Jamie Lidell
© Lindsey RomeJamie Lidell

Jamie Lidell: “Manter o controlo e ditar o ritmo”

'Building a Beginning' é o disco de soul à antiga de Jamie Lidell. Falámos antes do concerto em Oeiras, no EDP Cool Jazz

Luís Filipe Rodrigues
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Jamie Lidell completou um longo processo de transição. Que é como quem diz, em Building a Beginning (2016), o produtor britânico abandonou a electrónica que restava no seu som e impôs-se como um cantor soul. Conversámos antes do concerto no EDP Cool Jazz, dia 26 de Julho. 

Quando lançaste o Multiply, em 2005, fazias electrónica experimental com vozes soul, e foste-te aproximando mais da soul com cada novo disco. O que é que vais fazer agora que lançaste um disco de soul pura e dura?

Techno (risos). Estou a brincar, mas nunca se sabe. Tenho andado a fazer mudanças no meu estúdio. Adicionei uma segunda secção onde meti todo o material dos meus tempos do techno. É muito divertido. Além disso, o meu filho gosta do som do sintetizador, por isso pode ser que faça um disco para ele dançar.

Building a Beginning é o teu primeiro disco pós-Warp. A mudança de editora afectou a tua música de alguma forma?

Acho que não. Quer dizer, até certo ponto estava a começar do zero fora da Warp, por isso havia uma sensação de mudança. Gosto disso.

Lançaste o novo álbum na tua própria editora. Porque é que não assinaste por uma editora maior? Calculo que houvesse interessados.

Isso é o que tu pensas. Só que eu tenho 43 anos e as grandes editoras estão concentradas a 100% no que é novo e jovem. De certa forma até compreendo. Eles partem do princípio de que a aposta numa estrela transitória é a melhor forma de fazer bom dinheiro, ao invés de alguém que lhes traz um fluxo de rendimento constante, só que mais baixo. E isto hoje é tudo decidido por máquinas. Os computadores acompanham a actividade das redes sociais para as editoras minimizarem as hipóteses de fracasso. É tudo muito robótico, com alguma pena minha. Claro que há excepções… Como por exemplo o meu amigo Rag’n’Bone Man. Fiquei muito contente por ver uma grande editora apostar em alguém com verdadeiro talento. Mas gosto de manter o controlo e ditar o meu próprio ritmo, o meu rumo. Não gosto de ter de responder a malta que eu não respeito nas editoras.

Vais tocar os Royal Pharaohs no EDP Cool Jazz. Eles já estavam contigo
no novo disco?

Só o Daru Jones é que participou no disco. É uma lenda. É o melhor baterista. Adoro-o. Juntei o resto da banda depois de gravar o disco. Para te dizer a verdade, este álbum foi quase todo montado em estúdio.

Oiço ecos do Stevie Wonder no novo disco. Foi uma influência?

Absolutamente. Antes de o nosso filho nascer, [eu e a minha mulher] estávamos sempre a ouvir o Music of My Mind. Apaixonei-me pelo disco e queria que o meu tivesse a mesma onda.

Pois, vocês trabalharam juntos no novo disco... Tanto quanto sei a tua mulher não é música. Como é que foi trabalhar com ela?

Adoro trabalhar com ela. Ela conhece-me tão bem. Melhor do que qualquer produtor externo alguma vez conheceria. Trabalhamos bem como equipa e fico muito contente por termos a oportunidade de passar tanto tempo juntos num projecto.

E também tens um par de canções sobre o teu filho. O nascimento dele influenciou este álbum?

A sua influência é transversal ao disco. A alegria, a paixão. Ele é a razão pela qual vivo e me esforço.

És britânico e estás a viver nos Estados Unidos. A situação política nos dois lados do Atlântico, com o Brexit e o Trump, reflectiu-se na tua música?

Há uma sensação geral de inquietação que definitivamente pairou  sobre nós durante a gravação do disco. Acho que a minha mulher Lindsey capturou isso muito bem na canção “Me and You”. Essa sensação de que as pessoas estão a ser afastadas e obrigadas a lutar umas com as outras mais do que dantes. Sinto que, agora mais do que nunca, devemos concentrar-nos mais nas nossas semelhanças do que nas diferenças.

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