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Habitat - Terra e Fogo

  • Restaurantes
  • Foz
  • preço 2 de 4
  1. Restaurante, Cozinha Portuguesa, Habitat
    ©DRHabitat
  2. Restaurante, Cozinha Portuguesa, Habitat
    ©DRHabitat
  3. Habitat
    © DRHabitat
  4. Restaurante, Habitat, Couve-flor confitada em caril com alcaparras e avelãs
    ©DRCouve-flor confitada em caril com alcaparras e avelãs do Habitat
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A Time Out diz

Quem terá sido Chico, o Chico Fininho? Pensava nisso já a chegar a pé vindo da Baixa, encostado aos jar dins da Cantareira, o Douro quase a sumir-se no mar. Que sorte esta paisagem, aqui já planície, do outro lado a Afurada e o Cabedelo tão nítidos, deste lado garças, pescadores sem peixe, joggers e um grupo de amigos num piquenique de Super Bock na mão. Como seria uma paisagem assim com uma trip de heroína, como a que levava sempre o Chico, nas suas deambulações “da Cantareira à Baixa, da Baixa à Cantareira”?

E eis que chego ao meu Habitat, ainda com a letra de Carlos Tê na cabeça, toda ela um portento literário, extraordinária raridade no cancioneiro nacional. Não encontro o Chico, naturalmente. Os anos 80 já lá vão e a Cantareira agora é outra, feita de restaurantes bonitos e pessoas sem speed. Aos almoços, juntam-se ali executivos da Baixa para um almoço relaxado e vizinhos da Foz e do bairro, um ambiente diverso de gente mais velha e juventude a aproveitar o último suspiro do tempo ameno.

Antes da comida, só um breve contexto sobre o restaurante. O Habitat Terra e Fogo é dos mesmos donos do Reitoria, como sabeis um valor seguro de bem comer, há tantos anos a manter a consistência. No Reitoria, sempre se trabalhou com fogo e grelhas, esse novo elixir da restauração sofisticada, tendência de 2020 que a Covid suspendeu, mas que ali sempre foi combustível de eleição. No Habitat também há fogo, há ainda mais fogo, aquecendo quer peças grandes de carne e peixe, como a entrecôte de meio quilo e o robalo inteiro (no piso de cima), quer pratinhos de petiscos para partilhar (porquê chamar-lhe “tapas”?!), como a couve-flor chamuscada com creme de caril e avelãs, um prato que nos atira para o Líbano e para a felicidade (no piso de baixo).

Já aqui se percebe que, tal como no Reitoria, aqui prevalece o mesmo conceito de ter cartas diferentes para cada piso, sendo certo que nos dois almoços que lá fiz só se ocupava o piso térreo. A esplanada sobre o empedrado é muito agradável, o bucólico eléctrico a passar (pena os carros estacionados em cima das mesas), do outro lado o rio como um espelho descendo devagar para o oceano. Mas é lá dentro que o Habitat se destaca da concorrência, com os seus tectos altos, misto de exuberância tropical e a elegância de um café de Paris, tudo muito bonito e confortável. Acresce a própria natureza do edifício, dois pisos numa esquina bicuda. Ficam lindas as salas de esquina, nesse recorte cheio de janelas, sendo que, no piso de baixo, as mesas vão até às portadas da rua, ainda escancaradas ao Outono.

Sentei-me aí e aí souberam-me bem os sabores frescos da salada de abacate com polvo, troços do molusco frio mas tenro, por baixo colchão do dito fruto ensopado num vinagrete de cebola roxa e alcaparrão (aquelas alcaparras em forma de azeitona grande). Muito saborosos também os camarões numa bisque com milho e tomate cereja confitado, sem pele; e as lulas com funcho, tudo emaranhado numa promiscuidade boa com a esmagada de batata.

A terminar, optou-se pelo folhado de nectarina com gelado e amaretto, fresco e estaladiço.

Em síntese. Há boa comida e boa onda neste Habitat, que merece nova visita ao piso superior. Falhas apenas no produto, quer nas lulinhas sensaboronas (semelhantes a essas congeladas vindas de águas longínquas), quer nos camarões que, apesar de semi- descascados, eram de calibre curto para a grelha e para a exigência a que as gentes do Reitoria nos habituaram. Como diria o Chico Fininho, maus hábitos.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Rua do Passeio Alegre, 350
(Cantareira)
Porto
4150-003
Preço
20-30€
Horário
Ter-Dom 12.30-23.00
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