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Sismógrafo Art Gallery
© Eduardo Martins

Sismógrafo: uma (nova) casa para a arte sem fronteiras

Prestes a comemorar dez anos, o projecto tem uma nova morada. Exposições, workshops e conferências são só uma parte do que o Sismógrafo tem para dar à cidade.

Escrito por
Patrícia Santos
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À terceira, parece que será de vez. Depois de dois primeiros andares, longe dos olhares que passam, na Praça dos Poveiros e na Rua de Alegria, o Sismógrafo mudou-se para o número 318 da Rua do Heroísmo, onde apresenta, desde o Verão, a sua melhor versão até agora. Mas para contar a história deste projecto gerido por artistas que, desde a abertura, oferece uma alternativa ao circuito de galerias comerciais do Porto, é preciso recuar a 2013. Foi neste ano que, inspirada pelo trabalho de figuras como Yves Klein, pintor e fotógrafo francês, e Aby Warburg, historiador alemão, a associação cultural Salto no Vazio começou a imaginar o espaço em que realizaria a grande maioria das suas actividades e programação. A ideia materializou-se, oficialmente, em Janeiro de 2014.

“Depois de cinco anos na Praça dos Poveiros, fomos obrigados a mudar-nos. O contrato de arrendamento que tínhamos acabou e o prédio ia entrar em obras, pelo que tivemos de sair. Já a segunda mudança nada teve a ver com a pressão imobiliária que assola a cidade. Tratou-se mais de uma necessidade. Além de estarmos num primeiro andar, o que nos afastava da rua e, consequentemente, das pessoas que por ela passam, o recinto tinha algumas limitações”, começa por explicar Pedro Huet, um dos nove artistas que, actualmente, compõem o colectivo. 

Entre essas limitações estava a humidade. “Era um sítio muito húmido, o que dificultava a preservação das obras e nos tirava alguma liberdade. A exposição de trabalhos com papel, por exemplo, era praticamente inviável”, acrescenta.

Sismógrafo Art Gallery
© Eduardo Martins

Alguns membros do Sismógrafo já andavam, portanto, à procura de um novo poiso. A confirmação do apoio quadrienal da Direcção-Geral das Artes apenas apressou o processo. A tarefa foi complicada mas, num “golpe de sorte”, acabaram por conseguir concluí-la. O projecto habita agora numa casa com cerca de 240 metros quadrados, que tem na iluminação natural, conseguida através de duas grandes clarabóias, um dos pontos fortes da nova morada. 

O branco das paredes e, sobretudo do chão, é outra das melhorias. “Torna tudo mais neutro, o que simplifica na hora de adaptar o ambiente ao que o momento exige. Ademais, temos uma zona de arrumos e escritório relativamente grande, o que nos permite oferecer melhores condições aos artistas para prepararem as suas exposições, bem como receber instalações maiores em dimensão e impacto”, conclui Huet, que se dedica à produção e montagem.

Rita Senra, responsável pelas mesmas funções, completa: “A acessibilidade e ligação à rua, contudo, é a alteração mais notória. Antigamente, estávamos numa área bastante central, mas acabávamos por passar despercebidos. A maioria das pessoas que lá ia, saía de casa com essa intenção. Agora é diferente. Além disso, há turistas, claro, artistas ligados a formas de expressão distintas e até indivíduos que nunca visitaram uma galeria”.

Sismógrafo Art Gallery
© Eduardo Martins

O novo espaço possibilita ainda a realização de workshops e a criação de uma biblioteca. Para o colectivo, é igualmente importante que este possa ser um local de trabalho, tanto para si como para colegas. “Queremos estar abertos à comunidade. Para tal, também pretendemos desenvolver parcerias, como inaugurações simultâneas, com os outros projectos artísticos que habitam na zona”, adianta Rita.

Até 9 de Dezembro, se passar por aqui vai deparar-se com “Licor-Mãe: Resíduos da Purga Doce”, uma exposição gratuita — como todas as outras — de Dele Adeyemo, resultado de uma residência artística no Funchal. O artista teve o primeiro contacto com a história do açúcar no arquipélago ao revisitar as práticas cartográficas das sociedades europeias e africanas, aquando da investigação para a criação de "The Cosmogony of (Racial) Capitalism”. Nesta obra audiovisual, Adeyemo assinala o papel da ilha no enraizamento do capitalismo como processo ecológico global e como propulsor de transformação das noções de raça. A propósito da residência artística, aprofundou essa transformação através da investigação dos métodos empregues na produção do açúcar e do vocabulário utilizado neste contexto, numa aproximação e “articulação material que revela as hierarquias raciais e ecológicas presentes na estrutura do capitalismo”.

Rua do Heroísmo, 318. Qua-Sáb 15.00-19.00. Entrada livre

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