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Batalha - Centro de Cinema
© Eduardo Martins

Batalha: o histórico cinema, há um ano devolvido ao Porto

É um edifício emblemático da cidade e renasceu há um ano, depois de mais de uma década encerrado e a precisar de profundas obras de reabilitação. O Cinema Batalha quer ser hoje um ponto de encontro para todos os que têm uma paixão em comum: a sétima arte.

Escrito por
Ana Catarina Peixoto
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Localizado numa das principais praças do Porto, e envolvido na vivacidade e frenesim que chegam da Rua de Santa Catarina, o mítico Cinema Batalha está vivo e recomenda-se. A sua história faz, inevitavelmente, parte da história do cinema, também ele com os desafios da passagem do tempo. Uma casa do cinema, um espaço de memórias, mas também de projectos de futuro. Depois de mais de uma década de portas fechadas, o Batalha ganhou uma nova vida no final de 2022, quando reabriu à cidade e devolveu um projecto acarinhado por muitos e que quer ir além da exibição de filmes. 

Guilherme Blanc, director artístico do agora denominado Batalha Centro de Cinema, destaca um primeiro ano de reabertura que serviu para explicar um novo rumo. “Aquilo que se quis fazer foi, por um lado, explicar o projecto e qual o nosso pensamento programático. Queríamos também conseguir conectar públicos com aquilo que estávamos a fazer, criar entusiasmo em torno das nossas ideias de programação”, explica à Time Out. A missão do renovado Batalha, acrescenta, é “ser um centro cultural para o cinema”, até porque “há muita coisa à volta da exibição”.

Batalha - Centro de Cinema
© Eduardo Martins

Desde a sua reabertura, a 9 de Dezembro de 2022, a programação do Batalha Centro de Cinema contou, além das exibições de cinema analógico e digital, com ciclos temáticos, debates, exposições, retrospectivas e focos em práticas contemporâneas, programas para as escolas, bem como ligações entre o cinema e outras artes. Mais do que um simples equipamento municipal, o objectivo é que seja um espaço criado para ver, discutir e inspirar o contacto com o cinema, num edifício que integra a memória colectiva da cidade do Porto.

No que toca a resposta do público, a experiência “correu muito bem”, tendo sido “um ano muito vivo, muito participado e com grande intensidade programática”. Entre quem ocupou as salas do Batalha, houve um “público clássico cinéfilo, que regressou ao Batalha e ao cinema, que sempre viu cinema e que já vinha com regularidade a este espaço”, mas surgiu também, com força, um novo tipo de público: “um público extremamente jovem, que está a descobrir cinema na sala” e que tem vindo a ser aposta crescente do projecto.

Batalha - Centro de Cinema
© Eduardo MartinsA equipa do Batalha Centro de Cinema, chefiada por Guilherme Blanc (ao centro)

Na programação mais participada, destacam-se os ciclos temáticos e as retrospectivas, mas também os espaços de formação e de encontro de públicos, desde cursos de crítica de cinema a grupos de cinefilia que se reúnem nesta casa. “São coisas que não têm a ver com a exibição em si, mas que dialogam com ela. E esses projectos foram um enorme sucesso, o que demonstra também este perfil que queríamos que o Batalha tivesse, de uma organização cultural para o cinema, mas que surge como um espaço cívico e comunitário”, acrescenta.

Uma batalha com mais de 70 anos

Olhar para o Batalha dos dias de hoje é percorrer um caminho de 77 anos, com várias polémicas e histórias pelo meio. Chamava-se Salão High-Life quando se começou a dedicar à exibição de filmes, no início do século XX. Um na Rotunda da Boavista, outro na Cordoaria. Só mais tarde, em 1947, nasceu o edifício do Cinema Batalha tal como é conhecido hoje, projectado pelo arquitecto Artur Andrade e propriedade da família Neves Real. 

Depois de ter funcionado como sala de cinema até 2000, o edifício esteve encerrado até 2006, quando reabriu como espaço cultural através de uma parceria entre a Câmara Municipal do Porto e a Associação de Comerciantes do Porto que, em 2010, acabou por encerrar as actividades naquele espaço, alegando prejuízos avultados. Dois anos depois, o Batalha foi classificado como Monumento de Interesse Público.

Batalha - Centro de Cinema
© Eduardo Martins

O novo capítulo começou em 2017, altura em que o edifício foi arrendado à Câmara Municipal do Porto por um período de 25 anos, estando nas mãos da autarquia a sua reabilitação e actividade. O Batalha estava devoluto e a precisar de obras profundas e, por isso, em Novembro de 2019 foi iniciada uma empreitada de requalificação de mais de cinco milhões de euros, com o projecto de arquitectura a cargo do Atelier 15, de Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez.

