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Camilo
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Camilo: uma história de amor e perdição à mesa

No novo restaurante do Porto, localizado num antigo ponto de encontro de Ana Plácido e Camilo Castelo Branco, há elementos da cozinha nacional, mas também de outras paragens.

Escrito por
Patrícia Santos
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A literatura está repleta de histórias de amor inesquecíveis. Pelas grandes emoções que despertam em quem as lê ou escuta, não só sobrevivem ao passar do tempo como ao aparecimento de novos romances. Entre esses arrebatamentos que ultrapassaram gerações, destaca-se o de Camilo Castelo Branco e Ana Plácido, que o romancista do século XIX imortalizou em Amor de Perdição. Sendo a escritora casada, a relação dos dois acabou por ser condenada pela sociedade da época, o que resultou numa série de encontros e desencontros, fugas, prisões e julgamentos por adultério. Esta luta contra os preconceitos e convenções sociais da época celebra-se, agora, à volta da mesa, na casa em que vivia Plácido.

Camilo
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Margarida Osório, juntamente com o sócio Bernardo Maciel, são os responsáveis pelo projecto, cujo conceito nasceu um pouco do acaso. “Estávamos à procura de um local para o nosso restaurante quando nos deparamos com este edifício e a sua história. Achámos logo que seria interessante construir algo em torno de duas figuras que marcaram tanto a cidade e a literatura”, conta Margarida, que se iniciou na restauração no Cafeína. Naquele espaço, onde começou como empregada de mesa, não só descobriu a paixão pela área como foi desenvolvendo a vontade de ter algo próprio, onde pudesse “proporcionar experiências inesquecíveis aos clientes”. Também aqui, Osório conheceu Diogo Coimbra, o chef que a acompanha nesta aventura.

“Começámos como colegas de trabalho e, com o tempo, tornámo-nos amigos. Quando recebi o convite dela e do Bernardo, não hesitei. Pareceu-me uma boa oportunidade para criar algo de raiz, com liberdade para ser criativo e arriscar”, diz o profissional, natural de Molelos, no distrito de Viseu.

A carta — que chega à mesa lacrada, numa clara alusão às missivas trocadas entre os amantes nesta morada — distingue-se por não se prender a culturas gastronómicas específicas nem ser cativa de combinações já lembradas pelo sucesso. “Gostamos de misturar sabores e texturas que, normalmente, não se cruzam num mesmo prato. E tanto temos elementos da autêntica e tradicional cozinha portuguesa, como de outros países. Estamos abertos ao mundo, pelo que é possível viajar por locais como a Itália, a França ou o continente asiático”, acrescenta o chef, antes de concluir. “No fundo, apresentamos uma espécie de traição de culturas saudável que resulta em conjugações improváveis e que, dificilmente, se encontram noutro lado”.

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Entre os casos mais tentadores (e curiosos) está a cavala com gaspacho lacto fermentado e tártaro de tomate (13€), a paella socarrat com polvo e aioli de alho negro (60€ para duas pessoas) e o bacalhau com grão-de-bico e molho pil pil (20€). Para quem não gosta de arriscar, o entrecôte maturado por 45 dias (75€ para duas pessoas) é a aposta mais segura. Para cada iguaria, há um vinho recomendado — todos são portugueses —, mas a escolha é sempre sua.

Neste restaurante com 60 lugares, divididos por dois pisos e uma esplanada interior, Camilo não inspira apenas o que vem para a mesa, mas também a decoração. Há bustos e quadros do autor espalhados pelo espaço. Isso e livros, naturalmente.

Rua do Almada, 378. 91 529 9442. Dom-Seg e Qua-Qui 19.00-22.30, Sex-Sáb 19.00-00.00

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