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Wandson Lisboa: “Sou o ídolo mais acessível de Portugal"

Ficou em êxtase quando lhe pedimos para ser a capa da revista de Junho. E fez pose assim que lhe apontamos a lente. Senhoras e senhores: este é Wandson Lisboa, brasileiro conquistador de portugueses, e um dos instagrammers mais divertidos da internet

Escrito por
Mariana Morais Pinheiro
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Aceitaste fazer a capa da revista deste mês, vestido de São João. Podemos afirmar que és um ídolo acessível, tal como fazes nas tuas stories do Instagram quando encontras um famoso simpático?

Exactamente, sou o ídolo mais acessível de Portugal [risos]. Acho isto engraçado, porque eu nunca busquei fama. Eu só queria fazer o que eu gostava realmente de fazer, sabe. E as pessoas ficam um bocado assustadas quando eu falo directamente com elas. Eu sou tranquilo, eu brinco com isso do ídolo acessível porque uma vez estive numa festa grande e uma pessoa, que era um grande ídolo para mim, não me tratou assim tão bem. E depois encontrei-me com o Rodrigo Santoro e muita outra gente de fora e foram superacessíveis e eu falei: “Meu Deus, um ídolo acessível.” É isso.

Se não estavas à procura de fama, como é que isso aconteceu?

Cheguei ao Porto em 2010 — pode parecer um bocado pedante dizer isto, mas eu sempre quis que as pessoas olhassem para algum material meu, para alguma coisa minha, consistente visualmente, e percebessem logo que me pertencia, a nível gráfico, digital, de paleta de cores ou de ideias. Ser reconhecido por aí – e depois aconteceu aquela cena do The Huffington Post [que em 2015 o considerou um dos instagrammers mais criativos do mundo] que toda a gente já está cansada de saber e não vale a pena sequer ir por aí. Eu brincava com o que fazia e quando menos esperava, as pessoas começaram a reconhecer-me pelo meu trabalho. Foi uma fase muito engraçada, ainda é, porque eu não estava à espera do twist que a minha vida deu. Quando cheguei cá (eu nunca disse isto), não contei aos meus pais as dificuldades pelas quais passei. Queria vir fazer o mestrado e a pós-graduação em design gráfico, queria mostrar para o pessoal do Maranhão e para os meus pais que conseguia. Estava com uma sede de dizer: “Olhem, eu sou bom.” Eu estava num trabalho em que as pessoas não acreditavam muito em mim e estas mesmas pessoas já me mandaram mensagens, lá do Maranhão, a perguntar se eu queria voltar para assumir um cargo mais importante. É preciso a gente lembrar o passado, prever o futuro, mas sempre com o pé no chão. É preciso perceber qual é o nosso caminho, a nossa evolução, de forma natural, sem pisar ninguém. No meio disto tudo só posso agradecer e tentar ser um ídolo acessível [risos]. Isto nunca foi pela fama, mas sim pela vontade de fazer uma coisa que eu gosto, que é brincar.

Que dificuldades foram essas?

O frio foi uma das principais. Mas a parte financeira também foi complicada. Eu achava que podia abraçar tudo o que queria com o dinheiro que tinha guardado e não foi assim. Estava a morar numa casa no Campo 24 de Agosto. Um dia, uns amigos vieram visitar-me e disseram: “Estás a morar em condições insalubres, Wandson. O que é que se está a passar contigo?” Eu não queria dizer aos meus pais. Queria vencer aquilo sozinho e resolver tudo do meu jeito. Por ser bom na faculdade, não sei, fui convidado para ir trabalhar para um lugar. Desse lugar fui para outro, depois apareceu o Canal Q, agora sou um dos colaboradores da RTP e trabalho para a Antena 3. É só incrível. Por isso não vale a pena ficar a remoer o passado quando podes abraçar agora o que te está a acontecer. Estou a fazer um exercício de tentar ser cada vez mais humilde, cada vez mais boa pessoa.

