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Três dias esgotados, 120 mil pessoas, cinco palcos e animação até ao último minuto. Nem só de números vive o MEO Marés Vivas, mas também eles comprovam a dimensão que o festival tem vindo a ganhar ao longo dos últimos anos e que se reflectiu nesta 17.ª edição. O antigo Parque de Campismo da Madalena, em Vila Nova de Gaia, encheu para receber um cartaz verdadeiramente ecléctico, que trouxe público de todas as idades, gostos e feitios e, acima de tudo, mostrou que este é um festival que quer ser para todos.
“Foram três dias fantásticos, com grandes momentos musicais e, sobretudo, foi bom ver que as pessoas saem daqui felizes e que adoraram o festival”, descreve Jorge Lopes, director da PEV Entertainment, sublinhando que é esta diversidade que diferencia o evento. "É sempre o nosso objectivo ter um dia mais dedicado aos anos 80, outro mais virado para o rock contemporâneo e um dia mais para o mainstream, em que vamos desde o reggaeton ao brasileiro, português ou mesmo internacional. Tem sido assim ao longo dos anos e a fórmula tem funcionado porque, no fundo, isto agrada a toda a gente. Temos todas as faixas etárias e em cada dia temos alguma coisa do gosto de cada pessoa”, acrescenta.
No meio de tanta diversidade, entre concertos e as diversas actividades espalhadas pelo recinto, houve aspectos que saltaram à vista e aos ouvidos de cada um, desde os artistas que pisaram o palco principal à aposta na acessibilidade e na inclusão do evento. No próximo ano, o MEO Marés Vivas está de regresso nos dias 17, 18 e 19 de Julho. Enquanto não chegamos lá, eis o que retiramos desta edição.
1. A imortalidade dos Xutos & Pontapés
O rock português não é o mesmo sem eles e um dos destaques do primeiro dia do festival foram os veteranos Xutos & Pontapés, que trouxeram ao Palco MEO um repertório bem conhecido do público e que levou muitos a terminarem de jantar à pressa para poderem ver o concerto. Entre aplausos, Para Ti Maria abriu as honras, dando a energia necessária para uma plateia composta por pessoas de todas as idades – um aspecto que foi, aliás, a imagem deste primeiro dia de festival.
Sempre de sorriso na cara e com muita interacção com o público, os Xutos não se cansaram, nem nós nos cansámos dos Xutos. Houve tempo para sucessos como Circo de Feras, Não sou o único, À minha maneira, Ai se ele cai, a icónica A minha Casinha e uma versão em acústico do Homem do Leme que pôs toda a gente a cantar em uníssono. Num concerto animado, com presença e com a energia necessária, só faltou tempo para ouvir mais clássicos (“E os Contentores? Não cantam?”, comentaram no público).
2. A nostalgia dos Scorpions
Os Scorpions são tão lendários que o vídeo de apresentação reproduzido nos ecrãs do festival, no início do concerto, mostrava 60 anos de carreira com números impressionantes: mais de 5000 concertos, 27 tours mundiais e 83 países visitados. E agora, “they’re coming home”, que é como quem diz, estão de volta a Portugal para um dia que esgotou, em grande parte, por causa deles e que uniu diversas gerações para ouvir rock.
Klaus Meine e a sua banda levaram até ao MEO Marés Vivas um sentimento de pura nostalgia e fizeram as delícias daqueles que se deslocaram até Gaia para os ver e ouvir. É verdade que a voz e energia já não são mesmas com os 77 anos de idade de Meine – e isso não passou despercebido ao longo do concerto –, mas os Scorpions trouxeram mais do que uma simples actuação: houve nostalgia e um espírito rockeiro incansável, acompanhado de uma produção visual repleta de luzes, imagens, interacção com o público constante e momentos de instrumental onde as guitarras e a bateria ecoaram pelo recinto. Tudo foi pensado ao detalhe para oferecer um momento único ao público, que não desiludiu no momento de cantar alto e bom som sucessos como Send Me An Angel, Wind of Change e, claro, Still Loving You.
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3. O show português dos Quatro e Meia e de Miguel Araújo
Foi um festim de música portuguesa, daqueles sempre bons de ouvir e, arriscamos dizer, um dos grandes momentos deste festival MEO Marés Vivas. Os Quatro e Meia e o cantor Miguel Araújo voltaram a juntar-se e subiram ao palco principal no segundo dia para um concerto repleto de boa energia e sucessos que o público soube cantar de trás para a frente. “Durante as próximas duas horas não há preocupações, nem problemas”, convidaram. E assim foi: o recinto do Marés Vivas ficou preenchido para ouvir e cantar vários êxitos dos artistas, como Bom Rapaz, Dia da Procissão, A Terra gira, Quem És Tu Miúda, Baile de São Simão, Os Maridos das Outras, Olá Solidão e Anda Comigo Ver os Aviões.
Num concerto cheio de energia e qualidade, destacou-se também a sinergia entre todos, a interacção com o público e a descontração dos bons rapazes que estão ali para se divertirem, num momento que vai ficar na memória de muitos, incluindo dos artistas, que assumiram ter sido “uma das noites mais bonitas” que tiveram. Foi a prova de que há, sim, muitos festivaleiros que querem ouvir música portuguesa.
