Playlist Time Out: no fim do mundo, a nova vida dos Xutos

A primeira canção a conhecer-se da nova vida dos Xutos & Pontapés, escrita já sem Zé Pedro, tem som negro e espaço ampliado entre os instrumentos. A pulsação da bateria e os cenários pintados por teclas (mais notórias na versão de estúdio do que no vídeo apenso) são as pedras mais salientes num tema breve e em forma de crescendo, que só mostra todo o jogo instrumental ao fim de dois minutos e meio. Um regresso inspirado, com versos abertos a múltiplas leituras: “Já fui ao fim do mundo/ Só faço sombra onde estou/ Dá-me só mais um segundo/ Pra saber onde vou/ Porque esse poço sem fundo/ Secou.”

A cantora, compositora e actriz britânica Alexandra Burke deu-se a conhecer em 2008 vencendo o concurso televisivo The X Factor e isso, em alguns círculos, é obstáculo intransponível para a apreciação das suas qualidades. O resto do mundo, por outro lado, terá percebido que se estava perante uma intérprete de excepção logo no álbum de estreia, Overcome, de 2009, ou antes, com uma versão de "Hallelujah" que foi um sucesso tremendo. Truth Is, o terceiro álbum agora saído, inclui esta exemplar leitura de um tema do clássico Moon Safari dos Air. Uma versão que demonstra autoridade, sabedoria na instrumentação primaveril e paciência na progressão do tema.

Se as produções de The Weeknd tivessem mais espessura, saliva e cor, não andariam longe dos delírios melódico-texturais das canções do londrino Uzoechi Osisioma Emenike — e a sensualidade descomplexada de "Tongue" é a prova mais recente. Apesar de cantar, compor e produzir, para si e para muitíssimos outros, desde os 17 anos (isto é, desde 2012), ainda falta a MNEK um álbum em nome próprio, algo que se pode materializar nos próximos meses.

Olly Alexander, vocalista dos Years & Years, já descreveu a  luxuria de "Sanctify"como um abraço ao híbrido pop-r&b dos tempos de "I'm a Slave 4 U" de Britney Spears. O que bate certo, embora numa versão mais para adultos. Um tema do segundo álbum do trio, apalavrado para 2018.

Mais pop dançável, sombria e resiliente em partes iguais saída do óptimo Record. O vídeo, com toda a palidez, nuvens e tijolos a que se tem direito num subúrbio nas ilhas britânicas, é também, obra de Tracey Thorn.

Por um lado, a rugosidade e o gosto pela alternância entre ruído, silêncio e melodia da indie-pop elevada a forma de arte pelas Breeders. Por outro, as arestas arredondadas a golpes de teclado da pop-sem-prefixos. A 30 de Março chegará Yesterday Was Forever, o quarto álbum de Kate Nash.

Para terminar, uma espécie de ovni. Benito Antonio Martínez Ocasio, aliás Bad Bunny, é um jovem e bem sucedido cantor porto-riquenho que em "Amorfoda" leva o preceito do trap (ou latin trap), já de si pouco dado à pirotecnia, a um extremo possível de minimalismo: não mais do que uma voz moldada a auto-tune e uma sequência repetida de quatro acordes de piano. O vídeo é igualmente soberbo — um plano-sequência que pode ser lido como um instante de rutura emocional com cores quentes, vivas, crepusculares, e espantosa linguagem corporal.