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Já sabemos que toda a gente sabe, mas a notícia do The Huffington Post deu uma reviravolta à tua vida...

Deu e foi logo na altura. Acho que o pessoal do Primavera Sound, da Sumol, estavam de olho. O Primavera Sound chamou-me para fazer os conteúdos digitais deles, numa altura em que o Instagram não era assim tão desbravado aqui em Portugal. O Primavera era aquele festival ao qual eu queria ir, mas nunca tinha dinheiro, então, quando me convidaram, na minha cabeça era só: “Eu vou ver o festival de graça.” Esqueci que ia trabalhar, para mim estava a brincar. Sempre gostei muito de pensar nas coisas, de brincar com elas, deixar tudo pronto, sabe, mentalmente pronto, campanhas e essas cenas todas. E de repente estava com a Patti Smith do meu lado, sem poder fazer nada, e a ter de ser muito profissional. Foi só incrível.

Para quem não anda atento às redes sociais, se é que isso ainda é possível, como descreverias o teu trabalho?

Acho muito pedante o que vou dizer, mas acho que sou criativo. Uma pessoa que cria ideias. Gosto de editar, gosto de desenhar e de pensar. Poder concretizar e materializar as coisas que eu idealizo é muito bom para mim. Pensar, concretizar e abraçar as coisas. Estas são as três etapas do meu trabalho.

E em que é que te inspiras?

Parece tanga o que eu vou dizer, mas eu me inspiro na minha família. Fui criado pelos meus avós a vida toda. O meu pai e a minha mãe me tiveram quando eram adolescentes e não tinham condições de me criar. A minha avó era muito imaginativa, o meu tio, a quem eu chamo de pai, o Cadinho, também. Nesse mundo era-me permitido ser quem eu quisesse, como eu quisesse, sem muralhas, sem redes, sem nada. Olhando agora para trás, enquanto adulto, acho mágico e não estou a romantizar. Se eu queria um aniversário de palhaços, tinha; se eu queria uma festa do Flamengo, tinha. Ter brinquedos era mais difícil, mas a liberdade lá em casa era muito grande. Éramos uma família de classe média/baixa, em São Luís, uma cidade que nem era muito rica, nem muito pobre.

Era a tua mãe que montava os cenários para os teus aniversários. É daí que vem a tua veia criativa?

Eu acho que sim. Já falei disso mil vezes, mas quando ela faleceu eu fiquei desesperado, não fazia ideia de como iria ser a minha vida. Estava mesmo na merda. Ela era das pessoas em quem mais confiava, que eu mais amava, por quem mais carinho tinha. Não fazia ideia de como superar uma perda tão grande. Então, pensei: “Eu posso homenagear mamãe de alguma forma. Vou montar um cenário como ela montava nos meus aniversários.” Tentei amá-la em vida e agora amá-la lá no céu. A minha mãe faleceu há cinco anos, eu não a vejo há seis. Odeio mostrar fragilidade, mas acontece. Chorar em casa, sorrir na rua, sempre! O meu aniversário é em Setembro e em Janeiro ela começava a pensar em comprar esferovite e papéis para criar tudo. Em adulto tu vês isso, queres dar amor de volta e não consegues, então tentas homenagear.

Tens uma profissão do futuro, como se costuma dizer. És um influencer. Vês-te assim?

Odeio essa denominação porque é muito abrangente. Prefiro dizer que sou um criativo, que é uma profissão do futuro e que diz muito sobre o passado. A evolução é vasta. Não me sinto assim tão influencer, não tenho essa capacidade de influenciar. Um influencer é uma pessoa que segura um produto ou que tenta mostrar qualquer coisa, e eu não me vejo encaixado nessa categoria. Não porque me queira sentir mais especial do que essas pessoas, mas, caramba, eu estudei [risos].

