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A gravura do mundo está no interior do Douro até 31 de Outubro

Até 31 de Outubro, a X Bienal Internacional de Gravura do Douro leva 16 exposições a dez localidades da região. Falámos com o curador Nuno Canelas.

Escrito por
Maria Monteiro
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Como acontece com o interior em relação às grandes cidades, também a gravura é frequentemente desvalorizada e esquecida face às demais expressões artísticas. A sua riqueza milenar fica, muitas vezes, confinada aos círculos de quem a pratica e ensina, como faziam Nuno Canelas e Daniel Hompesch no Núcleo de Gravura de Alijó, que estes artistas plásticos fundaram na viragem do milénio. Também por essa altura, chegava ao fim a Bienal de Gravura da Amadora, que teve sete edições entre 1988 e 2000. 

“Isso fez com que pensássemos numa bienal que lhe desse continuidade”, recorda Nuno Canelas, curador, natural de Alijó. Em 2001, a I Bienal Internacional de Gravura do Douro instalou-se na vila duriense para promover a gravura e descentralizar a arte e a cultura. A primeira edição recebeu 318 obras de 183 artistas oriundos de 19 países, prova de que a dupla de gravadores luso-belga tinha feito a aposta certa. Passados 20 anos, a X Bienal do Douro é uma adulta que já correu mundo e trouxe souvenirs da viagem para toda a região.

Até 31 de Outubro, há 1300 obras de 625 artistas, oriundos de 64 países, para ver em dez localidades do Douro Vinhateiro: Alijó (Biblioteca Municipal, Piscinas Municipais e espaço público), Celeirós (Quinta do Portal), Favaios (Museu do Pão e Vinho), Régua (Auditório Municipal e Museu do Douro), São Martinho de Anta (Centro Cultural Miguel Torga), Vila Nova de Gaia (Convento Corpus Christi), Vila Real (Teatro de Vila Real), Bragança (Centro Cultural Adriano Moreira), Foz Côa (Museu do Côa) e Chaves (Expoflávia).

À excepção da primeira edição, a bienal escolhe os artistas por convite e não por concurso. Para chegar ao leque mais diverso possível de artistas e obras, contou este ano com a ajuda de 12 comissários “espalhados um pouco por todo o mundo” no processo de selecção. Apesar do formato, “esta não é uma bienal elitista”, reitera Nuno Canelas. “Temos artistas consagrados, mas também abrimos as portas a jovens e estudantes.”

Fábio Morales
© Fábio Morales

Certo é que todas as bienais contam com, pelo menos, um nome sonante no alinhamento, a quem é dedicada uma exposição antológica pelo seu contributo no panorama artístico contemporâneo. Silvestre Pestana (n. 1949, Funchal) é o homenageado deste ano, depois de em Janeiro ter recebido o prémio AICA 2019 da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte. É no Museu do Côa que se mostra fotografia, colagem, escultura, instalação, performance e poesia experimental realizadas entre 1972 e 2019. 

Esta amostra permite conhecer o trabalho híbrido e disruptivo com que se destacou na cena artística portuguesa dos anos 1970, a experimentação que se seguiu com o recurso ao vídeo e ao computador, e a mistura de analógico e digital nos anos 1980, ou a abordagem, em anos mais recentes, da relação entre sociedade, arte e tecnologia através de um particular interesse pela luz e performance. A exposição em Foz Côa integra obras pertencentes ao artista e à Colecção de Serralves.

É precisamente no Museu do Côa que está o núcleo central da bienal – faz todo o sentido que assim seja, já que fica ali “o maior santuário de gravura rupestre do mundo” –, onde podem ser vistas a exposição colectiva principal e uma exposição individual de Derek Michael Besant, “artista canadiano com uma técnica inovadora nas artes gráficas”.

É do cruzamento entre a gravura tradicional, gravura digital e novos media que se faz a X Bienal, que dá primazia à forma em vez de ao conteúdo. Tirando a exposição em Gaia, “um marco dos 75 anos do final da II Guerra Mundial”, não há propriamente um tema. “Preferimos não direccionar a mente dos artistas e ter diversidade”, nota o também director.

Para Nuno Canelas, levar a arte para o interior não tem só desvantagens. Se na capital é mais fácil conseguir financiamento e divulgação, “a oferta é tanta que se torna difícil criar coisas novas”. “Estar aqui permite-nos expandir o evento para municípios que têm poucas iniciativas como esta.” No futuro, espera-se que o projecto culmine na abertura de um museu de gravura. Já há 3000 peças à espera de serem penduradas.

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