4. Os inesquecíveis Thirty Seconds To Mars
Os Thirty Seconds to Mars foram a grande atracção do segundo dia do MEO Marés Vivas e nem a chuva que se fez sentir durante praticamente todo o concerto demoveu o público de aproveitar o momento. A banda norte-americana trouxe energia, um espectáculo cheio de momentos explosivos, sucessos reconhecidos e, sobretudo, muita interacção com o público. É que o grupo actuou neste festival há 12 anos e fez questão de recordar ao longo do concerto a bonita relação que tem com o público português.
A energia electrizante de Kings and Queens deu início ao espectáculo e Jared Leto não perdeu o fôlego, correndo de um lado para o outro, saltando, puxando pelo público. Seguiram-se músicas como Up in the Air, Walk on Water, Rescue Me, Hurricane, A Beautiful Lie e êxitos como This Is War que mostraram porque é que o dia estava esgotado. A interacção da banda com o público foi constante, com cânticos em uníssono, pedidos para a plateia saltar e até dois momentos em que vários fãs foram chamados ao palco para fazerem a festa em conjunto. Foi mais de uma hora e meia de um espectáculo que pareceu ter durado cinco minutos, tal foi a energia que os Thirty Seconds To Mars trouxeram a Vila Nova de Gaia. Closer to the Edge foi o grande sucesso com que a banda terminou o espectáculo e que pôs o público a cantar a uma só voz. A bonita relação dos Thirty Seconds to Mars mantém-se – e este espectáculo mostrou isso.
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5. Os ritmos latinos de Ozuna
Era um dos artistas mais esperados desta edição e, se dúvidas houvesse, bastou ver a enchente que se formou no terceiro dia do festival e a quantidade de fãs que esperaram durante várias horas, sem arredar pé, pelo concerto do porto-riquenho Ozuna. O cantor de reggaeton e música urbana entrou com toda a energia e ofereceu um espectáculo recheado de ritmos latinos, com tudo a que tem direito: dançarinas, um palco desenhado ao pormenor, jogos de luzes e muitos confetes.
Quase sem pausas entre as canções, seguiram-se hits uns atrás dos outros, desde Frente Al Mar a Dilo Que Tu Me Quieres, El Farsante, Te Bote ou Taki Taki. O público correspondia ao entoar em uníssono cada palavra, e sempre acompanhados de um passo de dança. Entre vários cartazes a mostrar amor a Ozuna, o cantor deu 1h15 de um espectáculo energético, sem parar um único minuto.
6. A festa de Pedro Sampaio
Bem-vindos à festa de Pedro Sampaio. O espectáculo do DJ brasileiro foi uma bonita apoteose para encerrar esta edição do MEO Marés Vivas, com uma panóplia de sucessos que misturam hip-hop, electrónica, pop e funk a ecoar no recinto. Pedro Sampaio era o nome mais esperado do último dia e durante mais de uma hora pôs o público a dançar, a saltar e a cantar cada palavra das músicas que ia passando – que variavam desde canções originais a remixes de sucessos internacionais, como Gasolina, Starships ou Fireworks.
O hit POCPOC abriu o espectáculo e deu a energia necessária para o que se seguiu: No Chão Novinha, Galopa e Bota Um Funk. Entre um grupo de dançarinos vestidos de vermelho e um jogo de luzes frenético, Pedro Sampaio teve sempre uma palavra para o público português e mensagens positivas para dar. Um dos momentos mais aplaudidos da noite deu-se na canção Preversa, quando o DJ chamou seis fãs ao palco, entre crianças e mais velhos, para dançarem em dupla a coreografia que se tornou viral nas redes sociais. Pedro Sampaio transformou o recinto numa autêntica rave e encerrou o festival no meio da multidão, com a bandeira de Portugal nas costas e a dançar ao som de Cavalinho, dando o que o MEO Marés Vivas pediu: uma bonita festa.
7. Os talentos do palco secundário
O palco principal do MEO Marés Vivas captou as atenções, como é natural, mas bem ali ao lado houve também um palco secundário que recebeu vários talentos ao longo destes três dias e que merece também destaque. Ao Palco Moche subiram nomes como a cantora Jéssica Pina, Milhanas, Gonçalo Malafaya, Carol Biazin, Beatriz Rosário, Zarko e o rapper Jimmy P. que, durante várias horas, animaram o festival com energia, qualidade e entrega e entreteram as milhares de pessoas que por ali passaram – propositadamente ou meros curiosos atraídos pela música. A prova de que o talento não vive apenas no palco principal.
8. A acessibilidade e inclusão
Num festival que quer chegar a todos, foi notória a aposta na melhoria da acessibilidade e inclusão ao longo dos três dias do evento. Desde coletes sensoriais e intérpretes de Língua Gestual Portuguesa que estiveram disponíveis para pessoas surdas à distribuição gratuita de cadeiras de rodas, as plataformas adaptadas e os balcões rebaixados, passando pela sala de pausa e pelos kits sensoriais para pessoas neurodivergentes, houve uma aposta em criar mais (e melhores) condições no recinto.
“Mais do que as ações que muitas vezes pomos no terreno, o importante é também que o recinto já esteja preparado de uma forma clara, de forma a que não haja sequer motivo de tema quanto à inclusão. Queremos que a inclusão seja uma coisa automática e natural. É um caminho que estamos a fazer em conjunto com o MEO e os resultados têm sido interessantes”, reforça Jorge Lopes.
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