Então, quando trabalhas com marcas o que é que fazes?

Faço minicampanhas. Não quero só segurar um produto. Gosto de contar uma história, criar uma narrativa, que é o que me dá mais gozo. Tenho preguiça em segurar um produto.

As tuas stories dão trabalho a fazer...

Dão, sim. E cada vez dão mais, para que fiquem bem editadas, bem organizadas. Parece mentira, mas demoram uma semana a fazer, porque o processo começa no desenho, depois crio os elementos [que integram a imagem], de seguida fotografo e, no fim, edito o mínimo possível. Faço muito desenho, do desenho passa para o material, do material passa para o visual. Cada post tem de ser uma história, não é só um post.

Mas quando fazes stories, alegres, também influencias pessoas.

Já recebi mensagens de pessoas a dizerem-me que eu tinha mudado o dia delas. Eu acho o peso disso muito forte. Centenas de mensagens a dizer: “Obrigado por ter melhorado o meu dia.” Eu gosto de mostrar as coisas do dia-a-dia, as dificuldades, e rir delas. Eu não vou fazer stories do género: “Olha aqui, olha aqui, eu no hotel tal.” Por outro lado, tenho por trás um pai muito protector, que às vezes liga em desespero para dizer: “Não brinca com a comida” ou “Apaga isso já, o povo português não vai entender”. Eu não apago nunca [risos].

Quando te falámos da possibilidade de seres a capa desta revista, ainda para mais nestes moldes, o que é que te passou pela cabeça?

Eu só pensei: “Meu Deus, eu vou brilhar no Maranhão. Vou mandar essa foto para todos os meus parentes lá em São Luís e eles vão perceber que as coisas estão dando certo aqui na Europa. Pensei no meu pai, nas minhas tias, nas minhas primas, no pessoal da rua e em comprar para aí uns 500 exemplares e mandar tudo para o Maranhão.” E depois havia ainda uma ovelha bebé. “Vamos a isso”, pensei. Porque eu não gosto de coisas simples. Confesso que fiquei mesmo feliz, até porque estava um bocado em baixo, não se estava a passar nada a nível de trabalho e aí você ligou: “Oi Wandson, capa da Time Out”. E eu: “Vamô, estamos juntos”. Só pensava no pessoal do Maranhão.

Pensas em voltar?

Penso sim, mas só de férias. Tenho muitas saudades de São Luís, mas agora como estou cheio de trabalho não consigo parar. Mas estou com saudades do Maranhão, sim. Pelo amor de Deus: um beijo para o Maranhão!

Estamos em época de Santos Populares, vestiste-te de São João, presumo que gostes da festa...

Esquece Natal, esquece Ano Novo, o melhor dia para mim, desde sempre, desde o Maranhão, foi sempre o dia de São João. Eu tenho fotos com a minha mãe no São João de lá, que é muito diferente daqui, mas a festa é a mesma. O São João no Porto é só das melhores coisas que eu vi na minha vida. Ver o fogo é apaixonante, é um carnaval fora de época. E é, sem sombra de dúvida, uma das melhores épocas do ano. Eu sou mesmo feliz no São João daqui. Acho que estava escrito.

Como seria um dia perfeito no Porto?

© João Saramago

Acordava, comia qualquer coisa na Tavi, sentava-me de frente para o mar, na Foz (eu adoro o mar), e tentava ver o Maranhão do outro lado. Pegava a bicicleta, ia para o Parque da Cidade dar uma volta e depois almoçava no Maus Hábitos, porque é barato e eu adoro, ou, então, comia um preguinho no The Dog, ao lado da Casa da Música. A meio da tarde ia beber um copo ao Aduela, para dar aquela paz. E, ao fim do dia, comia uma francesinha no café Nelma, que fica em Faria de Guimarães. Não há outra francesinha que me agrade tanto. É tão genuíno, e tão ‘não quero ser wannabe’. É perfeito.”

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