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©Hans-Peter van Velthoven

Entrevista: Os novos The Gift

Brian Eno produziu 'Altar', o novo disco dos Gift. Falámos com Nuno Gonçalves sobre o novo disco. E os novos Gift

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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Neste momento, no título do vosso site e mesmo na meta-informação do Google aparece The Gift ft. Brian Eno. Porquê?

Porque há uma canção em que ele canta, que é o “Love Without Violins”. E geralmente quando há duetos mete-se featuring. O que é que podíamos pôr: com? 

Não é isso. Quando se entra no vosso site aparece logo lá em cima, no separador: “The Gift ft. Brian Eno”. 

É o “Love Without Violins”. O Brian Eno canta com a Sónia. Ou não chegaste ao refrão?

A questão não é essa. Isto não aparece como referência a qualquer canção nem a nada. 

É impossível isso.

No vosso site, lá em cima, no separador do browser, aparece The Gift ft. Brian Eno. Só. 

E tens o videoclipe em baixo, o primeiro.

Não. Neste momento o único vídeo que têm na primeira página do site é o “Big Fish”.

Então é um erro do site.

Pronto.

Pois, deve ter sido um erro de programação. Era a primeira pergunta, isso?

Era.

Muito bem, está respondida. Próxima.

Como é que chegaram ao Brian Eno?

Por causa de uma viagem que eu fiz ao Brasil. Tive a sorte de poder colaborar com ele num projecto. Estávamos a ver como é que as ONG nas favelas do Rio de Janeiro conseguiam tirar os meninos do crime. Houve uma empatia entre mim e ele, começámos a conversar, ficámos amigos. Tive a sorte de dois anos depois ele estar em Vigo e ver os Gift ao vivo. Apaixonou-se pela banda e nós apaixonámo-nos por ele. Felizmente chegámos a um bom porto. A Sónia perguntou-lhe se ele queria produzir os Gift e ele aceitou. Ficámos muito contentes com isso.

Quão contentes? Tendo em conta que ele é uma pessoa que não produz muita gente... 

Mais contentes ainda. Uma das únicas coisas que nos pediu foi que fizéssemos silêncio absoluto, porque estava a recusar todos os projectos que lhe pediam para produzir. Pediu-nos esse silêncio porque queria estar descansado a produzir os Gift. Foi uma das razões por que ficámos ainda mais contentes... Era algo que o Brian queria mesmo fazer e isso depois reflecte-se também no empenho dele e na entrega ao disco. Ele não foi só produtor, ficou também autor de algumas das letras e das canções que eu tinha escrito originalmente. Portanto ficámos obviamente contentíssimos, claro. 

Este Altar parece menos excessivo, ou talvez mais focado, do que os vossos últimos discos. Isso deveu-se ao Brian Eno ou partiu de vocês?

Não concordo absolutamente nada com essa pergunta. O Primavera era um disco de piano e voz. Não há disco mais vazio e menos carregado.

Então como é que foi o processo de trabalho?

Trabalhámos juntos ao longo de dois anos e meio. 12 sessões de 12 dias cada uma. Espaçadas no tempo pela agenda dos Gift e a agenda do Brian. Nós pela primeira vez com este disco novo não parámos de tocar. Continuámos a nossa digressão, continuámos os compromissos que tínhamos. Até porque quando se trabalha com o Brian é importante aproveitar o máximo de tempo possível. Achámos que o disco necessitava deste espaço. Em vez de estarmos um mês no estúdio ou dois meses, como geralmente as bandas fazem, tivemos a possibilidade de estar dois anos e meio com ele. Separados por dois, três meses. E assim vamos apurando as ideias. Vamo-nos habituando também à maneira de trabalhar dele e ele à nossa. Acho que isso foi muito importante para o resultado final, o disco foi amadurecendo ao longo do tempo. E nós estamos contentes com este método, porque se tivéssemos trabalhado dois meses seguidos se calhar não conseguíamos chegar ao resultado que chegámos.

E o Flood como é que aparece nesta história?

