assim, ele acaba por se implicar no pós-revolução. O Salgueiro Maia estava lá, no sítio certo, no 25 de Abril, e depois as coisas vão-lhe acontecendo, ele foi fazendo o percurso dele, sem estar do lado de ninguém, sempre apartidário, sem se meter na política, sem querer qualquer tipo de visibilidade, ao contrário de um Otelo Saraiva de Carvalho, por exemplo. Por isso, acho que ele foi um herói ocasional.

Como é que foi o processo de escolha do Tomás Alves para interpretar o Salgueiro Maia? Nunca pensou num actor muito conhecido para fazer o papel?
Na primeira reunião que tive para falar sobre o filme com os produtores, lembrei-me automaticamente do Tomás Alves. Eu já o tinha achado parecido fisicamente com o Salgueiro Maia, numa ocasião em que o encontrei fora do âmbito do filme. Acho-o um bom actor e muito apelativo, apesar de não ser uma vedeta, e penso que ele tem muito a ver com a personagem.

Ele falou também com a Natércia Maia para preparar o papel?
Sim. A Filipa Areosa falou mais com ela, porque a ia interpretar. Eles estiveram ambos comigo quando fui falar com a Natércia, e a Filipa esteve lá depois mais uma ou duas vezes. E acho que ela também a personifica impecavelmente.

Vê-se perfeitamente que as sequências que se passam em África, durante a guerra, foram filmadas cá em Portugal. Não teve orçamento para ir rodar lá?
Não, infelizmente. Isso nem sequer foi uma possibilidade. O filme não teve um orçamento muito grande, por isso nunca se proporcionou. Os oficiais do Exército ajudaram-me muito a preparar essas sequências, fomos acompanhados por eles durante toda a rodagem, mas ficámos por cá. E tive muita pena, porque não é o mesmo filmar com esta luz de cá e com a luz amarelada de África.

  • Miúdos

Livros nunca são demais e a melhor altura para lhes apanhar o gosto é logo desde pequeninos. A verdade é que os miúdos nem precisam de saber ler para se começarem a maravilhar com as páginas ilustradas e as histórias onde nunca falta uma bela lição. Em prosa curta ou em verso, sem nunca dispensar a ilustração aprimorada e cheia de bons esconderijos, estas obras prometem fazê-los abrir a boca de espanto. Uns foram lançados há pouco tempo, outros estão prestes a sair, mas são todos livros infantis e juvenis fresquinhos (da fornada de 2022) que convencem até os adultos.

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