Três anos depois, nasce o Batalha Centro de Cinema, voltado para acolher toda a cultura cinéfila e sem esquecer o papel cultural e histórico que tem na cidade. O espaço conta com duas salas de projecção para a exibição de formatos digitais e analógicos – a Sala Grande (341 lugares) e a Sala Estúdio (126 lugares) –, além de um espaço de galeria dedicado às artes visuais, uma biblioteca especializada em cinema, uma mediateca dedicada ao património fílmico do Porto e uma cafetaria, onde antes estava localizada a Sala Bebé, um salão de chá de referência.

As obras de reabilitação deixaram a descoberto mais uma história. Os frescos assinados por Júlio Pomar, alusivos às festividades do São João, resistiram à censura da PIDE, a polícia política do Estado Novo, que no final dos anos 40 mandou cobrir os painéis com várias camadas de tinta, devido à oposição do pintor ao regime de Salazar. Os murais conseguiram ser recuperados e são agora uma das atracções do edifício.

"Queremos que o Batalha fique aqui por muitos anos” 

O regresso do Cinema Batalha, sublinha Guilherme Blanc, foi acarinhado pela cidade e a vontade é que a comunidade “sinta que este é um projecto de futuro, que está em construção e que as pessoas fazem parte dessa mesma construção”. “Queríamos que o público se sentisse bem dentro do projecto, que é um espaço aberto, disponível e excitante, onde se podem divertir e aprender cinema. Era essa construção que queríamos atingir e acho que conseguimos.”

Entre a programação para este ano estão projectos como os “Tesouros do Arquivo”, um programa que propõe a redescoberta de obras recentemente restauradas por laboratórios, arquivos e cinematecas importantes da indústria e que, a partir de Fevereiro, ganha duas sessões mensais. A prioridade é também continuar a apostar numa programação abrangente e que permita reforçar o Batalha como centro cultural.

Batalha - Centro de Cinema
© Eduardo Martins

“O que é importante é que o Batalha exista como um espaço cívico, um espaço comunitário em que as pessoas podem não estar a estudar ou a ver cinema, mas estão, por exemplo, ao lado de revistas e livros de cinema na nossa biblioteca e que, talvez num intervalo do estudo, pegam na revista e folheiam e estão dentro de um ambiente contagiante do ponto de vista de paixão pelo cinema. E é isso que queremos.”

Outro desafio é conseguir conciliar o projecto que está presente na memória afectiva dos portuenses com as exigências e as características dos novos tempos, que implicam algumas abordagens diferentes. “O Batalha tem que estar em diálogo com os usos contemporâneos e com uma consciência contemporânea dos nossos tempos. De outra forma, seria uma instituição amorfa. A única forma de o fazer é pensar no que é que as pessoas precisam, hoje, dentro de uma instituição cultural. Que tipo de questões é que uma instituição cultural deve discutir hoje? Como é que o cinema deve ser programado?”, questiona.

Além da programação própria do Batalha, o edifício é também casa de alguns festivais importantes para o sector e para a cidade, como o Fantasporto (Festival Internacional de Cinema do Porto), em Março, e o Porto/Post/Doc, no final do ano. Uma vitalidade e um pólo cultural que o Porto reconquistou e que promete não voltar a perder: “Queremos que o Batalha fique aqui por muitos anos.”

Próximas sessões

Quem és tu, Jane B?. Até 22 de Fevereiro
Retrospectiva que acompanha as diferentes fases da carreira de Jane Birkin, actriz, realizadora, cantora, compositora, modelo e activista. 5€

Sessões para Famílias. Até 24 de Fevereiro
Sessões dirigidas a crianças e adultos, pensadas a partir do programa do Batalha: La traversée, de Florence Miailhe (10), e Dragon Inn, de King Hu (24). 2,50€-5€

Tesouros do Arquivo. 1 e 24 de Fevereiro
O programa que propõe a redescoberta de obras recentemente restauradas traz Beyrouth fantôme, de Ghassan Salhab (1), e As Ilhas Encantadas, de Carlos Vilardebó (24). 5€

Tsai Ming-liang, Tempo do Desejo. Até 28 de Fevereiro
A retrospetiva dedicada à obra de Tsai Ming-Liang, um dos nomes maiores do cinema contemporâneo, inclui o premiado O Sabor da Melancia (14). 5€

Batalha Quiz. 27 de Fevereiro
Guilherme Cobretti e Jay Toso testam os conhecimentos do mundo do cinema, na Cafetaria & Bar do Batalha. Grátis

Visitas Guiadas. 3 de Fevereiro
Um roteiro pela história e pela arquitectura do Batalha, sempre no primeiro sábado de cada mês. 3€

Praça da Batalha, 47. Ter e Dom 11.00–20.00, Qua-Sáb 11.00–22.00

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