Nós já há algum tempo que gostamos do Flood. Tal como gostamos do Brian. E quando estávamos a decidir as misturas foi um dos nomes que estava em cima da mesa. E aconteceu. Eu e a Sónia tivemos a sorte de presenciar o momento em que eles os dois se reencontraram, que era uma coisa que já não faziam há muitos anos. Já não trabalhavam juntos desde o Zooropa, dos U2. Portanto para nós foi também um momento importante. O bom disto é que passam a ser também da nossa família. Ajudam-nos a ter calma nos momentos em que estamos mais enervados, e que as coisas demoram mais tempo a acontecer. São pessoas muito sábias e que nos ajudam. Ficámos muito contentes com o trabalho do Flood. Até porque normalmente as misturas do disco costumam ser feitas em um ou dois dias para cada canção. E neste caso estivemos quase seis meses a misturar o disco. Não todos os dias, obviamente, até porque o Flood na altura estava envolvido com a Polly Jean [PJ Harvey] e estava também a gravar o disco do Ed Harcourt. Então tivemos que nos dividir um bocadinho entre a agenda dele e a nossa. Mas lá está, também foi uma pessoa que só fechou o disco quando a banda estava contente, que se motivou muito. E lá está, ele gostou muito das canções. Nesta altura a única arma que podemos ter para conquistar nomes destes são as canções. O dinheiro não é com certeza, porque não precisam disso, e nós não temos o dinheiro para lhes pagar o que costumam receber. Portanto é mesmo pela paixão da banda. É uma coisa que joga a nosso favor.

Disseste que trabalhavam com o Flood espaçadamente, nas pausas dele. Vocês iam-lhe enviando a música à medida que completavam cada sessão com o Eno?

Não, não, não. Nós gravámos o disco todo. O disco foi gravado todo durante dois anos e depois de termos as canções enviámos o bolo todo para o Flood. Achámos que seria melhor assim, porque as misturas feitas com muito espaço entre elas podem perder coesão de som. E foi assim que fizemos. Quando tínhamos tudo gravado e achávamos que as canções estavam fechadas ao nível de som e de instrumentos a utilizar, mandámos tudo para o Flood. Foi este o processo.

Quais são os planos para a apresentação do disco? Sei que há uma digressão portuguesa planeada. Depois estão a pensar sair do país?

Temos o festival The Great Escape, em Brighton, no dia 19 de Maio. Temos o Bush Hall em Londres em nome próprio. A 25 de Maio. E temos uma data também em Berlim, numa sala boa para nós, acho que com 500 lugares. Vamos estar também no dia 24 de Junho no Summer Stage em Nova Iorque, no Central Park. E por enquanto é só. Mas estamos contentes porque é melhor isto do que nada. Estas datas foram todas marcadas com alguma antecedência e o disco só saiu agora, o que significa que as pessoas que ouviram os primeiros singles gostaram destes novos Gift.

Porquê uns novos Gift?

Porque são uns Gift que são produzidos pelo Brian Eno. Porque são uns Gift que têm uma equipa a trabalhar em Inglaterra, outra nos Estados Unidos, no Brasil, em França, na Holanda, na Alemanha. E tudo isto faz parte do novo. Não é só o som que se apurou, é toda uma estrutura que se criou à volta deste projecto, pensada durante muitos anos para que um disco que nós achamos que deve ser escutado pelo mundo não fique só num ou dois territórios. Agora podemos ter um bocadinho mais de amplitude de territórios a explorar. Acho que as fronteiras não fazem sentido, hoje, nas músicas e nas bandas. Tudo faz parte deste novo ou desta nova estrutura que os Gift têm. Por isso é que são os novos Gift.

É curioso estares a falar nisso, em fronteiras que não fazem sentido, numa altura em que muitos países se fecham mais dentro deles. Dos Estados Unidos ao Reino Unido, agora com o brexit.

Pois, mas a política não tem nada a ver com a música. No dia em que tiver estamos todos tramados.

Olha que já houve músicos que tiveram problemas a entrar nos Estados Unidos pós-Trump. Porque está muito mais difícil toda a gente entrar.

Pois. Nós não tivemos problemas, porque sabemos que há regras que se têm de respeitar. Tu não podes trabalhar nos EUA sem teres visto de trabalho, não há nada a fazer. É assim a vida.

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